Televisão Série da Netflix põe em xeque forma como a polícia obtém confissões de culpa Seriado revê casos solucionados com base em gravação de suspeitos e tem paralelo com o Brasil da Lava-Jato

Por: Tiago Barbosa

Publicado em: 20/09/2017 08:01 Atualizado em:

Glen Sebastian Burns confessou o crime em flagrante armado pela polícia, mas jurou inocência no tribunal. Foto: Netflix/Reprodução
Glen Sebastian Burns confessou o crime em flagrante armado pela polícia, mas jurou inocência no tribunal. Foto: Netflix/Reprodução


Investigações de crimes notáveis têm sido analisadas com lupa em terras brasileiras - sobretudo depois da amplitude alcançada por operações do porte da Lava-Jato. Prováveis tropeços policiais e indícios de parcialidade no exame das pistas são buscados por acusados para apontar fragilidades no processo e contestar soluções desfavoráveis a eles.

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Os aparentes deslizes cometidos no esclarecimento dos delitos - capazes de gerar reviravoltas e fascinar a opinião pública - seduzem o audiovisual com frequência. A série documental The confession tapes, recém-disponibilizada pela Netflix, transforma o assunto em matéria-prima através da revisão de incidentes reais cujos desfechos derivaram de gravações feitas pela polícia.

Criado pela documentarista Kelly Loudenberg, a produção se desdobra em sete partes, com o exame de casos famosos divididos em mais de um capítulo. O seriado entrevista familiares de acusados, investigadores, advogados de defesa e jornalistas envolvidos com os casos para refazer passos da investigação e expor brechas encobertas pelo peso de confissões extraídas dos suspeitos - mesmo quando a admissão da culpa ocorre sob práticas policiais reprováveis, como coação ou manipulação.

A carência de provas para atribuir o assassinato de uma família inteira a um dos filhos e ao amigo, por exemplo, é suprida pela confissão dos dois obtida de forma heterodoxa pela polícia canadense e validada por autoridades norte-americanas. Para gravar a admissão, investigadores se passaram por criminosos e forjaram encontro com a dupla.

A gravação incriminadora ocorreu durante uma conversa informal e a partir da tentativa dos dois de contar vantagem diante do novo grupo de "amigos". A defesa tenta desqualificar a veracidade dos relatos com base em indícios extras de autoria, plenamente desconsiderados pela polícia e pela Justiça. Em outro caso, o companheiro da mulher assassinada é coagido a assumir a culpa pelo crime após interrogatório de horas, por três dias seguidos.

A série é uma contestação inequívoca das boas intenções e da infalibilidade da polícia. É um clamor pela necessidade de munir as investigações de métodos irrefutáveis na hora de atribuir culpas - sob pena de a confissão irregular inutilizar a dúvida benéfica ao réu e punir possíveis inocentes.

Embora de décadas passadas, as situações revistas se mostram atuais pela reincidência das práticas investigativas e mantêm paralelo com o período turbulento vivido pelo Brasil, onde delações premiadas são fechadas -  sob bênçãos da Justiça - com réus e suspeitos privados de liberdade.

O conteúdo da série impõe uma reflexão imediata: quão verdadeira pode ser uma confissão (ou delação) colhida de forma ilegal?

Veja o trailer da série:



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