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Literatura Autores e pesquisadores destacam a importância de Antonio Candido para a literatura brasileira: 'foi um divisor de águas' Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Lourival Holanda, Ronaldo Correia de Brito e Anco Marcio comentam sobre o legado do sociólogo e crítico

Por: Alef Pontes

Publicado em: 13/05/2017 10:00 Atualizado em:

Para Anco Marcio, Candido foi um farol para os seus sucessores. Foto: Marcos Santos/USP
Para Anco Marcio, Candido foi um farol para os seus sucessores. Foto: Marcos Santos/USP


Falecido na madrugada desta sexta-feira (12), aos 98 anos, o escritor, crítico e sociólogo Antonio Candido se consolidou como um dos grandes nomes da pesquisa e historiografia literária no país. Nascido Antonio Candido de Mello e Souza, assinou diversas obras de referência como Método crítico de Silvio Romero (1944), Formação da literatura brasileira (1959) e Literatura e sociedade (1965), ficando reconhecido por formar e influenciar gerações de escritores.

Em sua carreira, acumulou os principais prêmio das literatura nacional, entre eles o Jabuti (1960, 1965, 1966, 1993), Alfonso Reyes (2005), Juca Pato (2007), Camões (1998) e Machado de Assis (1993). Durante toda a sexta-feira, personalidades prestaram homenagens ao estudioso carioca. Em entrevista ao Diario de Pernambuco, Lourival Holanda classificou-o como uma das mais importantes figuras para a "feliz junção entre estudos sociais e literários". "Ele possuía critérios quase que científicos e uma percepção poética ímpar. Formou os professores que nos formaram. É uma pessoa que marca a literatura, e toda a minha geração deve à ele", declarou o imortal da Academia Pernambucana de Letras.

Para o romancista e dramaturgo Ronaldo Correia de Brito, Candido representou o poder da Universidade na literatura. "Antonio foi, durante muitos anos, como crítico, a pessoa que balizava a literatura brasileira. Ele definia o que podia ser lido e o que não podia. Não apareceu outra pessoa para assumir o lugar dele e a crítica, como ele fazia, não existe mais: uma crítica capaz de fazer o livro", argumenta Ronaldo.

Mestre em Teoria da literatura e professor de crítica literária da Universidade Federal de Pernambuco, Anco Marcio vê Antonio Candido como o maior crítico literário da sua geração. "A primeira é a de pensar o surgimento da literatura brasileira como um sistema. Que existe o autor, o editor e o leitor, e que um sempre depende do outro. Isso muda completamente a forma como vemos a história literária", comentou Anco, que o define como um farol para seus sucessores. A segunda, e mais importante contribuição, defende, foi lançar um novo olhar sobre a crítica literária: "Ele passa a considerar que a literatura nasce dentro de um contexto e sofre alterações por conta desse contexto."

Segundo ele, antes do pensamento proposto pelo crítico e sociólogo, a literatura era encarada através das óticas impressionistas ou sociológicas. "Candido levou as duas coisas em consideração, mas observando que o contexto histórico não é mais a realidade concreta, ele é linguagem. No seu tempo, isso foi uma grande revolução", observa. Para ele, Antonio Candido se consolidou como um dos grandes intelectuais do país, com importância na literatura nacional equivalente à de Gilberto Freyre, para a sociologia, e Sérgio Buarque de Holanda, para a história. "São pessoas que redimensionaram os caminhos de suas áreas", finaliza.

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