Segundo diretor, filme é focado no pensamento e não na biografia de Olavo de Carvalho. Foto: Matheus Bazzo/Divulgação

Iniciadas as vendas das entradas para o Cine PE, o cineasta pernambucano Josias Teófilo convidou amigos e seguidores da página pessoal no Facebook para a exibição do filme O jardim das aflições no Recife, durante o festival. O chamado, no entanto, ia além do propósito de divulgação, e refletia também preocupação do diretor, que diz temer protestos durante a projeção, nesta noite, no Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175).

Confira o horário dos filmes em cartaz no Divirta-se

"É muito importante que gente do nosso lado compre os ingressos para a sessão do Jardim no Cine PE para quarta, porque é bastante provável que esquerdistas comprem ingressos para tumultuar ou tentar tumultuar a sessão", dizia a postagem publicada na noite de segunda-feira. O diretor afirma sofrer patrulhamento ideológico por conta da escolha do personagem central do filme, o filósofo Olavo de Carvalho. "Suspeito de atos de violência, tentativas de aterrorizar as pessoas que estejam lá vendo o filme", ressalta.

Um dos motivos que levou alguns cineastas a retirarem seus filmes do festival, o longa de Josias Teófilo acabou ganhando uma inesperada visibilidade com a polêmica. No início de maio, oito realizadores se desligaram do evento alegando que "a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016". Embora Olavo de Carvalho seja encarado como ícone por grande número de representantes da direita, Josias Teófilo descarta qualquer viés ideológico no documentário. "Se um filme se filia a uma corrente de pensamento político, é uma peça retórica, e não uma obra de arte. Pasolini era comunista, mas podemos dizer que seus filmes são comunistas? Seria impensável", compara.

[Entrevista – Josias Teófilo, cineasta

O livro que você escreveu sobre seu avô, O cinema sonhado (2014), é um projeto bastante pessoal. O jardim das aflições também pode ser considerado assim?
Sim, totalmente. Em O Cinema sonhado eu tratei de como os antepassados agem e vivem na nossa vida. O mesmo tema é tratado no Jardim, é o tema final, conclusivo. Existe continuidade entre as duas obras.

Ao que você credita as diversas críticas negativas ao filme, antes mesmo da estreia?
Isso é produto da patrulha ideológica que existe há um bom tempo no cinema brasileiro. Gente que não aceita o pensamento minimamente divergente. Eu poderia ter feito um filme sobre a Marilena Chauí sem o menor problema, não poderia? O mesmo para o Leandro Karnal. Mas um filme sobre Olavo de Carvalho não pode. A conclusão que tiramos disso é que existe patrulha temática (e prévia, porque nem ao menos viram meu filme) no cinema brasileiro.

Você afirma que direcionamento político em filmes desvirtua o caráter da obra, transformando-a não em arte, mas em peça retórica. O mesmo pensamento não poderia ser aplicado no caso do seu documentário, ao explorar determinada linha filosófica e o pensamento católico?
Catolicismo não é uma ideologia, nunca foi nem nunca será. Eu poderia ter feito um filme de apologética católica – é bem diferente, e muito mais elevado, do que filme retórico voltado para política, como está cheio no cinema brasileiro. Mas não fiz. Fiz filme sobre um pensador que inclusive diz, no próprio filme, que não acredita em religião. Ele diz que acredita em fatos: o nascimento e ressurreição do nosso senhor Jesus Cristo, a sucessão apostólica, e etc. Tudo isso está comprovado historicamente, a não ser que você use como fonte a revista Superinteressante.

+Programação 
Além de O jardim das aflições, o segundo dia do Cine PE terá exibição outros seis filmes, todos em curta-metragem. Três delas são animações: Almas secas, de Elvis Miranda e Helena Ferreira, Marina e o passarinho perdido, de Marcos França, e O ex-mágico, de Olímpio Costa e Mauricio Nunes, todas de Pernambuco, sendo esta última o único título do estado disputando na mostra competitiva de curtas nacionais. Soberanos da resistência (PE), de Marcus Paiva, e Luiza (PR), de Caio Baú, integram a lista de curtas documentais, enquanto Dia dos namorados (RS), de Roberto Burd, é a única ficção. 

SERVIÇO

Cine PE

Quando: 27 de junho a 3 de julho

Onde: Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175, Boa Vista)

Quanto: R$ 5

Informações: 3461-2765

Confira a programação:

 

QUARTA-FEIRA (28/6) - 19h30

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE)

 

- Almas Secas (PE). Animação. Direção: Elvis Miranda e Helena Ferreira, 2’ 

- Marina e o passarinho perdido (PE). Animação. Direção: Marcos França, 4’ 

- Soberanos da Resistência (PE). Documentário. Direção: Marcus Paiva, 12’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS (MOSTRA CURTA BRASIL) 

 

- O Ex-Mágico (PE). Animação. Direção: Olimpio Costa e Mauricio Nunes, 11’ 

- Luiza (PR). Documentário. Direção: Caio Baú, 15’ 

- Dia dos Namorados (RS). Ficção. Direção: Roberto Burd, 9’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS 

 

- O Jardim das Aflições (PE). Documentário. Direção: Josias Teófilo, 81’ 

 

QUINTA-FEIRA (29/6) 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE) 

 

- Aqui Jaz (PE). Ficção. Direção: Brenda Ligia Miguel, 7’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS (MOSTRA CURTA BRASIL) 

 

- Retratos da Alma (DF). Documentário. Direção: Leo Bello, 20’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS 

 

- Los Leones (MG). Documentário. Direção: André Lage, 79’ 

 

- Borrasca (SP). Ficção. Direção: Francisco Garcia 74’ 

 

SEXTA-FEIRA (30/6) 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE) 

 

- O Menino do Canto do Mar (PE). Documentário. Direção: Ulisses Andrade, 19’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS (MOSTRA CURTA BRASIL) 

 

- Peleja do Sertão (CE). Animação. Direção: Fábio Miranda, 14’ 

- Mulheres Negras: Projetos de Mundo (SP). Documentário. Direção: Lucas Ogasawara, 25’  

 

HOMENAGEM – RODRIGO SANTORO MOSTRA 

 

COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS 

 

- O Crime da Gávea (RJ). Ficção. Direção: André Warwar, 78’ 

 

SÁBADO (1/7) - 19h30

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE) 

 

- Autofagia (PE). Ficção, Direção: Felipe Soares 11’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS (MOSTRA CURTA BRASIL) 

 

- Quando os dias eram eternos (SP). Animação, Direção: Marcus Vinícius Vasconcelos, 13’

- O Tronco (SP). Ficção. Direção: Leonardo Rocha e Luna Grimberg, 21’ 

- Sal (SP). Ficção. Direção: Diego Freitas, 15’ 

 

HOMENAGEM – CÁSSIA KIS

 

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS 

 

- Toro (SP), Ficção. Direção: Edu Felistoque, 83’  

 

DOMINGO  (2/7) - 19h30

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS (MOSTRA PE) 

 

- Entre Andares (PE). Documentário. Direção: Aline van der Linden e Marina Moura Maciel ,15’ 

 

MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS (MOSTRA CURTA BRASIL) 

 

- José (DF). Animação. Direção: Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos, 12’ 

 

- Aqueles anos em Dezembro (SP). Documentário. Direção: Felipe Arrojo Poroger, 18’  

 

MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS

 

- O Caso Dionísio Diaz (RJ). Documentário. Direção: Chico Amorim e Fabiana Karla, 54’ 

 

SEGUNDA-FEIRA (3/7) - 19h30 

 

SOLENIDADE DE ENCERRAMENTO 

 

EXIBIÇÃO DE FILME HORS CONCOURS 

 

- Duas Mulheres (PE). Ficção. Direção: Marcelo Brennand

- Atum, Farofa & Spaghetti (SP). Documentário. Direção: Riccardo P. Rossi 

 

 

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