Artes visuais Exposição As meninas do Quarto 28 conta história emocionante vivida no Holocausto Mostra está em cartaz no Parque Dona Lindu e traz desenhos feitos por cerca de 50 garotas judias em campo de concentração

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 10/08/2017 15:58 Atualizado em: 10/08/2017 22:12

Reproduções dos desenhos das garotas que passaram pelo Quarto 28 são exibidas ao público junto com a réplica de um dos quartos do campo de concentração. Crédito: Júlio Jacobina/DP
Reproduções dos desenhos das garotas que passaram pelo Quarto 28 são exibidas ao público junto com a réplica de um dos quartos do campo de concentração. Crédito: Júlio Jacobina/DP

O Holocausto é uma das tragédias humanas mais documentadas de todos os tempos e os horrores da 2° Guerra Mundial deram origem a uma grande quantidade de filmes, músicas e exposições relacionadas ao tema. É a essa linhagem que se filia a mostra As meninas do quarto 28, que vai ocupar, a partir de hoje, a Galeria Janete Costa, localizada no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. Nela, está um prisma singular: a vivência artística de meninas de 12 a 14 anos, que conseguiram traduzir em 50 desenhos e colagens seu mundo interior, mesmo em meio ao campo de concentração nazista de Theresienstadt, na República Tcheca. A curadoria foi feita por Dodi Chansky, Roberta Sundfeld e Karen Zolko, sobrinha de uma das vítimas.

Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre

Ao longo de dois anos, entre 1942 e 1944, cerca de 60 meninas passaram pelo Quarto 28 em Theresienstadt. Dessas, apenas 15 sobreviveram à guerra e sete delas continuam vivas, quatro delas em Israel, uma nos Estados Unidos, uma na República Tcheca e outra na Áustria. Cada cama abrigava três garotas e elas conviviam com o frio, doenças e comida racionada. No total, 15 mil crianças passaram por Theresienstadt e apenas 900 sobreviveram. Toda essa história é contada em detalhes no livro no qual a exposição se baseou, escrito pela alemã Hannelore Brenner, que conheceu as sobreviventes em um evento e se encarregou de contar a história delas.

Foi nesse ambiente que a artista visual judia e comunista Friedl Dicker-Brandeis, ex-aluna da Bauhaus e amiga de nomes como Kandisnky, ensinava noções de arte e desenho às crianças. “O quarto ficava no terceiro andar, então a vista de lá era muito usada nas aulas. Elas saíam da realidade dura do campo e entravam em uma fantasia. Os desenhos delas não eram tristes e não retratam a guerra. Há temas como o fundo do mar, as pirâmides, paisagens. Aos poucos, os desenhos ficam mais sofisticados. Quando a guerra avançou e a tinta acabou, elas passaram a fazer colagens”, descreve Karen Zolko, uma das três curadoras da mostra.

Além das reproduções dos desenhos das garotas, está uma réplica de 18 m2 do Quarto 28 e paineis que contextualizam o momento histórico do Holocausto, além de imagens da família Stranska antes da guerra, com as irmãs Erika e Monika Stranská juntas, antes da primeira ir para Theresienstadt. A exposição tem a intenção especial de atingir um público em idade escolar, cujas informações sobre o Holocausto e o nazismo parecem distantes no tempo e no espaço. “A ideia é a de fazer os visitantes se imaginarem em uma situação como a delas. As pessoas precisam se conscientizar, ainda, até onde uma pessoa poderosa e psicopata pode chegar”, finaliza Karen.

A itinerância brasileira da exposição, que já passou pela Europa, Israel e também pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília é fruto da experiência de vida de Karen Zolko. Sua tia, Erika Stranská, passou aproximadamente dois anos no campo de Theresienstadt, até ser enviada para Auschwitz em 1944 e morta, aos 14 anos, em uma câmara de gás. Em 1974, quando tinha 13 anos, Karen visitou o Museu Judaico de Praga e sua mãe, a tcheca Monika Stranská Zolko, reconheceu um desenho de Erika entre os itens expostos por lá. Friedl Dicker-Brandeis estimulava as garotas a assinarem seus desenhos e isso possibilitou a identificação delas. A professora escondeu os cinco mil desenhos de seus alunos até ser enviada para Auschwitz, em 1944. O material foi encontrado dez anos depois e encaminhado para a atual República Tcheca.

Após a queda do regime comunista da então Tchecoeslováquia, que dificultava o fluxo de informações, a família Zolko entrou em contato com o museu e descobriu que havia, na verdade, 30 desenhos de Erika, e não apenas um. O diretor do museu citou a escritora Hannelore Brenner, autora do livro As meninas do quarto 28 como alguém a se procurar e, a partir daí, a ideia de trazer a exposição para o Brasil tomou forma. O foco, segundo as curadoras, é o de mostrar o poder transformador da arte mesmo nas situações mais adversas e a necessidade da educação para que isso não se repita. “A exposição mostra a importância do conhecimento. O campo de Theresienstadt aprisionou professores e cientistas que deram aulas para as garotas do Quarto 28 escondido dos nazistas. A exposição foi feita pelas sobreviventes em homenagem a esses educadores”.

SERVIÇO
Exposição As meninas do quarto 28
Abertura: Hoje, às 18h, apenas para convidados
Onde: Galeria Janete Costa - Parque Dona Lindu, s/n, Boa Viagem
Visitação: Quarta a sexta, das 12h às 20h; sábados e domingos, das 14h às 20h
Entrada Gratuita
Informações e agendamento de escolas: 3355-9824

Acompanhe o Viver no Facebook:

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL