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Cinema À frente da Semana da Crítica de Cannes, pernambucano analisa conflito entre cinema e streaming Kleber Mendonça Filho é o presidente do júri da mostra realizada no Festival de Cannes, que começa nesta quarta-feira

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/05/2017 11:08 Atualizado em: 17/05/2017 11:16

No ano passado, Kleber concorreu à Palma de Ouro com o filme Aquarius e fez protesto contra o impeachment. Foto: Loic Venance/Divulgação
No ano passado, Kleber concorreu à Palma de Ouro com o filme Aquarius e fez protesto contra o impeachment. Foto: Loic Venance/Divulgação

Um dos principais e mais prestigiados eventos de cinema do mundo, o Festival de Cannes chega à 70 ª edição. De hoje a 28 de maio, 18 filmes disputam a Palma de Ouro na Riviera Francesa. Entre os longas de destaque, estão O enganado, de Sofia Coppola, Wonderstruck, de Todd Haynes, e Happy end, de Michael Haneke. Uma das novidades deste ano será a apresentação, em uma sessão especial, do curta-metragem em realidade virtual Carne y arena (carne e areia), do mexicano Alejandro González Iñárritu, vencedor do Oscar 2016 com O regresso.

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O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho irá presidir o júri da Semana Crítica, cargo ocupado por Andrea Arnold no ano passado. Ele chefiará um quadro de jurados composto pela produtora colombiana Diana Bustamante Escobar, Erick Kohn, Hania Mroué e pelo ator francês Niels Scheider. Sobre a tarefa, Kleber disse se sentir à vontade e disposto a fazer uma "troca inteligente, amiga e carinhosa" com os filmes avaliados. "O que vai nortear o trabalho é a descoberta de filmes que nos toquem e que encontrem um diálogo bom com esse grupo", afirmou o cineasta em entrevista à repórter do Viver Isabelle Barros.

A Semana Crítica contempla diretores iniciantes que estão lançando o primeiro ou segundo filme da carreira. O júri será responsável por entregar os prêmios de Melhor Filme, Revelação - para o melhor diretor - e Descoberta, para curtas-metragens. Ao todo, a competição recebe sete filmes para serem exibidos e analisados. David Robert Mitchel, Myroslav Slaboshpytskiu, Rebecca Zlotowski e Jeff Nichols são alguns dos diretores revelados pelo prêmio. No ano passado, Kleber Mendonça Filho esteve em Cannes no papel de competidor. Concorreu à Palma de Ouro pela produção pernambucana Aquarius, filmada no Recife.

Entrevista // Kleber Mendonça Filho  (cineasta)

"A participação em festivais gera prestígio para umfilme, e talvez a Netflix tenha aprendido que terá que mudar sua visão caso queira esse prestígio via um festival importante como Cannes"

"O que vai nortear é a descoberta de filmes que toquem os jurados"

O que espera da experiência frente à Semana da Crítica?
Vou trabalhar interagindo com colegas, jurados de vários países, homens e mulheres, e estamos trazendo filmes de vários países. Me sinto bem à vontade de estar em Cannes nessa situação, de descobrir filmes, trocar ideias e conversar e respeitar a trajetória da Semana da Crítica, que é incrível e muito importante dentro do festival. O procedimento é dar muita atenção aos filmes, descobri-los. São todos filmes novos, que estão sendo feitos no cinema no mundo. São sete longas e dez curtas-metragens que a gente tem que ver em um clima de muita tranquilidade. O que vai nortear é a descoberta de filmes que nos toquem e que encontrem um diálogo bom com esse grupo. É tudo muito subjetivo, como sempre, mas eu acho que a gente pode oferecer uma grande contribuição para a Semana da Crítica em 2017, respeitando esses filmes e tendo uma troca inteligente, amiga e carinhosa com esse cinema que está sendo feito.

A partir de 2018, os filmes a serem exibidos em Cannes têm de estrear primeiro nos cinemas, e isso afetará diretamente a Netflix. Como vê essa relação entre cinema e streaming?
Complexo isso tudo, uma dessas situações em que a tecnologia quebra conceitos e encurta o raciocínio. No final das contas, para mim, trata-se de eu tentar proteger o cinema como espaço primeiro de apresentação, algo que inclusive a Netflix entende e respeita ao oferecer filmes seus a um festival como Cannes. Como cineasta, acho interessante fazer um filme pensado para streaming e que entre apenas em uma plataforma de streaming. Fernando Coimbra está vivendo isso com seu segundo longa, Castelo de areia. As regras são claras e a encomenda, também. E todos sendo bem pagos para isso. De toda forma, esse não foi o caso de Aquarius, que foi pensado para salas de cinema, mas que também chega à Netflix em mais de 90 países de todo o mundo após lançamentos nos cinemas em mais de 30 países. Esse é o formato tradicional que, aliás, me agrada, pois o filme tem a oportunidade de viver muitas vidas, dos festivais aos cinemas, TV por assinatura, on demand, aviões, streaming, DVD e Blu-ray, e TV aberta. A participação em festivais e no mundo tradicional do cinema gera também prestígio para um filme, e talvez o Netflix tenha aprendido que terá que mudar sua visão caso queira esse prestígio via um festival importante como Cannes, respeitando as janelas francesas de lançamento e exploração comercial de filmes. Nesse sentido, a Amazon me parece bem mais interessante para o realizador, pois é streaming e também quer, respeita e tem interesse pelo lançamento nos cinemas.

Você preparou um belo cartaz para Bacurau. Qual o andamento do filme?
Bacurau é um filme de aventura que escrevi com Juliano Dornelles. Já trabalhamos várias vezes juntos, no Som ao redor, no Recife frio e em Aquarius. É um filme de aventura com aspectos de cinema de gênero, ficção científica, western, suspense. A gente quer filmar no Sertão. A gente gosta muito do roteiro, que foi fruto de muito trabalho. Acho que desde 2009 a gente vem brincando com essa ideia, jogando com ela, desenvolvendo o roteiro. Durante todo o processo de Aquarius, com as viagens e com o lançamento do filme, nós finalmente fomos achando brechas de tempo para terminar esse roteiro, que a gente quer muito filmar. Nesse momento há um processo de procura de elenco em várias cidades do Nordeste. Devemos filmar mais para o fim do ano.

E quanto à série televisiva O filme começa na calcada?
É um projeto que eu adoro e que corre paralelamente. Olha muito para a expêriencia cinematográfica a partir de uma vivência muito pessoal que tenho, não só através dos 18 anos programando o cinema da Fundação Joaquim Nabuco, mas também os dez anos programando o cinema São Luiz, que são lugares que eu amo. Isso faz parte da minha experiência pessoal desde minha formatura na UFPE, quando fiz dois documentários sobre o espaço da sala de cinema. A base emotiva da série é o Recife, mas ela se passa em vários lugares do mundo, porque algumas cidades tiveram a sorte de manter intactos alguns espaços como o São Luiz, no Recife. São cinemas grandes do passado que, por uma série de incidentes felizes, permaneceram e, hoje, são monumentos a um outro tempo, a um outro costume e a uma época em que os cinemas tinham um impacto na rua. Isso é algo que interessa muito, um assunto a que sempre volto nos meus filmes, que é uma visão sobre o espaço urbano.

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