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Música Manifesto exige política cultural para valorizar quadrilhas e forrozeiros no São João A carta do produtor cultural Afonso Oliveira vem acompanhada de um abaixo-assinado, fomentando a atual polêmica sobre a preservação do São João

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/06/2017 20:20 Atualizado em: 21/06/2017 20:28

O abaixo-assinado pede pela preservação das festas juninas locais. Foto: Gil Vicente/DP
O abaixo-assinado pede pela preservação das festas juninas locais. Foto: Gil Vicente/DP

O produtor cultural Afonso Oliveira divulgou, nesta terça-feira (20), a Carta-Manifesto São João de Pernambuco. A publicação foi feita no site change.org, plataforma de abaixo-assinados online, com um texto intitulado Manifesto do milho ou do gripo do Damião Danado, que procura pressionar o Governo do Estado, a Fundarpe e a Secretaria de Cultura do Estado por mais investimento nas festas juninas tradicionais. O abaixo-assinado de Afonso tem o foco atingir 500 assinaturas.

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No texto, o produtor pede que as entidades públicas invistam no Sâo João "da mesma forma que investem no Carnaval", tendo a festa carnavalesca como um exemplo de protagonismo da diversidade cultural local, em que manifestações como frevo, maracatu, troças e caboclinhos passaram por um processo de valorização nos últimos anos. Para Afonso, chegou a vez do São João passar pela mesma ordem.

Para que essa transformação seja possível, o Manifesto do milho ou do gripo do Damião Danado pede uma maior distribuição de verbas e planejamento de ações que englobem as quadrilhas juninas de bairros do Recife, do interior e os artistas pernambucanos. "Que a Fundarpe amplie o processo de curadoria e da convocatória pública e que use sua experiência para unir artistas, cidadãos, imprensa, empresas e governo", diz a carta.

Forrozeiros X Sertanejos

O abaixo-assinado é mais um episódio da controvérsia iniciada por Elba Ramalho, quando criticou a programação de Campina Grande pelo espaço tomado por artistas da música sertaneja nas grades juninas. Assim, se iniciou o movimento Devolvam meu São João, encabeçado por artistas da terra e de ritmos tradicionais.

A opinião de Afonso Oliveira dialoga com o movimento dos forrozeiros. "Os festejos juninos em Pernambuco devem ter como protagonistas seu povo e seus artistas – e não atrações vindas de fora a peso de ouro, que em nada contribuem para o enriquecimento cultural da festa", diz outro trecho do manifesto.

A discussão ganhou ainda mais força quando a sertaneja Marília Mendonça, durante seu show no São João da Capitá, rebateu o discurso de Elba e alegou que havia espaço para todos nas programações. "Vai ter sertanejo no São João, sim", disse a cantora.

As falas da goiana não soaram bem para os artistas pernambucanos, e Alcymar Monteiro deu continuidade para a rixa ao fazer duras críticas à Marília. "Por favor, ponha a sua mão na consciência, você vem lá de Goiás invadir nossa praia", declarou. O forrozeiro ainda disse que "querem acabar com nossas tradições". "Vão se danar e deixem a gente em paz", disparou.

Confira o texto da Carta Manifesto São João de Pernambuco - Manifesto do Milho ou o grito do Damião Danado na integra

"Luiz Caboclo, em Chã de Camará, passa o mês de março dentro da roça plantando milho; lá em Serra Talhada, Zé de Deus vende rede e quando chega em casa tira um som nos oito baixos, lembrando de Lampião e de Baixinho de Vicência. Nos estúdios de ensaios do Recife, a Cabeça Elétrica e o Coração Acústico dão o tom da novidade. Perto de chegar em Limoeiro, o Irmão abençoado prepara vinte mil pamonhas e canjicas enquanto ensaiam as quadrilhas. Ah! As quadrilhas vêm antes do dia de São José ensaiando para fazer bonito e ganhar o concurso onde houver concurso. Lá do Céu, Luiz Gonzaga, Marinês e Jackson do Pandeiro observam tudo. Enquanto, aqui embaixo, Damião Danado manda um recado que é preciso deixar bem claro que a situação tem que mudar e o São João tem que contar com um grande investimento do Governo do Estado. Para que a festa do milho recupere a força e se torne tão grande e diversa como o Carnaval.

Foi a partir do investimento do Governo do Estado e das Prefeituras que o Carnaval de Pernambuco é hoje um dos maiores do mundo e rico em diversidade. Nossos Maracatus, grupos de Frevo, Troças, Ursos, Caboclinhos, Clubes e Escolas de Samba que estavam desvalorizados passaram por um processo de preservação e renovação. Ao mesmo tempo o Recife Antigo e várias cidades do Interior ganharam não apenas em estrutura de palco e som, mas também a cultura popular feita no chão calçado ou nos terreiros e bairros ganharam projeção e investimento. Esse processo do Carnaval precisa melhorar e avançar, mas não se pode negar o resultado que uniu povo, governos, imprensa, empresas e artistas tirou da estagnação nossa Folia de Momo – mesmo que este modelo também deve ser, em alguns pontos, repensado e que seus gargalos ainda careçam de solução, no tocante à valorização e pagamento do artista pernambucano, muitas vezes relegados ao segundo plano.

É isso que nós que assinamos essa carta manifesto queremos e exigimos. Que o Governo do Estado de Pernambuco assuma seu papel de protagonista e invista no São João, a partir de 2018, da mesma forma que investe no Carnaval. Invista nas Quadrilhas de Bairros do Recife e do Interior, nos encontros de Coco de Roda, e que de forma forte garanta a participação de nossos forrozeiros em todos os palcos de Pernambuco. Que nossos grupos de Pé de Serra que têm nome, deixem de ser chamados nas programações apenas de Grupo de Pé de Serra, ou atração local, como se os mesmos não tivessem identidade próprias. Que as Bandas e Artistas que bebem na fonte do forró, do coco, da embola e do xaxado tenham espaço para mostrar as suas invenções criativas. Que a Fundarpe amplie o processo de curadoria e da convocatória pública e que use sua experiência para unir artistas, cidadãos, imprensa, empresas e governo. Os festejos juninos em Pernambuco devem ter como protagonistas seu povo e seus artistas – e não atrações vindas de fora a peso de ouro, que em nada contribuem para o enriquecimento cultural da festa.

Dessa forma Damião sem deixar de ser danado vai poder comer milho, pamonha, dançar forró, ao som de triângulo, sanfona, zabumba, guitarra, pandeiro, baixo e bateria. Seja no Terreiro ou na Praça. Seja no Sitio ou na Praia. Seja na Quadra ou na Rua. Com muita gente ou apenas com família. Precisamos da vontade política, porque o resto está pronto. Somos todos artistas, produtores, empresários e cidadãos afim de trabalhar para que o São João seja um período onde todo mundo colha, toque, participe e se divirta".

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