Entrevista Pernambucana faz música gospel com batidas de manguebeat 'Da lama à salvação', diz Karol Araújo, fã de Chico Science e de ritmos do carnaval, evento que ela não frequenta

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/08/2017 08:25 Atualizado em: 10/08/2017 10:23

Cantora pernambucana imprime a um disco gospel a sonoridade característica do moviemnto liderado pelo conterrâneo Chico Science. Foto: JulianaToledo/Divulgação
Cantora pernambucana imprime a um disco gospel a sonoridade característica do moviemnto liderado pelo conterrâneo Chico Science. Foto: JulianaToledo/Divulgação


O batuque das alfaias e o ritmo do maracatu, misturados aos acordes de guitarra e da música eletrônica, não são mais sonoridades associadas exclusivamente ao manguebeat, o movimento encabeçado por Chico Science. É que a cantora pernambucana Karol Araújo, de 29 anos, que lança carreira solo na música gospel, resolveu levantar a bandeira dos sons pernambucanos em novo projeto. Ela lança o EP Um novo tempo, pela Sony Music Gospel, que mistura louvor com a música regional. (Clique para ouvir o disco no Spotify)

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Composto por quatro faixas, divido entre inéditas e regravações, Um novo tempo marca a estreia de Karol e está disponível nas plataformas digitais. Após dez anos como integrante do grupo Celebrando a Verdade, ela assume os vocais e inicia a turnê de divulgação. Com a banda, Karol já lançou quatro CDs, sendo três em português e um em espanhol. A principal música de trabalho é Ninguém vai me deter, hino popularizado na voz de Fernanda Brum, que ganhou nova roupagem. "É uma música bastante conhecida e demos nova cara. A letra é para cima e combinou com o estilo revolucionário do maracatu", aponta. Também fazem parte do álbum Reinar em vida, Fontes de milagre e Um novo tempo.

Apesar de não brincar carnaval, a artista quer exportar a musicalidade olindense e pretende gravar um clipe na Cidade Alta incorporando elementos da folia de Momo. "Morando em Olinda, os ritmos estão presentes no meu dia a dia. Queremos produzir uma coisa bem bairrista, para valorizar o que é nosso", explica. Karol vai representar o estado como atração da Expo Cristã 2017, que ocorre em agosto (17 a 20), em São Paulo. "Não brinco carnaval porque sou cristã. O que queremos é resgatar o estilo em si. Explorar algo que é nosso, da nossa terra. Não se encontra mais isso em festividades não-cristãs. Vemos um público que sente falta desses ritmos", aponta. A cantora e compositora iniciou a carreira aos 15 anos no grupo religioso da igreja Verbo, em Rio Doce.

"Não brinco carnaval porque sou cristã. Quero resgatar o estilo em si", afirma. Foto: JulianaToledo/Divulgação
"Não brinco carnaval porque sou cristã. Quero resgatar o estilo em si", afirma. Foto: JulianaToledo/Divulgação
Entrevista - Karol Araújo  //  cantora
"O mercado precisa se reciclar. Demos tiro certo"

Como surgiu a ideia de misturar música religiosa com ritmos pernambucanos?
O estilo da música gospel sempre foi mais voltado para o congregacional e até o pop rock. Mas faz um tempo que vem se abrindo para outros ritmos. Já temos misturas com funk, forró, pagode e até sertanejo. Podemos ver essa maior flexibilidade. O grupo olindense Celebrando a Verdade já dava uma pitada com os ritmos locais nas músicas. Quem nasce em Pernambuco tem a cultura muito presente em tudo que faz. Ao pensar num trabalho solo, quis trazer isso de forma presente e incorporar a proposta cultural. Tem manguebeat, maracatu e afoxé, tudo misturado.

Qual a expectativa para a aceitação do público?
O público gospel está saturado da mesma coisa de sempre. A maioria das músicas são versões ou releituras. É comum pegar a canção e dar um novo significado ao seu estilo. Por muito tempo, ficamos restritos a reproduzir tudo que vinha de fora. Tem gente que não sabe que é maracatu e está gostando, acha diferente. O mercado precisa se reciclar e chegamos nesse momento. Demos um tiro certo.

Acredita que o público mais conservador vai entender essa mistura?
O público gospel é muito fiel aos artistas. O que importa são as composições das letras, baseadas na Bíblia e na palavra de Deus. Não se limita ao ritmo, mas à composição em si. Quando trazemos letras motivacionais e altruístas, não fica difícil aceitar. Eles vão absorver a mensagem.

O que acha de Chico Science e o que a música dele representa?
Ele fez com a música coisas que ninguém fez. É uma referência grande para mim, nesse sentido. Por ter exportado a musicalidade local e abrir portas para os ritmos pernambucanos no mundo inteiro. Reconheço que o movimento veio expressar uma indignação e denunciar as desigualdades sociais.

Maracatu, manguebeat e afoxé são músicas muito ouvidas também no carnaval. Apresentar esses ritmos poderia estimular os cristãos a frequentar essas festividades?
As nossas composições são voltadas para os princípios bíblicos. Dificilmente, quem busca esse tipo de música vai procurar coisas em contexto fora do cristão. A nossa mensagem por si só é muito forte e agregadora. Ela não dispersa. A gente faz fé e força para que não aconteça ao contrário.

É uma estratégia para chamar a atenção do público jovem?
De certa forma, sim. Vemos uma população jovem desfocada e perdida, que está crescendo sem referências musicais. É um público que busca música para se distrair, pular e dançar. E nossas músicas trazem uma pegada bem para cima, é um atrativo para eles.

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