Televisão Nova série da Globo volta no tempo para expor corrupção da classe média brasileira Filhos da pátria tenta gerar reflexão a partir dos desvios pós-independência de um funcionário público

Por: Tiago Barbosa

Publicado em: 03/08/2017 17:30 Atualizado em: 03/08/2017 21:17

Doze episódios da comédia estão disponibilizados na íntegra. Foto: Globo/Divulgação
Doze episódios da comédia estão disponibilizados na íntegra. Foto: Globo/Divulgação


O que pode haver em comum entre o Brasil do século 21 afundado em escândalos político-policiais e o Brasil de 1822 recém-independente do jugo português? A corrupção é a resposta proposta pela nova série de comédia da Globo, Filhos da pátria, cuja estreia ocorre nesta quinta-feira no Globo Play (a Netflix do canal) e em setembro na TV aberta.

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A trama criada e escrita por Bruno Mazeo - ator e roteirista global por trás de filmes como Cilada.com e E aí…comeu? - aborda o problema a partir do desvio de comportamento de um funcionário público ameaçado de desemprego: a função de correspondente entre a coroa e a colônia perde a razão de existir com a emancipação brasileira.

O servidor, interpretado pelo ator Alexandre Nero (A regra do jogo), é Geraldo Bulhosa, patriarca português de uma família brasileira de classe média, trabalhador regular e acomodado, criticado em casa pela mulher interesseira e ambiciosa (Fernanda Torres). Chantageado pelo colega brasileiro do trabalho (Matheus Nachtergaele), ele cede à corrupção - e começa a apreciar os frutos do enriquecimento ilícito, tanto pela mobilidade de social dos parentes quanto pela virada profissional.

A decisão de estabelecer ponte entre os dois períodos históricos é nítida. Do linguajar (em expressões atuais como a judicial "delatar" e a jocosa "confirmado e autenticado em três vias") ao foco sobre a classe média, extrato social apontado como fator de desequilíbrio político tanto pelas passeatas ao som das panelas na derrubada de Dilma Rousseff como pela inércia silenciosa na manutenção de Michel Temer no poder.

A série corre risco, no entanto, de reprisar conceitos questionáveis sobre corrupção ao identificá-la só como parte do estado - o mercado, assim como hoje, é poupado - e pressupor idoneidade do estrangeiro europeu em contraponto a uma "propensão natural" do brasileiro de corromper, de dar um jeitinho.

O espelhamento com a atualidade deve provir ainda de questões resistentes ao tempo, como machismo, racismo e desigualdade. Filhos da pátria é a terceira produção histórica da globo em cartaz - assim como Os dias eram assim e Novo mundo, também com o Império como pano de fundo. Todos os capítulos estão disponibilizados na íntegra na Globo Play.



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