Cinema Filme As Duas Irenes aborda as consequências de um ato de adultério na vida das filhas Primeiro longa de Fabio Meira explora as ruínas de uma relação extraconjugal

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 14/09/2017 14:15 Atualizado em:

No longa premiado no Festival de Gramado, garotas descobrem que são irmãs e receberam o mesmo nome. Foto: Roseira Filmes/Divulgação
No longa premiado no Festival de Gramado, garotas descobrem que são irmãs e receberam o mesmo nome. Foto: Roseira Filmes/Divulgação

A infidelidade nas relações não afeta só os pares. É nos filhos que acaba pesando parte de eventuais dores e traumas causados por relações extraconjugais. As duas Irenes, primeiro longa-metragem de Fabio Meira, narra um drama familiar a partir da perspectiva da prole impactada pela traição de um pai. O título, premiado na categoria Melhor Roteiro durante o Festival de Cinema de Gramado, também circulou este ano pelo Festival de Berlim, na mosta Generation, e entra em cartaz pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras.

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Irene (Priscila Bittencourt), uma garota de 13 anos morando no interior, descobre que o pai, Tonico (Marco Ricca), tem um caso com outra mulher e uma filha fruto dessa relação. A segunda surpresa é que sua meia-irmã (Isabela Torres) também se chama Irene. Sem que as duas famílias saibam, as garotas se aproximam e iniciam amizade.

Ao mesmo tempo que toma conhecimento desta outra Irene, a protagonista passa por uma fase de descobertas próprias da adolescência, com os sinais do despertar para a sexualidade, o que inclui as percepções sobre as mudanças do corpo, o anseio pelo primeiro beijo e também os inevitáveis desentendimentos com os pais. Embora tenha a mesma idade, a recém-descoberta parente homônima se mostra mais experiente, já tendo beijado alguns garotos e também apresentando um corpo mais desenvolvido.

Irene parece ver na meia-irmã o reflexo que ela deseja para si: uma figura mais desinibida e confiante de si. Aos poucos, o contato vira também uma troca de experiências entre as duas. O clima de romance de formação é intercalado pela tensão da iminência da descoberta da vida dupla de Tonico.

As duas jovens atrizes, Priscila Bittencourt e Isabela Torres, se saem bem nos papéis, mostrando boa química e atuações contrastantes que reforçam as diferenças de cada uma das Irenes. Premiado em Gramado como Ator Coadjuvante, Ricca também convence na pele de um pai de família aparentemente devotado, mas também conservador e cheio de contradições.

Com desenvolvimento bem cadenciado, a história é contada sem pressa e, principalmente, com muita delicadeza em torno das duas Irenes. Não há grandes acontecimentos ou emoções fortes durante maior parte da projeção e isso não é um problema. Pelo contrário, reforça o senso de normalidade da trama e torna a narrativa crível e próxima. E, embora não pareça o cerne da obra, é um filme que acaba tocando no tema do machismo, patriarcalismo e opressão feminina. Faz um curioso diálogo com Como nossos pais, de Laís Bodanzky, também exibido nesta edição do Festival de Gramado, e o recente Mulher do pai, de Cristiane Oliveira.

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