Música Dez forrós que você canta errado e não sabia Tá é danado de bom, tá é danado de bom, forrozinho... bonitinho? miudinho? gostosinho? erradinho?

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/06/2017 14:00 Atualizado em: 23/06/2017 18:24

Público e intérpretes trocam as bolas e confundem palavras e frases de canções clássicas do forró. Arte: Samuca/DP
Público e intérpretes trocam as bolas e confundem palavras e frases de canções clássicas do forró. Arte: Samuca/DP


[FOTO2]Os festejos juninos no Nordeste resgatam as tradições e têm o forró como trilha sonora oficial. O cancioneiro popular da festa é composto por termos e expressões particulares do universo rural. Clássicos de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Trio Nordestino e outros compositores do gênero, entretanto, são alvo da confusão do público e de intérpretes. O Viver pediu sugestões a quem entende do assunto e listou os dez forrós que (quase) todo mundo canta errado. 


"É comum haver confusão quando o assunto são as letras. Isso faz parte da cultura brasileira. O povo quer cantar e, embora não domine, termina fazendo à sua maneira", observa o cantor e compositor Maciel Melo, que recentemente interpretou um repentista na novela Velho Chico (Globo).  

"Já ouvi cantarem 'Melequinha, como vão? Tá tudo bem?' na música Caboclo sonhador", relembra o artista. "A responsabilidade de estar no palco é muito grande. Às vezes, o cantor pode se emocionar e acaba trocando um verso ou frase", comenta. Maciel costuma se divertir com as gafes do público em geral e até de companheiros de profissão. "Aproveitamos para tirar sarro nos bastidores. A música, de certa forma, permanece na cabeça nas pessoas". 

As músicas de Gonzaga, o Rei do Baião, não escaparam. Por exemplo, não é tarefa nada fácil reproduzir item por item do que se vende em A feira de Caruaru, escrita por Onildo Almeida. Em Danado de bom, o desafio é acertar a ordem dos diminutivos. Já em Olha pro céu, o autor quis dizer que balão multicor está "sumindo", ou seja, desaparecendo. 

O poeta Petrúcio Amorim listou composições que já foram confundidas. "As pessoas cantam de acordo com o que elas ouvem. Hoje em dia, perdeu-se o costume de acompanhar com a letra na mão. Até os títulos sofrem alterações", comenta. O clássico Meu cenário foi confundido com "meu canário", o pássaro. Com título oficial Filho do dono, a faixa só é lembrada pelo refrão: 'Canta boi com sede bebe lama!', pediu um fã. "O povo nem percebe o erro, eles só querem dançar", analisa Petrúcio. O forrozeiro Santanna chama a atenção para erros que interferem no sentido da música. "As letras erradas são propagadas e terminam caindo no imaginário coletivo", observa. 

Confira as letras corretas de canções tradicionais e os erros mais comuns, apontados por intérpretes e compositores:

Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
O correto é  "qual" fogueira, que significa como fogueira

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão

Quando o verde dos teus óio
Se espaiar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Caboclo Sonhador (Maciel Melo)
Os nomes de Neca e Quinha são confundidos. Alguns trocam até por "melequinha", segundo Maciel 

Sou um caboclo sonhador
Meu senhor, viu?
Nao queira mudar meu verso
Se e assim não tem conversa
Meu regresso para o brejo
Diminui a minha reza

Coração tão sertanejo
Vejam como anda plangente o meu olhar
Mergulhado nos becos do meu passado
Perdido na imensidão desse lugar
Ao lembrar-me das bravuras de neném
Perguntar-me a todo instante por Bahia
Neca e Quinha, como vão? tá tudo Bem? 
Meu canto á tanto quanto canta o sabiá

Sou devoto de Padre Ciço Romão
Sou tiete do nosso Rei do Cangaço
E meu regaço formigado cuminado em pensamento
Em meu rebento sedento eu quero chegar

Deixe que eu cante cantigas de ninar
Abram alas para o novo cantador
Deixem meu verso passar na avenida
Um forro fiado tão da bexiga de bom

Chililique (João Silva e JB de Aquino)
O caldo de feijão é no bar, não no bafo!

O maior forró pelo que eu ouvir dizer
É na praia da ilha, você pode crer (2X)

Que as dez da noite, o forró já tá de pé
Sanfoneiro abre a sanfona e só se vê chegar mulher
Tem buscapé, o caldo de feijão no bar 
A meia légua de escuta, o som do chinelo chiar

É o chililique, chililique, chililique,
Chililique, chililique, a poeira levantar
É o chililique, chililique, chililique
Se a gente quer um repique o cabra no zabumba dá. (2X)

Danado de Bom (Luiz Gonzaga / João Silva)
O maior desafio é acertar a ordem dos diminutivos

Tá é danado de bom
Tá danado de bom meu compade
Tá é danado de bom
Forrozinho bonitinho,
Gostosinho, safadinho,
Danado de bom

Olha o natamira na zabumba
O zé cupira no triângulo
E mariano no gonguê
Olha meu compadre na viola
Meu sobrinho na manola
E cipriano no melê
Olha a meninada nas cuié
Tá sobrando capilé
E já tem bêbo pra daná,
Tem nego grudado que nem piolho
Tem nega piscando o olho
Me chamando pra dançar.
Tem nego grudado que nem piolho
Tem nega piscando o olho
Me chamando pra dançar.
E eu vô lá

Tá é danado de bom
Tá danado de bom meu compade
Tá é danado de bom
Forrozinho bonitinho,
Gostosinho, safadinho,
Danado de bom

Tá, que forrozinho de primeira
Já num cabe forrozeiro
E cada vez chegando mais
Tá, da cozinha e do terreiro,
Sanfoneiro, zabumbeiro
Pra frente e pra trás
Olha meu compadre damião
Pode apagar o lampeão
Que tá querendo clarear
Agüenta o fole meu compadre bororó
Que esse é o tipo de forró
Que não tem hora pra parar.

Tá é danado de bom
Tá danado de bom meu compade
Tá é danado de bom
Forrozinho bonitinho,
Gostosinho, safadinho,
Danado de bom

Meu cenário (Petrúcio Amorim)
A esteira vira uma "estrela" e a brechinha um "buraquinho"

Nos braços de uma morena
Quase morro um belo dia
Ainda me lembro
O meu cenário de amor
Um lampeão aceso
Um guarda-roupa escancarado
Um vestidinho amassado
Debaixo de um baton
Um copo de cerveja
E uma viola na parede
E uma rede
Convidando a balançar
Num cantinho da cama
Um rádio a meio volume
Um cheiro de amor
E de perfume pelo ar

Numa esteira
O meu sapato
Pisando o sapato dela
Em cima da cadeira
Aquela minha bela cela
Ao lado do meu velho
Alforge de caçador
Que tentação
Minha morena me beijando
Feito abelha
E a lua malandrinha
Pela brechinha da telha
Fotografando o meu cenário
De amor

Numa sala de reboco (Zé Marcolino / Luiz Gonzaga)
É comum escorregar nesta: o autor canta que o fole está fungando e não tocando, como entoam por aí... 

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco

Enquanto o fole tá fungando, tá gemendo
Vou dançando e vou dizendo meu sofrer pra ela só
E ninguém nota que eu estou lhe conversando
E nosso amor vai aumentando
Pra que coisa mais melhor?

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco

Só fico triste quando o dia amanhece
Ai, meu Deus, se eu pudesse acabar a separação
Pra nós viver igualado a sanguessuga
E nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão

Olha Pro Céu (Luiz Gonzaga / José Fernandes)
O verbo correto para se referir ao balão é sumindo e não subindo

Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo/subindo

Olha pro céu, meu amor
Vê como ele está lindo
Olha praquele balão multicor
Como no céu vai sumindo

Foi numa noite igual a esta
Que tu me deste o coração
O céu estava assim em festa
Pois era noite de São João

Havia balões no ar
Xote, baião no salão
E no terreiro o teu olhar
Que incendiou meu coração

Xote das meninas (Luiz Gonzaga/Zé Dantas)
O erro comum é trocar o "lá na seca" por "lá na cerca"

Mandacaru quando "fulora" na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração

Meia comprida
Não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando, sonhando acordada
O pai leva ao "dotô" a filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

Mas o "dotô" nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
Que pra tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar

Sebastiana (Rosil Cavalcanti)
A letra Y é chamada "ipsilone" em algumas cidades do interior pernambucano

Convidei a comadre Sebastiana
Pra cantar e xaxar na Paraíba
Ela veio com uma dança diferente
E pulava que só uma guariba
E gritava: a, e, i, o, u, y

Já cansada no meio da brincadeira
E dançando fora do compasso
Segurei Sebastiana pelo braço
E gritei, não faça sujeira
O xaxado esquentou na gafieira
E Sebastiana não deu mais fracasso
Mas gritava: a, e, i, o, u, y

Siá Siliça (Bira Marcolino/Fátima Marcolino)
Não, o nome dela não é Carmelita.

Cadê a lenha da fogueira
Siá Filiça
Cadê o milho pra assar
Cadê aquele teu vestidinho de chita
Que tu vestia pra dançar
Cadê aquele sanfoneiro
Que eu pedia pra tocar
A canção da minha terra
Um forró de pé-de-serra
Que eu ajudava a cantar
Quando me lembro disso tudo
Siá Filiça
Me dá vontade de chorar
Cadê aquele balãozinho
Siá Filiça
Que coloria o meu lugar
Minha esperança ainda dorme
Siá Filiça
E eu com pena de acordar
Quebrar panela no terreiro
E a fogueira pra pula
Uma quadrilha bem marcada
E um belo São João de latada
Que era bom pra namorar
Quando me lembro disso tudo
Siá Filiça
Me dá vontade de chorar

*A matéria foi publicada originalmente em 22/06/2016

Acompanhe o Viver no Facebook:

[VIDEO1]


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL