Entrevista Saulo canta a natureza, o amor e a esperança em nova turnê Artista apresenta Azul e o Sol em cenário marcado por "silêncio visual" e show com direito a três textos autorais

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/09/2017 09:00 Atualizado em:

Com direção geral de Sandro Lopez e direção criativa de Carlos Pazetto, ele transforma Azul e o Sol em espetáculo com declamação de textos e axé music. Foto: Gilton Rosas/Divulgação
Com direção geral de Sandro Lopez e direção criativa de Carlos Pazetto, ele transforma Azul e o Sol em espetáculo com declamação de textos e axé music. Foto: Gilton Rosas/Divulgação

Aos 40 anos, o cantor Saulo namorou as palavras e as transformou em poesia musicada para a nova turnê Azul e o Sol, com canções do terceiro e homônimo disco da carreira solo. O artista baiano apresenta o projeto neste sábado (23), às 14h, no Ecomariner (Rua das Oficinas, 15, Pina), na festa Réveillon Ansioso - também com Gabriel Diniz, Rafa Mesquita além dos DJs José Pinteiro e Korossy. Os ingressos custam R$ 180. Em entrevista ao Viver, Saulo revelou como concebeu o novo disco, entre erros e acertos, musicando textos e dando melodia aos seus pensamentos em faixas que falam de natureza, amor e esperança.

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Com direção geral de Sandro Lopez e direção criativa de Carlos Pazetto, ele transforma Azul e o Sol em espetáculo com declamação de textos e axé music. Para isso, criou um cenário branco, com espelhos e jogo de luzes e sombras. "A gente chamou de silêncio visual. Fugimos do excesso de informações, como a gente está vendo hoje em dia. Vamos tirar tudo e puxar a partir da palavra. Ter três textos no meu show, para mim, é glorioso. Há quem ache exagero", afirma o artista. 

O novo repertório passeia por canções como Ancestral, Terra nossa e Dê xalá, na qual Saulo deixa evidente toda a sua baianidade. E ainda Incrível ser, Lábios vermelhos e Ponte, casa e flor, sobre o universo feminino. "Sou compositor dos finais felizes. O que se vive hoje é uma meia sofrência. A sofrência mesmo é a de Vinicius (de Moraes), que fala da solidão e da tristeza. Sou otimista na música. A composição me faz ser e leveza é minha palavra de ordem. Faço música sem bandeirismo, sem discursos, é a palavra pela palavra".
 
O cantor afirma que pretende registrar a turnê em DVD e já pensa em compor material para o próximo trabalho. "Eu cresço com meus discos. É uma fase real da minha vida. Baiuno fala muito do eu pequeno, crescendo até chegar aqui. Agora estou no ‘a gente’, no ‘nós’, de um entendimento mais coletivo". 

Assista ao clipe de Vida labirinto:


Entrevista // Saulo

Como foi o processo de composição desse trabalho?
São canções que eram só textos despretensiosamente. Relendo esses escritos, percebi uns musicáveis e outros não. Estava analisando o processo de composição e vi que 90% está no aplicativo de vídeo do computador. O disco foi composto cedo, lendo o texto e musicando. Sempre por volta das 6h30. Bem prático, orgânico e natural, por isso a escolha do nome. Ele mostra toda minha relação com a palavra, uma relação de respeito e amor. Representa muito isso: o degustar de cada palavra, transar e namorar com elas. É mais palavra que música. O trabalho musical também está excelente. É o parque de diversões para as palavras, que brincam com as notas.
 
A sonoridade se aproxima das raízes da música baiana. Que ritmos você quis incluir?
Não consigo entender como resgate. Esse axé está na minha veia mais bonita, ele vai sempre se manifestar, nem que faça um disco de bossa nova. Já é meu, minha formação é axé music. Compositores me ensinaram a escrever ritmicamente. Toda percussão alta que você ouve e o texto vão aparecer. Tenho orgulho de ser baiano, da riqueza cultural que temos. Meus trabalhos sempre vão ser o compositor querendo dizer de onde ele aprendeu e revelando sua fonte. 

Você completou 40 anos. Que descobertas a idade trouxe?
Uma paternidade. Aprendo cada dia a ser pai. A cada cabelo branco que nasce eu me aceito, melhoro meu texto e me melhoro. Também piora umas coisas. Estou mais teimoso, velhinho e chato. Fiquei mais esperançoso. Tenho três filhos de 4, 7 e 20 anos. Eles são tão puros para com a vida. Não compartilho minhas cicatrizes com eles. Vou caminhando junto e sobrevivendo assim. 

Além da Bahia, há uma nordestinidade evidente na música. Como explica? 
São minhas influências músicas. Ouvi muito Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Elba Ramalho. Sou filho de mãe com 13 irmãos e todos da música. Cada tio tinha um artista favorito e rodava todo mundo da música popular brasileira lá em casa. Essa coisa de música nordestina sotaqueada era muito forte, uma hora isso ia aparecer no meu trabalho. Em Raiz de todo bem, digo: "Oxente, cê num tá vendo que a gente é Nordeste, cabra da peste?" e lembro de todos meus ídolos. Consegui dizer que eles são importantes para mim.

Vida labirinto e A gente leve falam de esperança. Com as atuais discussões políticas e sociais, é um sentimento que falta para os brasileiros?
Tenho sorte de fazer arte. Sempre nos momentos mais trágicos, a arte tem algo a dizer. Uso do meu dom, nos textos e na música, para trazer essa esperança. Em Vida labirinto, tem um trecho que diz: “No meio do sonho tinha um ser humano”, em que cabe várias interpretações. Quer dizer que a vida era pra ser um sonho e o ser humano veio e estragou absolutamente tudo. Temos que acabar com as pequenas corrupções. Se a gente respeitasse uma filazinha sequer, já ajudava a derrubar essa cultura horrorosa de espertismo. 

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