Polêmica Artistas e público reagem ao cancelamento de mostra sobre diversidade sexual Santander Cultural é acusada de censura após anunciar o encerramento da Queermuseu

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/09/2017 19:16 Atualizado em: 11/09/2017 19:45

Grupos conservadores acusaram a Queermuseu de promover "blasfêmia", "imoralidade" e "pedofilia". Foto: Santander Cultural/Divulgação
Grupos conservadores acusaram a Queermuseu de promover "blasfêmia", "imoralidade" e "pedofilia". Foto: Santander Cultural/Divulgação


Após o Santander Cultural anunciar, no último domingo (10), o cancelamento da mostra Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira, sobre diversidade sexual na arte, representantes da sociedade civil, artistas e internautas se manifestaram em protesto contra a decisão, que acarretou em um amplo debate sobre a liberdade na arte nas redes sociais. Em cartaz desde agosto em Porto Alegre, a exposição se tornou alvo de protestos e reclamações nas redes sociais por representantes religiosos e pelo Movimento Brasil Livre (MBL), que acusavam a Queermuseu de promover "blasfêmia", "imoralidade" e "pedofilia". Ainda nesta segunda-feira (11), o Banco Santander prometeu devolver à Receita Federal os R$ 800 mil da mostra captados via Lei Rouanet.

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Em nota oficial, a instituição justificou o cancelamento afirmando reconhecer que as obras presentes"desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas", o que "não está em linha" com a visão de mundo da empresa. "Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra. O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia", disse órgão, em texto divulgado no Facebook.

Composta por pinturas, fotografias, gravuras, vídeos e esculturas de nomes como Cândido Portinari, Ligia Clark, Alfredo Volpi, Clóvis Graciano e Adriana Varejão, a Queermuseu contava com mais de 270 obras. Entre as obras mais criticadas pelo MBL estão uma reprodução de Jesus Cristo com vários braços e desenhos de crianças com as frases "Criança viada deusa das águas" e "Criança viada travesti da lambada".

Em agosto, na época da abertura, a mostra havia sido apresentada pelo Santander Cultural como "uma iniciativa inédita que explora a diversidade de expressão de gênero e a diferença na arte e na cultura em períodos diversos". O texto de apresentação destacava ainda que a instituição financeira "valoriza a diversidade e investe em sua unidade de cultura no Sul do País para que ela seja contemporânea, plural e criativa". A mostra teve início no dia 15 de agosto e tinha previsão de continuar em cartaz até 8 de outubro.

REPERCUSSÃO

Entre os vários manifestos ocorridos desde o anúncio do encerramento, personalidades como o jornalista e escritor Xico Sá utilizaram seus perfis na rede social para manifestar contrariedade à decisão do banco. "Que pisada na bola, Santander. Que atraso, Santander Cultural. Que ato a favor das trevas, minha gente", publicou Sá. O apresentador Ronald Rios também reforçou o coro de críticas: "Essa história do Santander é a melhor prova que as marcas adoram falar essa palavra 'empoderamento' mas sem de fato empoderar."

Em um evento do Facebook, intitulado Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia, que já conta com mais de 5 mil pessoas interessadas, representantes da sociedade civil repudiam o cancelamento da exposição e marcam ato de protesto para a tarde desta terça-feira (12), no Centro Histórico de Porto Alegre. "Diante dos ataques sofridos pela Exposição Queermuseu sediada no Museu Santander Cultural, em pleno Centro Histórico de Porto Alegre, convocamos um ATO PÚBLICO em defesa da liberdade de expressão artística, das liberdades democráticas e contra os retrocessos políticos que limitam o exercício de cidadania da população LGBTT", diz o texto do evento, convocado por representantes de 16 entidades e coletivos de luta pelos Direitos Humanos. 

"Repudiamos os ataques conservadores e fundamentalistas e suas acusações falsas e infundadas. Repudiamos também a decisão do Santander Cultural de encerrar prematuramente a exposição, recuando diante das manifestações fascistas de ódio e preconceito. Tod@s lá! Nenhum direito a menos!", continua a convocatória. Aderindo às manifestações de repúdio contra a decisão do Santander Cultural, a editora Veneta criou a Semana da arte degenerada, promovendo descontos na venda de livros "eróticos, pornôs e escandalosos" de seu catálogo. A ação foi seguida pela Alameda editorial, que também divulgou diminuição nos valores de seus títulos "mais polêmicos".

Outro protesto defende um boicote a instituição bancária, acusada de censurar às obras de arte após manifestações conservadoras. Internautas defendem que clientes do Santander cancelem suas contas no banco. "Hoje é dia de ir ao Santander para cancelar a conta", afirmou um internauta na rede social. "A nova exposição do Santander vai ser 'A ARTE de perder clientes'", ironizou outro usuário do Twitter, defendendo o boicote.

O músico Roger Rocha (Ultraje a Rigor), por outro lado, acredita que não houve censura e critica o financiamento da exposição através da Lei de Incentivo à Cultura. "1°: A exposição do Santander não foi censurada. O banco a encerrou. 2°: O banco tem direito de expor aquela merda. Mas não com dinheiro público", apontou nas redes. Em outro momento, o músico, tido como um dos pensadores da direita brasileira, compartilhou uma publicação defendendo agressão física às pessoas que protestam contra o cancelamento: "O 'cara' passa a infância reclamando que sofre bullying, pra depois vir com essa de 'arte é provocação', vocês deviam ter é apanhado mais".

Olavo de Carvalho também utilizou o Twitter para comentar o assunto, comemorando o encerramento da exposição e pedindo "punição" para os realizadores. "A maldita exposição do Santander foi fechada, mas o crime está cometido e os responsáveis devem pagar por ele", cobrou, em tweet. "A tipificação do delito - vilipêndio a objeto de culto - não poderia ser mais clara", continuou.

Leia o comunicado do Santander na íntegra:


Confira a repercussão nas redes:


















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