Diario de Pernambuco
Busca
Performance Atores usam Bolsa Família e mendigos para representar preguiça em shopping 'Nenhuma preguicinha boa será castigada', diz o cartaz de um dos atores. Por baixo da roupa, eles usavam camisas 'em verde e amarelo'

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/10/2017 17:51 Atualizado em: 06/10/2017 21:27

Representações de preguiça e gula na performance Redesenhando o set. Fotos: Facebook/Reprodução
Representações de preguiça e gula na performance Redesenhando o set. Fotos: Facebook/Reprodução
Atores caracterizados como mendigos interpretaram os sete pecados capitais - soberba, avareza, luxúria, inveja, gula, ira, preguiça, heresia e mentira - na performance Redesenhando o set, no Casa Shopping, no Rio de Janeiro, elaborada pela arquiteta Leila Dionizios em parceria com a Academia Vita de Atores. A intervenção foi parte da abertura da exposição Arte + Design e chocou espectadores pela abordagem com as pessoas em situação de rua e o programa social de transferência de renda Bolsa Família, instituído em 2003, no Governo Lula, e destinado a estimular a ida de crianças e jovens de famílias de baixa renda à escola. 

Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre

"Nenhuma preguicinha boa será castigada. Relaxar o corpo e a mente são condições fundamentais para concretizar qualquer processo criativo. Mas trabalhar - e duro - é o grande caminho para toda e qualquer realização pessoal, profissional ou de caráter público e governamental", diz cartaz sobre a preguiça. O pecado foi retratado por um homem segurando placa com a logomarca do programa sentado em um sofá com uma das pernas para cima e fisionomia cansada. Joias, mala com dinheiro em espécie e tornozeleira eletrônica foram outros elementos utilizados nas instalações. As representações foram distribuídas em vitrines de sete lojas diferentes, mas já foram retiradas, pois eram destinadas apenas à abertura, informou a assessoria de imprensa do shopping ao Viver.

Por telefone, dos Estados Unidos, Leila Dionizios defende que a proposta da intervenção era abrir espaço para o debate. "O mendigo não é o mendigo em si, é a situação do brasileiro. São uma demonstração mais literária do que sente a sociedade brasileira e carioca. Qualquer pessoa se sente sem teto, sem segurança, sem escola, sem nada, não precisa ser morador de rua. As pessoas que reclamaram não participaram, por isso não entenderam. É fácil pegar uma foto e julgar sem saber qual a questão. Eu botei o cartão do Bolsa Família e não falei nada. Eu não me posicionei. Eu tenho as minhas convicções, mas não falei nada", diz.

"Por baixo das roupas de mendigo, eles estavam com camisas amarelas e verdes, para representar o povo brasileiro. Na luxúria, é uma mulher com joias, postura. Na avareza, um homem com uma mala de dinheiro. Foram outros milhões de temas que ninguém abordou. Não quero me posicionar contra o Bolsa Família. Isso está na cabeça das pessoas, não na minha. A minha ideia foi abrir o debate. Eu tinha noção do que iria acontecer em relação a críticas. Eu podia ter botado mendigo, cachorro, uma árvore, iam falar que eu estava maltratando a árvore", provoca. Sobre a associação do Bolsa Família com a preguiça e os mendigos, ela rebate: "não está escrito". E prefere não opinar sobre o programa social.

A mostra Arte Design fica em cartaz no espaço até o dia 30 de outubro e tem como tema o diálogo entre arte e design. "Renomados arquitetos e designers de interiores assinam cerca de 70 ambientes com móveis de designers diversos e obras de arte selecionadas pelo crítico de arte e curador Marcos Lontra, mostrando o limite tênue entre essas duas áreas", explica texto de divulgação da exposição.

Acompanhe o Viver no Facebook:




MAIS NOTÍCIAS DO CANAL