Artes visuais Obra de Cícero Dias ganha grande mostra retrospectiva no CCBB Rio Centro Cultural Banco do Brasil da capital fluminense exibe 129 obras de todas as fases do pintor pernambucano, falecido em 2003, aos 95 anos

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 07/08/2017 09:12 Atualizado em: 07/08/2017 16:04

Parte do painel 'Eu vi o mundo...ele começava no Recife' é uma das obras mais emblemáticas de Cícero Dias. Crédito: CCBB/Reprodução
Parte do painel 'Eu vi o mundo...ele começava no Recife' é uma das obras mais emblemáticas de Cícero Dias. Crédito: CCBB/Reprodução

Por mais que a carreira bem-sucedida e os amigos - incluindo Pablo Picasso, o mais famoso deles - o impelissem a ficar em Paris, as memórias do Engenho Jundiá, em Escada, onde nasceu, e suas aventuras da juventude, no Recife, sempre arrebataram a imaginação do pintor Cícero Dias. Esse amor por um Pernambuco impregnado de memória está expresso em todas as fases de seu trabalho, que podem ser vistas na exposição retrospectiva Cícero Dias - um percurso poético 1907 - 2003, em cartaz até 25 de setembro. Após passar por Brasília e São Paulo, a mostra entrou em cartaz no Rio de Janeiro, onde o Diario de Pernambuco viu, com exclusividade, a série de 129 trabalhos selecionados pela curadora Denise Mattar. Não há previsão para a exposição vir ao Recife.

A exposição está dividida em três núcleos. No primeiro, intitulado Brasil, estão obras feitas entre 1925 e 1937, incluindo as aquarelas feitas no início da carreira, além da icônica imagem feita para o livro Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre. Ambos eram muito amigos e esta, aliás, era uma das grandes características de Cícero: ser agregador. Mesmo muito amigo de Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Mário de Andrade e vários outros nomes identificados com o Modernismo, sua carreira sempre tomou um caminho muito singular. Cícero Dias era solar, mesmo ao retratar o luto mais fechado.

Já a segunda sala, Europa, traz sua produção e o registro de passagens de sua vida entre 1938 e 1945. É quando ele se apaixona por Raymonde Dias, sua companheira por 60 anos. Também é o período no qual passa grandes provações, como sua captura pelos nazistas e posterior prisão em um hotel em Baden-Baden, na Alemanha, além de ter levado escondido o poema Liberté, de Paul Éluard, para fora da França. Raymonde e Cícero decidem ficar em Lisboa até o fim da guerra e tem seu trabalho influenciado por Picasso e por suas vivências europeias, indo a passos largos para o caminho da abstração.

A terceira sala, Uma vida em Paris, de 1945 até sua morte, aos 95 anos, em 2003, o mostra plenamente integrado à abstração, experimentando a síntese de cores e formas. Em 1948, ele faz uma exposição no Recife que se torna um escândalo justamente por sua coragem em experimentar novos rumos. Também é dessa data o início da realização do primeiro mural abstrato da América Latina, localizado na Secretaria da Fazenda do Estado. No entanto, aos poucos, Cícero volta a unir suas experiências anteriores à sua obra, em uma nostalgia lírica. “Ele retorna para a figuração, mas incorpora o que fez no abstrato. Ainda assim, ele nunca esteve filiado, de fato, a nenhuma corrente ou escola. Esta é uma obra que circula pouco no mercado de arte, pois quem tem não quer vendê-la. Ela está muito presente em museus e outras instituições”, aponta Denise Mattar.

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A envergadura da mostra tornou a logística dela complexa, segundo Fábio Cunha, diretor do CCBB Rio. “Esta exposição está entre as que mais levaram tempo para serem realizadas aqui, dois anos e meio no total. O Rio recebeu cinco obras a mais do que as outras mostras de São Paulo e Brasília. Esperamos uma grande visitação. Só em 2016, tivemos cerca de 2 milhões de visitantes”. Uma das telas acrescidas foi o painel emblemático Eu vi o mundo…ele começava no Recife, hoje pertencente ao colecionador particular Luís Antônio Almeida Braga. Terminado em 1931, o trabalho foi envolvido em tal polêmica por suas imagens sensuais que uma parte dele foi arrancada. Ainda hoje há controvérsias sobre quem teria feito isso, se algum espectador escandalizado ou o próprio artista.

Quem também acompanhou a abertura da mostra foi a filha de Cícero e Raymonde, Sylvia Dias Dautresme, nascida e criada em Paris, mas também muito ligada à obra do pai e ao Brasil. Ela também foi curadora honorária da mostra. “As pessoas ainda conhecem pouco a obra do meu pai no país, talvez porque ele tenha vivido quase seis décadas na capital francesa. Quanto mais ele se aproximava do fim da vida, mais ele pensava em Pernambuco. Meu pai, inclusive, deixou um livro de poemas, Ode ao Recife, ainda inédito”.

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