Literatura Memórias inventadas conduzem romance de Inácio França, inspirado na vida de Tereza Costa Rego Publicado pela editora Confraria do Vento, "Terezas" será lançado nesta quinta-feira, na Casa 12, em Casa Forte

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/04/2017 14:06 Atualizado em: 27/04/2017 15:10

Jornalista abriu mão de genero biográfico e resolveu romancear vida de Tereza Costa Rego. Foto: Renato Moreira
Jornalista abriu mão de genero biográfico e resolveu romancear vida de Tereza Costa Rego. Foto: Renato Moreira
Com frequência, a ficção se torna refúgio para temas cuja totalidade não consegue ser abraçada pelo jornalismo. Parte do desafio é lidar com a memória: se toda ela é inventada (umas mais, outras menos), como incorporá-la ao texto sem desviar do compromisso com os fatos? O dilema mudou o rumo de um projeto tocado há quase duas décadas pelo jornalista pernambucano Inácio França.

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Para abrigar as “lembranças reinventadas” de sua interlocutora, a artista plástica Tereza Costa Rego, 87, ele abriu mão do gênero biográfico para contar a história de “várias mulheres em uma”. O resultado foi a novela Terezas (Editora Confraria do Vento, R$ 45), cujo lançamento será nesta quinta-feira, às 19h, na Casa 12 (Rua Silvino Lopes, 12, Casa Forte).

A disparidade entre verdade e memória se fez presente desde o primeiro contato entre autor e personagem. Em 1999, em entrevista sobre os 20 anos da Lei da Anistia, o então repórter especial do Diario de Pernambuco ouviu Tereza relembrar a morte do marido no primeiro dia após a volta do exílio. Depois de publicada a matéria, descobriu-se certa incompatibilidade do relato com o fato histórico, embora a verdade soasse “menos interessante”. Aquele encontro foi o início de uma longeva amizade, marcada por muitas conversas e novas entrevistas para compor o tal projeto de biografia.

“A diferença entre a versão contada por ela e o que realmente aconteceu ficou na minha cabeça. Dez anos depois, comecei a checar as histórias e percebi que ali não caberia o jornalismo, pois ele não daria conta de capturar a intensidade da vida daquela mulher, que foi filhinha de papai de um senhor de engenho, socialite casada com um magistrado e que ‘corneou’ ele com o homem número dois de (Carlos) Prestes”, diz Inácio França, em referência ao político Diógenes Arruda Câmara.

Com a decisão de romancear a realidade, Tereza Costa Rego passou a revelar histórias mais picantes e bastidores do Partido Comunista. Coube a Inácio preencher lacunas, mudar nomes de personagens, criar diálogos. Com alguns saltos temporais, o livro narra desde um período anterior ao golpe militar, em 1962, até o momento da volta do exílio, em 1979. São dois momentos de transformação: no primeiro, a personagem trai o marido e rompe com os “bons modos” da sociedade, enquanto no segundo, quando Diógenes Arruda morre, ela deixa de ser a companheira do líder comunista e passa para uma nova fase, já aos 50 anos de idade.

“É um ponto de convergência. Para mim, é muito reconfortante ver uma pessoa se recriar aos 50. Tenho 48 anos e espero que alguma coisa aconteça. Essa mulher que conhecemos hoje não foi uma menina prodígio. Ela viveu bastante para poder se reinventar”, conclui Inácio França.


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