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Luto Morre a atriz e transformista Rogéria, aos 74 anos Ícone da liberdade sexual, ela teve uma carreira consagrada entre a televisão, o cinema e o teatro brasileiro

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/09/2017 22:27 Atualizado em: 04/09/2017 23:55

Rogéria é um dos nomes memoráveis da arte brasileira. Foto: Observatório da Televisão/Reprodução
Rogéria é um dos nomes memoráveis da arte brasileira. Foto: Observatório da Televisão/Reprodução


A atriz, transformista e artista brasileira Rogéria morreu na noite desta segunda-feira, no Rio de Janeiro, aos 74 anos. Ela havia sido internada às pressas em uma unidade de saude na Barra da Tijuca. A causa da morte teria sido um choque séptico.

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Em julho, ela foi hospitalizada em uma clínica nas Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, após apresentar fortes dores nas costas. O diagnóstico apontou infecção generalizada. Em agosto, ela enfrentou novo internamento por infecção urinária. O tratamento incluiu novamente passagem pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por duas semanas. Em seguida,  recebeu alta e deixou o hospital.

À época, em entrevista ao site Uol, o empresário dela chegou a comemorar a recuperação. "Estou muito surpreso, é só vitória. Sabia que ela era respeitada e querida, mas não tinha noção de que o Brasil inteiro orava por ela", afirmou Alexandro Haddad.

Rogéria nasceu em 1943, no Cantagalo, no Rio de Janeiro, e foi batizada com o nome Astolfo Barroso Pinto. Consciente da homossexualidade desde cedo, virou transformista - artista capaz de explorar a sexualidade em diversos personagens - na adolescência e, depois, enveredou pela carreira de maquiadora. Na época do auge do rádio no Brasil, marcou passagem pelo auditório da Rádio Nacional, sobretudo no programa de Emilinha Borba, de quem se dizia fã.

A mudança de nome teria sido consequência de uma abreviação, primeiro, para Rogerinho, modo pelo qual era tratada pelas atrizes maquiadas por ela, e, depois, para Rogéria, epíteto pelo qual ficou conhecida dali em diante.

De voz grave, sem papas na língua e reconhecida pela expressividade forte, Rogéria se dizia satisfeita com o órgão sexual masculino e se mostrava avessa a fazer uma operação para troca de gênero. Bem-humorada, se dizia "o travesti da família brasileira", uma forma de debochar do preconceito e do moralismo característicos da formação cultural do país.

Na carreira na televisão, participou do programa de Chacrinha e atuou como repórter do Viva a noite, programa de auditório, em 1986. Depois, vieram participações na novela Tieta, em Sai de baixo, Brava gente, Desejo de mulher, entre outras produções. No teatro, coleciona participações marcantes, como a atuação agraciada com o prêmio Troféu Mambembe, em uma peça com Grande Otelo.

No cinema, a atuação começou na década de 1960. Ela estreou em 1968 com Enfim sós... com o outro, no qual interpretou o personagem Glorinha. Outros filmes contaram com a participação da atriz: O homem que comprou o mundo, O sexualista, Vestido dourado, Copacabana.

A participação mais recente na tela grande ocorreu sob direção da atriz e cineasta Leandra Leal, no filme Divinas divas, de 2016, inspirado em um espetáculo encenado por Rogéria ao lado de Camille K e outras transformistas desde 2004. O documentário venceu a categoria no Festival do Rio de 2016 pelo voto popular.

Em entrevista recente ao Estado de Minas, Leandra Leal observou que ela era "um ponto fora da curva", por ter o apoio dentro de casa para exercer a sexualidade. Em outubro de 2016, a trajetória da artista foi recuperada em biografia assinada por Márcio Paschoal, batizada Rogéria: Uma mulher e mais um pouco (Editora Estação Brasil).

Entre outros assuntos, o livro rememorou paixões vividas pela artista e a dedicação do amor dela a apenas um homem, aos 19 anos, com quem ficou casada por três anos.

DEPOIMENTOS

Figura querida no showbiz brasileiro, Rogéria deixou desolados colegas de profissão. "Descanse em paz, rainha. Que Deus ilumine seus caminhos e te dê o descanso eterno", escreveu Luísa Marilac. "Deus te acompanhe, grande estrela. Obrigada por tudo que você fez por nós. Obrigado por tantas portas que abriu para essa classe. Te amo para sempre. O céu ganhou uma estrela", postou Leo Aquila. "O céu leva parte da nossa alegria... Rogéria. Tinha que dividir essa perda, grades rainhas ficam para sempre", escreveu o estilista pernambucano Walério Araújo.

A amiga e atriz da Globo Ângela Leal lamentou a morte: "A diva mais divina. Vai querida, em paz. A eternidade te aguarda de braços abertos. Triste estou". "Mas vamos lamentar a morte da grande Rogéria, seu humor e seu talento por onde passava. Palmas para essa grande artista", completou a funkeira Valesca Popozuda.

Rita Cadillac, ex-chacrete, também se manifestou: "Rogéria, obrigada por tudo que você me ensinou. A ser mulher, maquilar, andar de salto, a ser sexy. Você fez muitas vezes o papel da mãe que não tive. Prometo que vou fazer o que você me disse: sábado, vou arrasar pra você e por você. Que Deus ilumine o seu novo palco. Brilhe muito. Assim, quando eu vir a estrela mais brilhante, saberei que é você. Fique em paz. Dessa filha que te ama muito".

Veja o trailer de Divinas divas:



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