TV Série Deuses Americanos é uma poderosa metáfora da miscigenação cultural Uma das mais esperadas de 2017, produção estreou nesta semana no serviço de streaming Amazon Prime Video e faz reflexão sobre cultos atuais e antigos

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 02/05/2017 09:59 Atualizado em: 02/05/2017 20:26

O programa, cuja primeira temporada tem oito episódios, é adaptação do livro Deuses Americanos. Foto: Starzs/Divulgação
O programa, cuja primeira temporada tem oito episódios, é adaptação do livro Deuses Americanos. Foto: Starzs/Divulgação

Mesmo em uma sociedade predominantemente monoteísta como a ocidental, é possível identificar diferentes orientações religiosas associadas, direta ou indiretamente, à cultura e identidade. Deuses Americanos (American gods), nova série disponível na Amazon Prime Video desde a última segunda-feira (1 º), resgata no enredo mitos, crenças e deuses, de várias regiões e épocas, que fizeram parte da formação do povo norte-americano.

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O programa, cuja primeira temporada tem oito episódios, é adaptação do livro homônimo (Editora Intrínseca, 576 páginas, R$ 59,90), do escritor inglês Neil Gaiman. Escrita em 2001, a obra tem como protagonista Shadow Moon, um ex-presidiário que tem os planos de recomeçar a vida frustrado tão logo sai da prisão: a esposa Laura morre pouco antes do reencontro dos dois, em acidente de carro com o amigo que lhe daria um novo emprego.

Na viagem para o funeral, Shadow conhece dentro do avião Mr. Wednesday, um homem misterioso que lhe oferece emprego e se revela a personificação de uma divindade antiga que está convocando deuses esquecidos para uma guerra contra o que seriam deuses contemporâneos, representados por arquétipos como a tecnologia e a mídia.

A sinopse aparenta tratar-se de épico moderno com alguma metáfora de como pessoas passaram a idolatrar e depositar a fé em bens de consumo, redes sociais e afins. E não deixa de ser. Mas o livro de Gaiman não é centrado no embate de novos e antigos deuses. É mais uma visão sobre como uma miríade de povos, crenças e ideias moldaram a sociedade norte-americana como ela é, sendo plural, mas também desigual.

E, ainda, como quase toda obra de Gaiman, Deuses Americanos é uma narrativa que insere o fantástico no cotidiano. As histórias do autor colocam magia, lendas, figuras folclóricas e mitológicas como coisas tão intrinsecamente naturais à vida que a maioria das pessoas nem percebe essas presenças.

Assista ao trailer de American gods:



Metáfora da fusão de raças nos EUA
Embora tenha sido escrito em 2001, Deuses americanos - agora transformado em série televisiva -, revela pertinente atualidade ao falar a respeito da miscigenação nos Estados Unidos e como o país foi construído por imigrantes. Enquanto Shadow e Wednesday cruzam as estradas do país recrutando antigos e quase esquecidos deuses, a dupla se depara com paisagens e personagens que têm histórias ricas e diversas justamente por conta das suas origens. E que nem sempre a imigração ocorreu de forma pacífica, como no caso dos afrodescendentes, trazidos por escravocratas.

Ao direcionar os holofotes para grupos frequentemente oprimidos ou intencionalmente relegados ao esquecimento, a série e livro acabam se mostrando subtexto que vai muito além da história fantástica de um homem negro que acaba se envolvendo em uma peleja entre deuses. É uma válida defesa da pluralidade em tempos de xenofobia, racismo e intolerância.

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