Artes Visuais Bicentenário da Revolução Pernambucana inspira reflexão sobre movimentos sociais da atualidade Mostra critica redução de bandeiras como a de Pernambuco - insígnia da insurgência - a símbolos meramente celebratórios

Por: Alef Pontes

Publicado em: 09/10/2017 14:00 Atualizado em: 09/10/2017 13:59

Movimentos sociais contemporâneos compartilham dos ideais de insurgência e igualdade da Revolução Pernambucana. Foto: MTST/ORG
Movimentos sociais contemporâneos compartilham dos ideais de insurgência e igualdade da Revolução Pernambucana. Foto: MTST/ORG

Marcando o bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817, a Fundação Joaquim Nabuco promove a exposição As bandeiras da Revolução: Pernambuco 1817/2017. Com curadoria de Moacir dos Anjos e do escritor pernambucano José Luiz Passos, a mostra propõe releituras sobre a atualidade da insurgência e traça paralelo com movimentos sociais contemporâneos.

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A exposição parte do princípio de que a bandeira da Revolução de 1817 - que originou a de Pernambuco - chama à luta, buscando dialogar com demandas de igualdade atuais, retirando o símbolo do âmbito celebratório, turístico e até mercadológico. Segundo o curador, a bandeira evoca espaço mais alegre ou traduz o orgulho de ser de determinado lugar: "Isso foi deturpação do símbolo ao longos das décadas, que a transformou em um pedaço de pano inócuo".

"Queríamos fazer uma coisa que não seguisse a linha histórica, mas que indicasse de que maneira princípios que deram início à revolução, à vontade de emancipação e à insurgência sobre uma ordem estabelecida ainda ecoavam hoje", observa. "Não se trata da celebração de um evento passado, que está totalmente deslocado da realidade atual. Existiam demandas específicas que, claro, são do contexto da época, como a redução de impostos. Mas a revolução tratava basicamente de uma insurgência contra um controle externo", explica, traçando um paralelo com as lutas enfrentadas pela sociedade brasileira no atual contexto sociopolítico.

"Luiz Passos tem interesse particular pela Revolução e colecionou documentos que vem encontrando em sebos e na internet", diz. Eles compõem o primeiro dos três núcleos da exposição: textos e gravuras sobre o conteúdo emancipador do movimento. O segundo é composto por trabalhos de 12 artistas visuais que se valem da bandeira como suporte para tratar do Brasil atual. Foram selecionados artistas "cujos trabalhos se relacionam com essa vontade de se insurgir e reivindicar princípios de igualdade".

Há obras de Ana Lira, André Parente, Fábio Tremonte, Frente 3 de Fevereiro, Graziela Kunsch, Jaime Lauriano, Lívia Aquino, Lourival Cuquinha, Marilá Dardot, Paul Setúbal, Traplev e José Rufino. "Muitas reconhecem que os ideais de 1817 foram frustrados e que hoje fazem sentido de alguma maneira porque vivemos uma sociedade desigual, racista, opressora. Outros apontam quais seriam as bandeiras atuais".

A terceira etapa apresenta bandeiras criadas por movimentos contemporâneos que demandam "fazer parte de uma sociedade em que determinados grupos não sejam excluídos", explica. Entre as bandeiras, estão as do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), Ocupe Estelita, Orgulho LGBT, Orgulho Trans e Negro Unificado. "São movimentos que lutam por terra, igualdade racial, de gênero, que trazem outro olhar para cidade, como o Estelita. A exposição aborda a forma como se mobilizam em torno da revolução popular".

Moacir recorda que muitas das demandas foram influenciadas pela Revolução Francesa, de 1789, como a luta por igualdade e justiça, que permanecem presentes nas mobilizações sociais. O mais antigo dos documentos data do ano da insurgência: aquarela da bandeira feita pelos revolucionários.

A mostra fica na Galeria Massangana (Museu do Homem do Nordeste, na Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte) até 3 de dezembro. Visitação de 15h às 19h, e de terça a sexta, das 8h30 às 17h; sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.

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