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Televisão 'Os idiotas falam tudo que querem', diz Marcelo Serrado, que apoiou Aécio e viverá Moro no cinema O ator interpreta o vilão Malagueta na novela Pega Pega, da faixa das 19h

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 13/06/2017 21:46 Atualizado em: 13/06/2017 21:25

No ar em Pega Pega, Marcelo Serrado será o juiz Sérgio Moro no cinema. Foto: Globo/Divulgação
No ar em Pega Pega, Marcelo Serrado será o juiz Sérgio Moro no cinema. Foto: Globo/Divulgação

Na era do streaming e no boom de seriados internacionais, a teledramaturgia brasileira persiste como a maior fonte de audiência da TV aberta no país e, diante do amplo alcance, a principal força de influência comportamental da sociedade no país. Novelas, minisséries e seriados ainda impactam e interferem na formação de opinião do público. Por isso, os autores e diretores se apropriam da ficção para inserir temáticas conectadas à realidade. Com o turbilhão na política, é natural que o cenário inspire direta ou indiretamente um enredo. Pega pega, a atual novela das 19h da Globo, tem como tema central um roubo organizado. A abordagem não é concentrada na política, e sim, na sociedade. Os dias eram assim, exibida na faixa das 23h na mesma emissora, tem como pano de fundo o governo militar (1964-1985).

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Uma mistura de comédia, ação e romance, Pega pega acompanha o roubo de um hotel, capitaneado pelo chefe da quadrilha, Malagueta (Marcelo Serrado). A atriz Nanda Costa interpreta a recepcionista Sandra Helena, uma das subordinadas do vilão no crime de R$ 40 milhões. "A corrupção está aí, cada vez mais na nossa cara. Pega pega é uma novela. Estamos falando de entretenimento. Não é documental, mas do jeito que a coisa anda, fica impossível não resvalar na realidade", analisa a atriz. "Acho que é fundamental alertar e conscientizar o povo do momento difícil que estamos vivendo. Mas não podemos esquecer de entreter. Novela ainda é um momento de prazer pra muita gente... O jornal já está triste demais", complementa Nanda, em entrevista ao Viver.

Ao planejar o roubo milionário do cofre do hotel Carioca Palace, cenário principal do folhetim, Malagueta acredita em impunidade. A forte crença é uma clara conexão com o momento político do país. "Existe um senso comum de que o crime no Brasil acaba por compensar, já que a impunidade não é incomum. Então, haver um personagem numa novela, ainda por cima das sete, que acredite na impunidade, é uma representação de um pensamento", contextualiza o pesquisador Fábio Costa, autor de Novelas: A obra aberta e seus problemas.

Em um período turbulento para o governo Temer, no qual manifestações sistemáticas são realizadas em prol das Diretas Já, Os dias eram assim, supersérie/novela das 23h da Globo, retrata o período do governo militar (1964-1985) e mostrará a redemocratização. Diante do tema central, a trama sofre comparações constantes com a minissérie Anos rebeldes. Exibida há 25 anos na Globo, a minissérie se tornou um símbolo do movimento Caras-pintadas, manifestação popular a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo. Com 20 episódios, a trama, disponível no serviço de streaming da emissora, o Globo Play, era ambientada no mesmo período e acompanhava a luta de amigos contra a ditadura.

Assinada por Gilberto Braga, com colaboração de Sérgio Marques, Ângela Carneiro e Ricardo Linhares, a produção se tornou um clássico da teledramaturgia brasileira e é um dos exemplos em que houve clara conexão entre a ficção e a realidade. "Ao mostrar uma juventude consciente e atuante diante do panorama político do país, a minissérie despertou na geração nascida nos anos mostrados pela ficção que valia a pena e era importante ir à rua e lutar pelos direitos de todos nós", exemplifica o pesquisador Fábio Costa. Com a TV aberta mais predominante no início dos anos 1990, sem streaming e no período introdutório da TV por assinatura, Anos rebeldes exerceu maior poder de influência, principalmente em comparação aos dias atuais, já que a audiência é desmembrada. Ainda assim, a teledramaturgia se desdobra para se conectar com a realidade.
Em Pega Pega, Serrado conduz um roubo milionário. Foto: Globo/Divulgação
Em Pega Pega, Serrado conduz um roubo milionário. Foto: Globo/Divulgação

Entrevista

Marcelo Serrado // ator

Você é o vilão da trama. Acredita que o seu personagem tem traços do caráter do brasileiro? Quais?

A lei de levar vantagem em tudo. Fazer um roubo aqui para justificar uma outra coisa. A gente não pode generalizar. A gente está em um momento que tudo generaliza: "fulano é isso. Fulano é aquilo". Não, gente. Tem muito brasileiro que é diferente, pensa diferente, é correto, trabalhador. Meu personagem é a parte que não é. É a parte ruim da força.


Malagueta acredita na impunidade. Essa é uma conexão com a realidade brasileira?

Acho que sim. Ele acredita que não vai ser pego. Isso está mudando um pouco, porque os políticos devem ter um certo medo. Se bem que quando a gente vai para o interior do país, vai continuar roubando e recebendo propina.

Você se considera uma pessoa de esquerda? Por quê?
Eu me considero um cara de centro, na verdade. Já fui de esquerda muitos anos. E já votei tanto de esquerda, como de direita. Não me arrependo porque fiz meu papel como cidadão. Quem tem que pagar são eles. O cidadão tem que votar e deixar com eles. É uma pena. Porque a gente vê pessoas em que a gente votou sendo investigadas, acusadas, e eu quero que eles paguem e sejam presos se eles fizeram. Toda pessoa direita e correta pensa a mesma coisa.

Você é a favor das Diretas Já hoje?
Sou a favor das Diretas, desde que ninguém que seja investigado pela Lava-Jato. Se for assim, sou a favor. E se tiver apoio popular. Mas acho muito difícil passar, porque esse Congresso não tem a menor legitimidade. Eles não vão deixar isso acontecer. Isso vai demorar 60 dias para passar pelo Congresso. Próximo ano, já tem eleições. É muito complicado. Se for um desejo de todo mundo, com certeza. Apoio, então vamos botar ninguém que seja investigado.

Muitos artistas são cobrados ao externar suas opiniões. Já sofreu alguma reação negativa por isso?
Na internet, sim. Mas a internet é muito boba. Como diz Umberto Eco, a internet deu voz aos idiotas. Os idiotas falam tudo que querem. Eu parei de me posicionar politicamente porque é sempre uma patrulha. Você é direita, você é de esquerda. Esse Fla-Flu. As pessoas apontando o dedo para os outros, né? Olha para o seu umbigo e vai correr atrás da sua vida.

No cinema, você viverá o juiz Sérgio Moro. Como foi incorporá-lo?
Foi muito bom. Um cara muito simples. Não se considera um herói. Mas como toda pessoa, ele deve ter suas falhas também. Eu não estou aqui para enaltecer, nem para julgar ele. Acho que ele está tentando fazer uma coisa correta. Mas a Lava-Jato é maior que ele. Se ele sair da operação, vai entrar um juiz no lugar dele. Ele está tentando ajudar o país. Essa coisa do herói não é bacana. Nem para ele, nem para qualquer pessoa. É difícil colocar um cara no patamar dele, dizendo que é herói. Vamos ver o tempo vai dizer.

+ Política na teledramaturgia

O bem-amado (1973)

Protagonista da novela de Dias Gomes, Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) é uma das maiores representações dos políticos brasileiros na teledramaturgia, com traços fortes da corrupção que permanecem atuais. No jogo político, ele enfrenta oposição, faz alianças e tenta armar a morte de pessoas.

Vale tudo (1988)
Exibida em décadas passadas, a novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères ainda é contemporânea. A trama central mostrava os conflitos de uma mãe honesta, Raquel (Regina Duarte), e a filha inescrupulosa, Mária de Fátima (Glóra Pires). As cenas enriqueciam o debate sobre honestidade no Brasil.

Roque Santeiro (1985)
Inicialmente, a produção seria exibida na década de 1970, mas foi censurada. O folhetim, de Dias Gomes com coautoria de Aguinaldo Silva, girava em torno da vida política e econômica da fictícia cidade de Asa Branca. O personagem Sinhozinho Malta era um dos responsáveis por falsos mitos.


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