Cinema Cineasta dá sermão em ministro: 'Não compare filmes ao seu Facebook' Sérgio Sá Leitão havia dito que os longas nacionais possuem uma quantidade de espectadores inferior ao número de amigos de sua rede social

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/10/2017 21:38 Atualizado em:

Luiz Carlos Barreto e Sérgio Sá Leitão. Foto: Academia Brasileira de Cinema e Agência Senado/Reprodução
Luiz Carlos Barreto e Sérgio Sá Leitão. Foto: Academia Brasileira de Cinema e Agência Senado/Reprodução

O cineasta Luiz Carlos Barreto elaborou uma carta aberta ao atual ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, criticando suas falas sobre o desempenho comercial de filmes nacionais. O ministro havia dito que, do total de 881 longas-metragens produzidos desde 2012, 438 - quase metade - tiveram uma média de 3650 ingressos comercializados. Ele ainda brincou que tem uma quantidade maior de amigos no seu perfil do Facebook.

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"Quero lhe pedir mais respeito e até mesmo um pouco de reverência àqueles que verdadeiramente produzem, dirigem, atuam e dão sua contribuição técnica a magia do cinema. Nunca mais compare filmes com seu concorrido Facebook", pediu o diretor de cinema no texto. O cineasta ainda diz que os números anunciados pelo ministro são de um estudo ainda não concluído. Barreto também classificou as afirmações de Sá Leitão como "precipitadas, inoportunas neste momento em que lutamos pela renovação da Lei do Audiovisual". Ele ainda firmou que a "má performance dos filmes brasileiros" é fruto de um mercado "sem regulação, sem fiscalização, funcionando na base da lei da selva".

O cineasta Cacá Diegues também entrou na discussão ao defender o ministro: "Não podemos ser injustos ou irresponsáveis com alguém como Sérgio Sá Leitão”. "Sei que estou sendo metido, não tenho nada a ver com a carta do Barretão, nem com a gestão do ministro da Cultura. Mas senti necessidade de ser justo e, no momento em que ela está para ser aprovada, proteger um pouco a nossa Lei do Audiovisual de aproveitadores que podem usar as declarações impróprias de um de nossos principais produtores para detoná-la”, disse.

Leia a íntegra da carta:

"Prezado Sérgio,

Suas declarações sobre o fracasso comercial dos filme brasileiros no mercado de salas de cinema são, no mínimo, precipitadas, inoportunas neste momento em que lutamos pela renovação da Lei do Audiovisual. A comparação que você fez dos filmes em seu Facebook é desrespeitosa e desnecessária.
Os números que você anunciou fazem parte de um estudo que o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual está desenvolvendo e não deveriam estar sendo divulgados na imprensa antes que esse estudo esteja concluído.

Já que você não se conteve em manter esse assunto no âmbito da profissão deveria ter ido mais fundo para esclarecer que essa má performance dos filmes brasileiros deve-se a um MERCADO sem regulação, sem fiscalização, funcionando na base da lei da selva ao sabor dos agentes mais fortes (exibidores, distribuidores) que desenvolveram uma politica predatória transformando as salas de cinema em verdadeiros motéis de filmes, com horários fracionados e alteração de programação de uma hora pra outra. Isto para não falar da politica de preços que levou o Brasil a ter um dos maiores e mais altos preços médios do ingresso (US$ 5 dólares) no mundo.

É preciso ter consciência e saber que todas as conquistas e todo caminho percorrido para chegarmos (com fracassos e sucessos) onde hoje estamos, sabendo preservar e ampliar essas conquistas enquanto as instancias governamentais do setor estiveram sob o controle da classe cinematográfica, ou seja, aqueles que fazem acontecer os filmes, o cinema.
Enfim, quero lhe pedir mais respeito e até mesmo um pouco de reverencia àqueles que verdadeiramente produzem, dirigem, atuam e dão sua contribuição técnica a magia do cinema.
Nunca mais compare filmes com seu concorrido Facebook.

Luiz Carlos Barreto".

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