Artes visuais Exposição 'Voragem' traz posicionamento de artistas sobre situação social brasileira na galeria Amparo 60 Trabalhadores, indígenas, desaparecidos da ditadura militar e os marginalizados em geral são objeto de reflexão potente dos artistas selecionados para a mostra

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 22/07/2017 11:02 Atualizado em: 22/07/2017 13:59

Em 'Postcards from Brazil', Gilvan Barreto se apropriou de imagens da Embratur para mostrar que a natureza brasileira foi palco de alguns dos piores massacres da ditadura militar. Crédito: Gilvan Barreto/Divulgação
Em 'Postcards from Brazil', Gilvan Barreto se apropriou de imagens da Embratur para mostrar que a natureza brasileira foi palco de alguns dos piores massacres da ditadura militar. Crédito: Gilvan Barreto/Divulgação

A sensação de profunda inquietude e desamparo derivada dos acontecimentos políticos e sociais no Brasil nos últimos anos foi o estopim da exposição Voragem, com dez artistas e curadoria de Eder Chiodetto, cuja abertura acontece neste sábado (22) na nova casa da Galeria Amparo 60, no Edifício Califórnia, em Boa Viagem.

Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre

Os trabalhadores, os indígenas, os desaparecidos da ditadura militar e os marginalizados em geral são objeto de reflexão potente dos artistas selecionados para a mostra. Entre os nomes que participam, estão a dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca, além de Gilvan Barreto, José Paulo, Lourival Cuquinha, Paulo Bruscky e Isabela Stampanoni, do casting da galeria, além de três convidados: André Hauck, Ivan Grilo e Jonathas de Andrade.

De acordo com o curador, o nome da mostra veio da percepção dos movimentos cíclicos da história da humanidade. “De repente, todas as conquistas se solapam e volta o preconceito, a intolerância, a desumanidade com as pessoas mais desassistidas. Parece que a voragem destrutiva vem como um furacão e a voragem construtiva é mais paulatina. Unidos, os artistas são os arautos da sociedade e condensam isso em discursos precisos”.

Paulo Bruscky, que em breve completa 50 anos de carreira e voltou recentemente da Bienal de Veneza, traz a obra Não há vagas - poema em construção, trabalho inédito retirado da Bienal do Cone Sul, na Venezuela por sua discordância dos acontecimentos políticos e da convulsão social do país. Já Lourival Cuquinha volta a criticar de forma contundente o capital em Paleta inútil, 2° ano do golpe. Ele reuniu capas de carteiras de trabalho de várias cores e fez com elas uma paleta do branco ao preto, apagando o conteúdo aos poucos. Em outra parte da galeria, foram reunidas sete flechas das etnias indígenas afetadas por Belo Monte, na qual foram postas moedas de 50 centavos, cuja lateral traz a frase “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira.

A natureza e a política se misturam em Postcards from Brazil, série do pernambucano Gilvan Barreto que recebeu o Prêmio Pierre Verger, um dos mais importantes da fotografia brasileira. A constatação de que alguns dos ambientes naturais mais bonitos do país foram palco dos piores massacres da ditadura militar levou o fotógrafo a se apropriar da estética do cartão postal e das imagens turísticas da Embratur para sublinhar a violência institucionalizada no Brasil. Cada foto tem lacunas que simbolizam os mortos pelas forças militares nesses locais e o texto de cada uma conta um pouco dessas histórias de horror.

SERVIÇO
Exposição coletiva Voragem, com curadoria de Eder Chiodetto
Abertura: Hoje, a partir das 17h
Onde: Edifício Califórnia - Rua Artur Muniz, 82, primeiro andar, Boa Viagem
Visitação: Terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 17h - até 3 de setembro
Entrada gratuita
Informações: 3033-6060

Acompanhe o Viver no Facebook:

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL