Cinema Estreia de Leandra Leal na direção, Divinas Divas faz importante registro sobre diversidade de gênero Documentário resgata trajetória de oito travestis pioneiras na cena teatral carioca

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 22/06/2017 13:36 Atualizado em: 22/06/2017 17:50

Longa celebra mais de 50 anos de carreira das artistas. Foto: Daza Filmes/Divulgação
Longa celebra mais de 50 anos de carreira das artistas. Foto: Daza Filmes/Divulgação

Em plena ditadura militar no Brasil, um grupo de travestis teve coragem de dar os primeiros passos na promoção da arte performática no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. Oito representantes do movimento, Brigitte de Búzios, Camille K, Divina Valéria, Eloína dos Leopardos, Fujika de Halliday, Jane Di Castro, Marquesa e Rogéria, têm a trajetória lembrada no documentário Divinas divas, em cartaz a partir de amanhã nos cinemas.

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O título, estreia de Leandra Leal na direção, foi exibido anteriormente na capital, em novembro, no Recifest: Festival da Diversidade Sexual e de Gênero e, em março deste ano, ganhou o prêmio Melhor Filme no Júri Popular do festival South by Southwest (SXSW), nos EUA. "Acho que sempre quis dirigir, talvez esse projeto tenha dado caminho para realizar o desejo", afirma a diretora, que tem relação de proximidade com as personagens retratadas no documentário.

Neta de Américo Leal, responsável pelo Teatro Rival, no Rio a atriz desde cedo entrou em contato com o meio artístico. O Rival era um dos principais redutos dos espetáculos apresentados pelas travestis a partir dos anos 1960 e, na década de 1990, passou a ser administrada por Ângela Leal, mãe de Leandra.

Com quase duas horas de duração, o filme divide de maneira equilibrada o tempo de tela de cada uma das oito artistas, que repassam detalhes dos mais de 50 anos de carreira, dificuldades, relacionamentos e causos. Mesmo em passagens mais delicadas, como os relatos de preconceito e censuras aos espetáculos, mantém certa leveza, graças ao bom humor das protagonistas.

Bastante sensível, o olhar de Leandra Leal extrai bem a essência das biografadas e, ao revelar essas trajetórias individuais, faz um relato importante sobre a diversidade de gênero. "Cada uma mereceria um filme e, juntas, as histórias constroem um mosaico geracional", diz a diretora. Por conta da grande quantidade de material obtido nas gravações, a cineasta estreante cogita, futuramente, adaptar o documentário para o formato de série, o que permitiria desenvolver melhor a narrativa.

Embora considere que o filme "não se propõe a esmiuçar a identidade de gênero", Leandra Leal acredita que o momento é oportuno para discutir o tema. "A média de vida de uma pessoa trans no brasil é 34 anos", diz a diretora, que enxerga retrocessos quanto à questão. "É muito contraditório. Na ditadura, o governo tinha uma postura muito clara com a censura, mas existiam mais teatros para elas se apresentarem. Isso revela como a sociedade se rendeu a uma onda conservadora", aponta. Leandra diz que gostou da experiência na direção, mas não tem planejado um próximo trabalho como cineasta. “Sou muito feliz como atriz, e pretendo dirigir só projetos que me motivem como artista, como pessoa”, pontua.


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