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Comédia nacional protagonizada por Murilo Benício e Camila Morgado é grata surpresa
Elenco entrosado e bom equilíbrio entre humor, romance e ação tornam Divórcio uma comédia acima da média
Publicado: 21/09/2017 às 15:20
Murílio Benício e Camila Morgado mostram talento para comédia. Foto: Guilherme Maia/Divulgação/

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A história, assinada por Paulo Cursino (Até que a sorte nos separe), acompanha o bem-sucedido casal Júlio (Murilo Benício) e Noeli (Camila Morgado). De família rica, ela abandonou o noivo, em pleno altar, de um casamento arranjado pelo pai, para viver com Júlio. Juntos, eles enriquecem criando uma fábrica de molhos de tomate e levam uma vida confortável mas cada vez menos apaixonada. Após um incidente que evidencia a negligência do marido para com a esposa, a separação torna-se inevitável.
Na disputa judicial pelos bens conquistados em conjunto ao longo dos anos e pela guarda das filhas, o casal recorre a expedientes de moral duvidosa. Transformada em guerra, a separação toma contornos cada vez mais absurdos. A premissa veio do produtor, L. G. Tubaldini, que em uma conversa com amigos que se separaram, teve a ideia de fazer um filme com a temática.
E apesar do aparente exagero das situações, as passagens retratadas no filme foram, segundo o roteirista, construídas a partir de relatos reais de pessoas que se separaram e advogados envolvidos em litígios. "Por incrível que pareça, o filme é menos louco do que a vida. Se a gente fosse fazer o que acontece na vida real, tem coisas que não parecem verossímeis, você não acredita", diz Cursino. "Foi uma medida muito complicada de achar, porque havia a dificuldade de colocar algo que não parece real, mas que era real e precisava soar como real", fala, sobre o processo de adaptação dos casos verídicos para a ficção. "Mas quando passa pela chave do humor, você aceita as coisas de uma forma mais tranquila. Quando se coloca a tragédia e o riso ao mesmo tempo, isso funciona bem", acrescenta.
"Todo divórcio tem uma maluquice, mas a gente trata de uma forma muito leve", afirma Murilo Benício, enquanto Camila Morgado acrescenta que "no divórcio, a gente se transforma em outra pessoa, perde um pouco a razão". Ambos os atores já passaram por processos de separação, um movimento bastante comum no país: segundo dados do IBGE divulgados no ano passado, o número de divórcios no Brasil cresceu 160%, entre 2004 e 2014.
Longe de trazer uma visão fatalista dos casamentos, Divórcio se mostra mais interessado em retratar, através do humor, um casal que simplesmente aparenta ter esquecido a essência da relação. Com boa mescla de ação, humor e romance, a produção destoa e se destaca da maioria das comédias nacionais do circuito comercial. Um interessante diferencial está na ambientação do filme, que se desenvolve inteiramente em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, distante da paisagem urbana frequente em títulos do gênero.
Embora recorra eventualmente a alguns clichês, sobretudo no desfecho, o roteiro mostra originalidade e se desenvolve de maneira ágil e divertida. Tecnicamente bem resolvidas, a direção e fotografia também se destacam, fugindo de vícios televisivos vez ou outra presentes em comédias brasileiras. Vale mencionar também o ótimo timing para humor da dupla de protagonistas, que tem poucas incursões no gênero e saiu muito bem em Divórcio.
[Três perguntas // Murilo Benício, ator
Como carioca, foi difícil emular o sotaque do interior de São Paulo?
No começo é muito ruim, porque a gente se sente ridículo. Quando você está imitando, tem que vencer esse momento em que se sente ridículo. Outra coisa, a gente não pretendia fazer uma coisa muito grande, colorida, porque a gente não queria que as pessoas do lugar ficassem chateadas. É uma caricatura, sei que não conseguimos ser absolutamente fiéis ao que é (o sotaque).Tem horas que dá uma escorregada, mas se fez o possível. E é bom ter em mente que, dentro de uma cidade, existem gradações.Como carioca, existem sotaques como o meu, que as pessoas acham que sou de São Paulo, até o do Evandro Mesquita.
Você foi um peão na novela América. Já se sentia familiarizado com esse universo sertanejo do filme?
É tão diferente. Ribeirão Preto é uma metrópole que não conhecia, tem um universo próprio.O sertanejo universitário é uma coisa tão grande que a gente não tem dimensão do que é. A coisa mais rara lá é achar uma rádio de rock. Só toca sertanejo etem artistas que a gente não conhecia que põem 30 mil pessoas em um show. Era um planeta desconhecido para mim. E fiquei muito feliz, essa diversidade de cultura no brasil é algo curioso.
Antes de Divórcio você estava gravando um thriller. A transição de papéis foi tranquila?
O nervosismo é o mesmo,você faz com a intenção de dar certo. Esse filme é até mais difícil, eu estou fazendo tipo um Jim Carrey, uma coisa muito absurda. Se não tiver graça, é o pior dos erros. Quando você faz um thriller, o drama pode enganar. A comédia, se não tiver graça, está errada,você não conseguiu. A gente tinha medo de fazer.
[Três perguntas // Camila Morgado, atriz Você faz muita autocrítica em relação ao trabalho?
Quando eu me assisto, é horrível. É um processo que não é normal para o espectador. Eu acho que está errado, que eu deveria ter feito de outro jeito. É uma tortura. É um processo do filme todo, no começo, no meio e no fim. A gente não sabe se vai conseguir passar a coisa certa, se as pessoas vão levar a sério aquilo, se vão acreditar, se vão dar risada. O desdobramento é livre, não tenho como interferir.
Como você encontrou o tom de fala do personagem e compôs o sotaque?
A gente chegou um tempo antes (das gravações) e percebi que as pessoas de Ribeirão Preto falavam com um tempo mais lento, não é aquela pressa do Rio de Janeiro, em que é tudo mais corrido. Eu não vejo a Noeli histérica, pensei em fazer ela calma, com um tempo mais lento, como essas pessoas do interior que param para conversar.
O que mais atraiu na personagem?
Eu gosto dessa parte dela mais excêntrica, que é muito distante de mim. Eu me sinto montada, quando a gente muda para fazer um personagem é muito bom, porque dá muita liberdade para criar em cima.
*O repórter viajou a convite da Warner Bros.
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