Artes visuais Artista visual Marcelo Silveira faz residência artística em Belo Jardim Convite partiu do Instituto Conceição Moura e ocupação vai durar até o dia 19 de maio

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 17/05/2017 18:45 Atualizado em: 17/05/2017 19:15

Artista visual Marcelo Silveira na Residência Belojardim. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação
Artista visual Marcelo Silveira na Residência Belojardim. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação

O artista plástico Marcelo Silveira chegou a Belo Jardim, no Agreste
Pernambucano, com uma tarefa: mobilizar sensibilidades e fazer pessoas redescobrirem a própria cidade onde vivem, além de remodelar sua relação com a arte. Convidado pelo Instituto Conceição Moura, presidido pela ex-galerista Mariana Moura, ele traz à cidade a união entre obras já realizadas e iniciativas pensadas especificamente para o município do Agreste Pernambucano. O epicentro das ações é a antiga fábrica de mariola da cidade, transformado em ateliê e espaço expositivo onde o artista pretende trabalhar até a próxima sexta-feira (19).

Confira o roteiro de exposições no Divirta-se

Monitores/vendedores na loja fictícia Só de Bonito, no centro comercial de Belo Jardim. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação
Monitores/vendedores na loja fictícia Só de Bonito, no centro comercial de Belo Jardim. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação

O projeto, que tem a curadoria de Cristiana Tejo e Kiki Mazzuchelli, ocupou a cidade durante quase dois meses e, a cada semana, uma obra esteve em destaque. As ruas, a zona rural e até uma loja da cidade foram transformadas em locais de provocação artística. A percepção do espaço público, por exemplo, foi bagunçada com a obra Entre a surpresa e o que se espera, que levou uma esfera de madeira para a rua e a deslocou de madrugada, de um ponto a outro, sem ninguém ver. As perguntas que surgiram a partir daí foram as mais inusitadas, e foi feito um registro da interação da população com o trabalho. “Essa intervenção já havia acontecido no Recife, mas, em Belo Jardim, ela ficou conhecida rapidamente, muito por conta das redes sociais”, afirma o artista.

Esferas de madeira intrigam os moradores na instalação Entre a surpresa e o que se espera. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação
Esferas de madeira intrigam os moradores na instalação Entre a surpresa e o que se espera. Crédito: Bernardo Teshima/Divulgação

Acostumado a atribuir novos significados a objetos já existentes e questionar um suposto utilitarismo dedicado a eles, Marcelo exercitou essa faculdade ao abrir uma loja fictícia, intitulada Só de Bonito. Dois atores atendiam os possíveis compradores, que se deparavam com prateleiras vazias e com objetos de vidro quebrados, em uma inversão de expectativas. “Toda vez que alguém entra na ‘loja’ e pergunta algo para os vendedores, eles respondem ‘é só de bonito’”.

Algumas escolas da cidade também receberam obras da Residência BeloJardim, e um exemplo foi o campus do Instituto Federal de Educação Tecnológica (IFPE) da cidade. A obra Bochinche, confeccionada com tiras de madeira e camurça, os alunos intervieram na obra propondo novas combinações. No distrito de Barro Branco, um circo sem teto, chamado pelo artista de Deus queira que não chova, apresentou aos moradores da comunidade quilombola da região um espetáculo conhecido deles: o da seca, que assola o município a ponto de deixar em colapso o abastecimento de água.

A relação de Marcelo com a cidade, construída pouco a pouco, também apresenta contornos mais sutis. O artista trouxe parte de sua biblioteca para a cidade e também recebe estudantes e professores ansiosos em compartilhar experiências. “A participação da população tem correspondido às expectativas. Muitos dos trabalhos propõem essa dúvida de não saber bem o que está acontecendo. Em um projeto como esse, a gente avalia o que é riqueza. Às vezes, nos deparamos nos círculos de arte contemporânea com pessoas abastadas, mas com atitudes assemelhadas ao tédio. Mas aqui, você chega ao estranho a partir do comum”, afirma Marcelo.

Ao longo da residência, a relação do artista com a cidade atingiu patamares esperados pelos participantes do projeto. “É um museu fora do museu, e isso aproxima as pessoas. As obras estão aqui para provocar sobre o que é um espaço expositivo. Um projeto como esse permite que a gente entre em contato com mais pessoas”, ressalta a curadora Cristiana Tejo.

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