Cinema
Mãe!, novo filme de Darren Aronofsky, tem premissa interessante mas se perde nos exageros
Diretor de Cisne Negro se mostra pretensioso em drama com toques de horror
Por: Breno Pessoa
Publicado em: 21/09/2017 13:46 Atualizado em: 21/09/2017 14:10
Jennifer Lawrence entrega atuação competente e é um dos pontos positivos do longa. Foto: Paramount Pictures/Divulgação |
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Escrito pelo próprio Aronofsky, Mãe! tem como protagonistas um casal interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, personagens sem nome que vivem em um casarão isolado. Ela cuida das tarefas domésticas e da restauração da casa, enquanto ele, um escritor em crise, busca inspiração para escrever uma nova obra. Percebe-se nela a tentativa de tornar um ambiente agradável e um visível esforço para motivar o marido, apático e distante.
A monotonia do ambiente é quebrada com a vinda de um homem (Ed Harris) que diz ter confundido o local com uma hospedaria e, por conta das circunstâncias, é convidado pelo escritor a passar a noite na casa. No dia seguinte, uma mulher (Michelle Pfeiffer) que se identifica como esposa do hóspede surge e se instala. A personagem de Lawrence assiste inconformada à chegada das inesperadas figuras, aceitas de bom grado pelo marido.
A primeira metade do longa-metragem é a mais palatável e interessante. O diretor Darren Aronofsky deixa o espectador tão deslocado quanto a personagem de Jennifer Lawrence, que, aliás, está bem no papel. As motivações dos hóspedes não são claras e, frequentemente, causam desconforto à protagonista por suas atitudes. Outra atuação que merece destaque é a de Michelle Pfeiffer, em uma inconveniente e desagradável antagonista.
Toda estranheza dos acontecimentos e o comportamento inusitado dos personagens proporcionam um clima sombrio e surreal, que pode suscitar inúmeros paralelos, de obras de Kafka e filmes de Luis Buñuel a alegorias bíblicas. O tom soturno é reforçado pela fotografia predominantemente escura e granulada.
Em certo ponto da projeção, a atmosfera insólita dá lugar a uma sucessão de acontecimentos não apenas mais estranhos, mas progressivamente violentos que, em algumas passagens, soam gratuitos, desnecessários e, às vezes, até misóginos. A construção do roteiro rumo ao desfecho parece pautada unicamente na tentativa de chocar. A visceralidade não é problema, mas o aparente despropósito, sim. É difícil não enxergar sinais de pretensão na escalada brutal e exagerada dos eventos.
Aronofsky já se provou um diretor competente e Mãe! não sinaliza, propriamente, uma derrocada na carreira do cineasta, cujo último longa-metragem é o esquecível Noé (2014). Pelas reações adversas que o filme tem provocado, é inquestionável que, no mínimo, a produção desperta emoções e sentimentos, sejam lá quais forem. É um mérito.
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