Cinema Filme Como Nossos Pais questiona estrutura familiar patriarcal e fragilidades das relações amorosas Novo trabalho de Laís Bonzky, diretora de Bicho de Sete Cabeças, traz reflexão sobre a mulher contemporânea

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 21/08/2017 20:52 Atualizado em: 27/08/2017 17:23

Protagonista, Maria Ribeiro está no melhor papel da carreira. Foto: Globo Filmes/Divulgação
Protagonista, Maria Ribeiro está no melhor papel da carreira. Foto: Globo Filmes/Divulgação

GRAMADO – "O novo sempre vem", diz um dos trechos de Como nossos pais, canção de Belchior que virou título do mais recente filme de Laís Bodanzky (Bicho de sete cabeças). A inevitabilidade das mudanças, individuais e sociais, é um dos temas centrais do longa, com estreia prevista para o dia 31 de agosto.

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Tido como um dos favoritos até agora na mostra competitiva de longas-metragens brasileiros no Festival de Cinema de Gramado, Como nossos pais também foi bem recebido no Festival de Berlim deste ano e ganhou o prêmio do público no Festival de Cinema Brasileiro de Paris. E, de fato, já merece um lugar entre os melhores lançamentos de 2017.

Embora o título entregue algo dos conflitos que perpassam o roteiro, assinado por Bodanzky e Luiz Bolognesi, a trama não se detém apenas em questões geracionais. A protagonista é Rosa (Maria Ribeiro), uma mulher de classe média soterrada entre obrigações do trabalho e cuidados com a família. Após uma série de acontecimentos e descobertas, ela acaba se dando conta de várias insatisfações nas esferas pessoal, afetiva e profissional.

Entre os prontos que incomodam Rosa estão a ausência do marido (Paulo Vilhena) nas tarefas domésticas e cuidados com as duas filhas, além dos indícios fortes de infidelidade constantemente negados por ele. Desapontada também no trabalho, ela lamenta o fato de ter deixado de lado o desejo de se tornar dramaturga. Em paralelo, a mãe (Clarisse Abujamra) é também fonte de alguns conflitos familiares, fazendo oposição a certos anseios de Rosa. Outra fonte de preocupações é o pai (Jorge Mautner), um artista plástico extremamente dependente da filha.

Muito bem construídos, todos os personagens são absolutamente críveis, tanto pelo texto quanto pelas atuações. Maria Ribeiro entrega a melhor performance da carreira até agora e personifica, de maneira impecável, angústias da mulher contemporânea. Entre o afeto e o antagonismo, Clarisse Abujamra também impressiona como coadjuvante.

Os acontecimentos na vida da protagonista despertam reflexões sobre empoderamento feminino, obsolescência da estrutura familiar patriarcal e relacionamentos monogâmicos. Todos os questionamentos apresentados por Rosa são inseridos de forma muito natural na história. Igualmente convincente é a falta de respostas para dúvidas que afligem Rosa. As soluções ainda estão por vir.

*O repórter viajou a convite da organização do festival

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