Cinema Sofia Coppola faz boa releitura do clássico O Estranho que Nós Amamos Diretora mudou o ponto de vista da narrativa, originalmente estabelecido sob a ótica de personagem masculino

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 10/08/2017 13:47 Atualizado em: 10/08/2017 22:03

Nova versão, em cartaz nos cinemas a partir de hoje, no entanto, fica longe de ser uma obra dispensável. Foto: Focus Features/Divulgação
Nova versão, em cartaz nos cinemas a partir de hoje, no entanto, fica longe de ser uma obra dispensável. Foto: Focus Features/Divulgação

Remakes e releituras de histórias já vistas anteriormente no cinema por vezes sinalizam certa carência criativa no meio. O estranho que nós amamos, de Sofia Coppola, poderia facilmente entrar no hall das refilmagens desnecessárias, considerando o bom filme homônimo de 1971, dirigido por Don Siegel e estrelado por Clint Eastwood. A nova versão, em cartaz nos cinemas a partir de hoje, no entanto, fica longe de ser uma obra dispensável.

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Assim como no longa dos anos 1970, a matéria-prima do filme é o livro de mesmo nome, publicado por de Thomas P. Cullinan em 1966. O romance se desenrola nos EUA, durante a Guerra Civil, quando um soldado irlandês, a serviço do exército do Norte, é ferido e resgatado por um grupo de mulheres sulistas que vive isolado em um internato. Apesar das diferenças entre os lados da batalha, o núcleo feminino se mostra guiado pela compaixão e decide manter o militar sob seus cuidados, até a plena recuperação dele.

A principal mudança no filme de Coppola é a inversão no ponto de vista da narrativa, originalmente sob o ponto de vista do cabo McBurney, que na nova versão é interpretado por Colin Farrell. Nesta reimaginação, acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos sob a ótica feminina, personalizados sobretudo nas figuras da matriarca Miss Martha (Nicole Kidman) e da professora Edwina (Kirsten Dunst).

A presença incomum de um homem naquele espaço feminino modifica a rotina muito além dos cuidados demandados pelo enfermo. A novidade atrai a atenção das garotas mais novas. Curiosidade que, em algumas, se mostra como paixonite juvenil, enquanto nas adultas e na adolescente Alicia (Ellen Fanning) toma forma de libido e paixão.

A atmosfera de tensão sexual é bem construída e se transforma em algo extremamente desconfortável no ambiente conservador e religioso do internato, um espaço ermo e sisudo. Visualmente elegante, a bonita fotografia de Philippe Le Sourd casa bem com o estilo clássico escolhido pela diretora para a estrutura do filme, bastante sóbria e linear. É o título que mais se afasta das nuances pop e contemporâneas predominantes na filmografia da diretora, conhecida principalmente por As virgens suicidas (1999) e Encontros e desencontros (2003).

As mulheres não ficaram em primeiro plano apenas dentro do longa. O estranho que nós amamos garantiu a Coppola, neste ano, o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes. Foi a segunda vez na história da premiação que uma mulher recebeu a Palma de Ouro nessa categoria. A primeira foi Yuliya Solntseva, há 56 anos. Nicole Kidman também foi celebrada nesta edição mais recente da premiação e foi homenageada com uma honraria em comemoração aos 70 anos do festival.



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