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Música brasileira Elza Soares se orgulha de nova geração da música e faz planos para o futuro: 'É só o começo' "Vem tanta coisa por aí que daria um livro se fosse escrever aqui. Aliás, daria não, dará!", afirma a cantora em entrevista ao Viver

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 05/05/2017 12:38 Atualizado em: 07/03/2018 17:49

Álbum A Mulher do Fim do Mundoi foi aclamado pela crítica internacional. Fotos: Lais Domingues/Divulgação
Álbum A Mulher do Fim do Mundoi foi aclamado pela crítica internacional. Fotos: Lais Domingues/Divulgação

Sentada em um trono de metal, imponente e vigorosa, rodeada por sacos de lixo pretos, Elza Soares canta as músicas de A mulher do fim do mundo (2015). É com essa configuração cênica, assinada por Anna Turra, que a cantora de 79 anos chega ao Recife, amanhã, para o show do primeiro disco de inéditas da carreira, com o qual já rodou o país.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

A apresentação no Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado), às 22h, terá abertura de Almério e participação de Lala K. No palco, 15 músicos da Bixiga 70 Metais, cantores e uma banda própria a acompanham ao longo do espetáculo. Os ingressos estão à venda por R$ 120 (inteira ou mesa) e R$ 70 (entrada social, com mais um quilo de alimento).

Há 60 anos na estrada, nem todas as histórias que tem para contar são felizes. Desde quando começou como caloura em um programa de rádio, passando pelos episódios de violência doméstica com o marido, Garrincha, até a perda de quatro dos sete filhos, a vida foi cheia de percalços.

A trajetória de Elza Soares culminou em um disco aclamado inclusive pela crítica internacional. Dentre as faixas, verdadeiros manifestos em oposição à violência contra a mulher (Mulher da Vila Matilde), ao racismo, à transfobia (Benedita). O movimento capitaneado por ela está sendo difundido por uma série de novos artistas que seguem seus passos. "O bastão estará em boas mãos quando chegar a hora de passar adiante", acredita.

Entrevista com Elza Soares  // cantora

Os movimentos feminista e de empoderamento negro vêm ganhando representes cada vez mais ativos na nova geração da música. Você, no entanto, fazia isso já há anos em suas letras e continua fazendo. Qual acha que é a importância de falar sobre isso?

Total. Se não falar, se não colocar o dedo na ferida, não muda nada. Eu grito isso há muito tempo. Fui quase apedrejada em praça pública por tocar nesse assunto numa época que era quase crime defender o direito das mulheres, dos negros, dos gays. Isso era coisa de puta, mas não me calei. Hoje enxergo com felicidade que deu certo a minha resistência. Muita coisa foi conquistada com meus gritos. 

Como vê os novos representantes, como Liniker, Karol Conka, Criolo e Tássia Reis?
Amo todos e amo muito. Sou amiga pessoal de vários. Criolo é praticamente um filho pra mim. Na Conka, eu me vejo. Aliás, em todos eles enxergo um pouco de Elza. Eles cantam minhas músicas, me chamam para participar dos seus shows e juntos engrossamos o coro pra continuar mudando. Falta muita coisa ainda, mas o bastão estará em boas mãos quando chegar a hora de passar adiante.

Mulher da Vila Matilde é um manifesto em oposição à violência contra mulheres. O que esperava em relação à recepção dessa faixa?
Maria da Vila Matilde é um hino. Sei lá, cara, mas algo mais forte quis que essa música fosse minha, cantada por mim. Durante esses quase dois anos desde o lançamento do disco, eu vi muita mulher sair do escuro do medo e colocar a boca no trombone, das famosas às anônimas. E muitas delas me escreveram dizendo que a música deu coragem a elas. Vi mulheres em meus shows com medida protetiva nas mãos para manter longe os agressores. Vi e me emocionei muito. Não é uma guerra, não tem a ver com mulheres contra homens. Tem a ver com homens, mulheres, trans e todo mundo contra qualquer um que violente o outro.

Pretende lançar algum novo disco de inéditas?
Sabe naquela parte do show que eu digo "Só está começando. Ainda tem muita coisa por vir"? Aquilo não é papo, cara. É coisa séria. Vem tanta coisa por aí que daria um livro se fosse escrever aqui. Aliás, daria não, dará! Só não posso contar nada ainda, mas daqui a pouco solto o verbo.

E como se sente com a possibilidade de explorar outros gêneros além do samba?
Me sinto bem. Me sinto jovem, renovada. Não sou uma cantora de samba. Não sou uma cantora de um estilo só. Amo o samba, me fiz no samba, mas sou uma cantora de música popular brasileira e na música do Brasil cabe tudo. Posso te contar que será uma coisa muita maluca. Quero continuar inovando e surpreendendo como fiz nesse disco de agora. Foi assim minha carreira toda. 

Por que decidiu não parar de fazer shows, mesmo enfrentando problemas na coluna?
Problema? Essa palavra eu não conheço, cara. Cantar é a única coisa que eu sei fazer. Canto pra não enlouquecer, canto pra lembrar, canto pra esquecer, canto pra sobreviver. É meu trabalho, é minha arte. Coluna que nada. Hoje assim, amanhã assado. A gente trata, fica boa e não para.

Se pudesse mandar uma mensagem para artistas, sobretudo mulheres, que estão começando a carreira agora, qual seria?
Comecem! Os anos provam que cada etapa deve ser vivida sem atropelos. Desistir por conta de obstáculos é deixar pra lá e se deixou pra lá é porque não queria de verdade. Somente no final é que você saberá se realmente aquilo era tão importante pra você a ponto de continuar e não deixar pra trás.

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