Artes cênicas Absurdo de situações cotidianas é ironizado em peça de Samuel Beckett Elenco é composto por Élcio Nogueira Seixas e Renato Borghi, um dos atores mais importantes do teatro brasileiro; peça está em cartaz na Caixa Cultural até o dia 13

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 04/05/2017 09:51 Atualizado em: 04/05/2017 09:11

Élcio Nogueira Seixas (em pé) e Renato Borghi (sentado) são, respectivamente, Clov e Hamm na peça Fim de Jogo. Crédito: Patrícia Cividanes/Divulgação
Élcio Nogueira Seixas (em pé) e Renato Borghi (sentado) são, respectivamente, Clov e Hamm na peça Fim de Jogo. Crédito: Patrícia Cividanes/Divulgação

Uma casa comum, com retratos e gravuras na parede, móveis cheios de história e dois habitantes que dependem um do outro para viver. Este cenário não seria diferente do habitual em muitas famílias se não fizesse parte da peça Fim de jogo, escrita pelo irlandês Samuel Beckett e interpretada por Élcio Nogueira Seixas e Renato Borghi, um dos atores mais importantes do teatro brasileiro. A dupla apresenta o espetáculo na Caixa Cultural em seis sessões, de quinta a sábado até o dia 13 de maio, e coloca uma lupa sobre situações cotidianas que, no fundo, guardam uma estranheza percebida só para quem vê o mundo com olhos bem atentos.

Confira o roteiro de espetáculos em cartaz no Divirta-se

Borghi atua como um homem cego e paraplégico chamado Hamm, e seu parceiro Clov (Elcio Nogueira Seixas) tem uma doença que o impede de sentar-se. Junto com os pais de Hamm, Nagg e Nell, eles habitam um apartamento, único abrigo para proteger de uma terra devastada. Espiadelas pela janela são a única relação com o mundo exterior. A relação entre os dois homens, em que um dá as ordens e outro cuida de questões práticas por se locomover mais livremente, passa pelo campo do humor negro, no qual o humor parte das situações absurdas provocadas por esse contexto singular. Esta visão ácida e, ao mesmo tempo reflexiva, sobre as relações humanas é um dos pontos fortes de toda a carreira de Beckett, um dos autores mais importantes do teatro mundial e grande referência do Teatro do Absurdo.

O espetáculo também marca várias datas redondas: os 80 anos de Borghi, um dos fundadores do Teatro Oficina junto com Zé Celso Martinez Correa, os 60 anos de carreira do ator e os 20 anos do Teatro Promíscuo, fundado por ele e por Elcio. A peça é, também, fruto de uma situação delicada de saúde do ator veterano e da constatação de uma semelhança inusitada entre arte e vida. “Fiz uma cirurgia na coluna e não sabia se voltaria a andar. Eu andava de cadeira de rodas, estava muito angustiado com essa dependência e, em um determinado momento, percebemos que estávamos fazendo o mesmo que os personagens de Fim de jogo. A ideia de montar a peça partiu daí. É uma experiência muito forte, pois Beckett vai no fundo das motivações humanas”.

Elcio e Renato acumulam também as falas de Nagg e Nell, representados, respectivamente, pelas fotos de Adriano Borghi e Maria de Castro Borghi. A confusão entre intimidade e exposição é amplificada por esses objetos da vida cotidiana. “Passamos a rir de uma situação que, de outro modo, teria sido trágica e horrível de viver. Não queríamos fazer um espetáculo formalista ou desligado do mundo como a grande maioria das peças montadas a partir dos textos de Beckett. O cenário é composto por móveis do apartamento de Renato e a primeira temporada aconteceu lá. Nós não precisávamos forçar esteticamente o absurdo da situação, queríamos atrair o público para uma ideia de familiaridade e, por isso, transportamos a casa de Renato para o palco”, afirma Elcio.

Para Borghi, um texto como Fim de jogo é atemporal por fazer da angústia e da desesperança material para o homem perceber o ridículo de sua própria vida. “Beckett está mais vivo do que nunca porque ele fala da falta de sentido no mundo e o país está vivendo um clima apocalíptico, uma maluquice. Por isso mesmo, suas peças falam do que há de mais profundo no ser humano”.

SERVIÇO
Fim de Jogo - Samuel Beckett, com Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Quando: De hoje a sábado e de 11 a 13 de maio, às 20h
Onde: Caixa Cultural Recife - Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3425-1915

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