Literatura Livro examina papel pernambucano no simbolismo brasileiro Três Poetas: Na Periferia do Simbolismo, do professor Fábio Andrade, investiga as obras de Mendes Martins, Domingos Magarinos e Agripino Silva

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 28/06/2017 20:00 Atualizado em: 28/06/2017 21:02

Fábio Andrade é professor de letras na Universidade Federal de Pernambuco e lança livro como descobramento de pesquisa que durou cerca de 15 anos. Foto: Arquivo Pessoal/Cortesia
Fábio Andrade é professor de letras na Universidade Federal de Pernambuco e lança livro como descobramento de pesquisa que durou cerca de 15 anos. Foto: Arquivo Pessoal/Cortesia

Se Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e António Nobre são alguns dos nomes proeminentes do simbolismo europeu na literatura, Cruz e Sousa, de Santa Catarina, e o mineiro Alphonsus de Guimaraens são citados nos livros didáticos como os mais conhecidos do Brasil nesse segmento. Mas foi fora do eixo Sul-Sudeste, em Pernambuco, que viveram grandes expoentes do estilo subjetivo, cujas produções eram voltadas para temas fora do espectro da lógica e da razão. É o que busca mostrar o professor da Universidade Federal de Pernambuco Fábio Andrade no livro Três poetas: Na periferia do simbolismo, que será lançado nesta quinta-feira (29). A obra, disponibilizada gratuitamente por meio do site da Editora UFPE no formato e-book, investiga o legado de Mendes Martins, Domingos Magarinos e Agripino Silva, os principais representantes do movimento no estado.

"Na década de 1950, José Cândido de Andrade Muricy fez o primeiro panorama do simbolismo no Brasil, mas é um livro que ainda olha pouco para o Nordeste e, sobretudo, para Pernambuco. Essa geração simbolista aqui foi muito forte, eram vários escritores que dialogavam entre si, constituindo quase uma cena", acredita Fábio. Ele atribui o "esquecimento" do estado perante o contexto geral a uma série de fatores, incluindo a renegação do próprio simbolismo por parte da crítica da época pelo fato de se afastar de uma identidade nacionalista, como fez o romantismo, por exemplo. O livro é uma espécie de desdobramento de O Fauno dos trópicos (2015), no qual Fábio começou a jogar luz sobre a influência de Pernambuco no movimento nacional a partir do mapeamento de 13 autores, incluindo os que estão sendo analisados agora. A escolha de Mendes Martins, Domingos Magarinos e Agripino Silva se deu pela representatividade que cada um tem em relação às características do simbolismo: "Martins é o que melhor expressou o decadentismo, vertente mais melancólica e subjetiva do simbolismo. Domingos é o simbolismo mais puro, com influência de Cruz e Souza. E Agripino dá início à fusão com o parnasianismo".

Além de chamar a atenção para esses artistas, o objetivo do escritor com Três poetas: Na periferia do simbolismo é propor uma mudança no estudo da literatura. "Talvez o trabalho comece a contribuir para uma visão mais ampla do movimento, que de alguma maneira é interessante. Meu sonho é que os professores comecem a se apropriar disso, saindo do âmbito acadêmico e indo para as escolas", defende Fábio Andrade. A concretização desse desejo é o fruto de aproximadamente 15 anos de consultas em arquivos públicos e coleções especiais que começaram ainda na graduação, de maneira independente, passando por um projeto de pesquisa, quando se tornou professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O trabalho foi redobrado por se tratar da busca de materais considerados raros. "Eles quase não reuniram suas obras em livros, fazendo com que as publicações se concentrassem sobretudo em jornais e revistas, que se tornaram umas das minhas fontes principais", explica Fábio.

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