Artes Cênicas Guarda confunde arte com surto, amarra artista e chama o Samu Bailarino apresentava espetáculo em praça pública quando foi levado à força para unidade de saúde

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/10/2017 16:10 Atualizado em: 30/10/2017 17:43

Igor Medina foi sedado e amarrado em maca por oito horas. Foto: Brasil 247/Reprodução
Igor Medina foi sedado e amarrado em maca por oito horas. Foto: Brasil 247/Reprodução

Um bailarino da Cia. Municipal de Dança de Caxias do Sul foi sedado e levado ao pronto-atendimento, no Rio Grande do Sul, após ter uma performance artística confundida com um surto psicótico. O caso ocorreu na manhã do último sábado (27), quando Igor Cavalcante Medina apresentava o espetáculo solo Fim, montagem da 8ª edição do festival Caxias em Movimento, promovido pela gestão municipal, em uma praça pública da cidade.

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O bailarino foi abordado por três guardas municipais e dois socorristas do Samu, que confundiram a atuação com um episódio psiquiátrico. Medina teria tentado explicar que se tratava de uma apresentação artística e que possuía autorização da prefeitura, mas, segundo relato do artista, acabou sendo medicado à força e levado para o Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão). Na unidade de saúde, o bailarino ficou amarrado em uma maca por oito horas, aguardando o atendimento de uma psiquiatra e a assinatura de um laudo conformando que estava lúcido e consciente.

"Estava trazendo assuntos à tona, como o extermínio de pobres no Brasil e de negros pelo mundo. Estava levantando discussões necessárias. Queremos expor o que está acontecendo e buscar uma forma de diálogo, mas eles estavam em estado de vibração e não queriam me ouvir. Só se interessavam em dizer que eu estava surtado", desabafou Medina, em entrevista ao Brasil 247.

"Ainda estou em choque. Como não temos controle sobre as coisas? Como o outro pode ser um objeto de repressão em nossa vida? Uma simples ação de declamar um poema em praça pública. Ser amarrado, internado por surto psicótico, sem falar com ninguém, sem ninguém ouvir o que você está dizendo", lamentou o bailarino, que é natural do Rio de Janeiro e se mudou para Caxias do Sul há um ano e meio em busca de novas oportunidades profissionais.

"Fim: O trabalho aborda a violência e põe o corpo em evidência para trazer à tona as diversas formas de brutalidade do cotidiano, sejam elas físicas ou psicológicas. Os corpos vão sendo envenenados até a total desumanização. Será que já não somos nada mais além de um mero pedaço de carne incapaz de sentir, incapaz de resistir, incapaz de se rebelar?", diz a descrição da performance em material divulgado pelo Caxias em Movimento.

Procurada pelo Viver, a coordenação da Cia. Municipal de Dança de Caxias do Sul informou que não estava autorizada a comentar o ocorrido até a conclusão da investigação. Em nota oficial, a prefeitura de Caxias do Sul disse que "está apurando as informações sobre a abordagem ao bailarino". "A partir desta segunda-feira (30), a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS) começará a ouvir os relatos dos envolvidos para esclarecer a situação e dar os encaminhamentos necessários. Logo os fatos sejam esclarecidos, a prefeitura voltará a se manifestar oficialmente sobre o caso", diz o comunicado enviado à imprensa.

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