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Nós, romance que influenciou Admirável Mundo Novo e 1984, ganha nova edição brasileira

Obra escrita pelo russo Ievguêni Zamiátin é considerada a primeira distopia da ficção

Publicado: 03/06/2017 às 09:00

Censurado, autor foi proibido de publicar no próprio país. Foto: Radio Aranova/Divulgac%u0327a%u0303o/

Censurado, autor foi proibido de publicar no próprio país. Foto: Radio Aranova/Divulgac%u0327a%u0303o/

Censurado, autor foi proibido de publicar no próprio país. Foto: Radio Aranova/Divulgac%u0327a%u0303o
 Monitoramento da vida dos cidadãos, governos autoritários e distorções da informação fazem parte do dia a dia de nações em várias partes do globo. Esse panorama sombrio, cada vez mais próximo às narrativas ficcionais de autores como George Orwell ou Aldous Huxley, foi vislumbrado pela primeira vez na literatura por um nome pouco conhecido do público: Ievguêni Zamiátin. Ao escritor russo é creditada a distopia pioneira, o livro Nós (Aleph, 344 páginas, R$ 59,90), que ganha nova edição no Brasil, traduzida do russo por Gabriela Soares.

Escrito nos anos 1920, o romance foi publicado pela primeira vez em 1924, nos EUA, longe da terra natal do autor, já que o texto foi censurado na União Soviética. A história imaginada por Zamiátin mostra uma sociedade que suprimiu as noções de liberdade e individualidade em prol de suposta ordem. A nação Estado Único é regida por um grande líder, o Benfeitor.

Sem nomes próprios, os indivíduos são identificados a partir de uma combinação de letras e números. O personagem central, D-503, é um engenheiro entusiasta do regime que trabalha na construção da Integral, uma nave espacial cujo propósito é levar os conceitos do Estado Único para outros pontos do universo. Sem nunca questionar a opressão desse sistema que obriga cidadãos a viverem em apartamentos com paredes de vidro, sendo fiscalizados e fiscalizando os outros, o construtor começar enxergar falhas na sociedade ao entrar em contato com um grupo opositor.

Os conceitos básicos da história remetem a clássicos do gênero. George Orwell, autor de 1984, outra famosa distopia, escreveu uma resenha sobre Nós, inclusa nesta edição, e compara a obra com Admirável mundo novo, de Huxley. "Ambos os livros tratam da rebelião do espírito humano primitivo contra um mundo indolor, mecanizado e racionalizado", assinala no texto, publicado em 1946, três anos antes de 1984 ser lançado.

O romance foi construído a partir das impressões do autor sobre a Revolução Russa de 1917. Além de ter essa obra censurada no país - o livro só foi publicado oficialmente na União Soviética em 1988 -, Zamiátin foi preso duas vezes: primeiro em 1906, pelo governo czarista, depois pelos bolcheviques, em 1922. O autor também chegou a ser exilado e proibido de publicar outros textos, além de Nós, no país.

Em 1931, seis anos antes de morrer, o autor escreveu uma carta a Stálin pedindo autorização para mudar-se para Paris, onde viveu até o fim da vida. Na correspondência, publicada neste volume, ele escreve: "Eu sei que tenho o hábito altamente inconveniente de dizer o que considero ser a verdade em vez de dizer o que pode ser considerado conveniente no momento".



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