Entrevista MC Trans toca funk proibidão no Recife e vai gravar música inspirada em Malafaia Cantora traz show da Favela Tour e reproduz os bailes das comunidades

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 07/04/2017 14:20 Atualizado em: 07/04/2017 19:44


"O funk não tem tabu. É a nossa forma de falar dos problemas, das dificuldades do país, de sexo, fazer apologia às drogas, cantar coisas chulas", diz a MC Trans, artista consagrada na Roda de Funk carioca, que apresenta show da nova turnê no Recife, nesta sexta-feira (7), no Clube Metrópole. Ela vai mostrar a Favela tour e tentar reproduzir os bailes das comunidades do Rio de Janeiro, sem censura. "Faço a putaria mesmo, com bastante palavrão. Não vou cantar nada de funk da modinha", afirma em entrevista ao Viver

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

Esta é a segunda apresentação da MC na capital pernambucana. O primeiro show, da Lacra tour, foi em julho do ano passado, no mesmo local. A funkeira Camilla Monforte, 28 anos, ficou conhecida como cover de Anitta e precisou de um empurrãozinho da cantora para seguir a carreira sozinha. A partir daí, ela se destacou com canções próprias como Lacração (1,9 milhão visualizações no YouTube), Eu não sou obrigada a nada (1,2 milhão) e Meu lado pior (820 mil). A funkeira adiantou que vai lançar uma música inédita inspirada no pastor Silas Malafaia, com a religião como temática.

MC Trans provou que tem talento e conquistou o respeito dos MCs na Roda de Funk - um projeto de São Gonçalo que revela novos artistas do cenário e promove competições de rimas. "O funk é um ambiente machista. Até para a mulher é difícil. Você se sente acuada, mas tem que ter coragem para enfrentar. Eles não acreditavam que eu podia ser boa", diz. Nas redes sociais, acumula 648 mil seguidores no Facebook, 370 mil no Instagram e 60 mil inscritos no YouTube. "Nem todo mundo que ouve putaria precisa fazer o que está ouvindo. A gente vive tão estressado no dia a dia. Às vezes só quer mandar alguém para a "puta que pariu" e, quando ouve a música, a vontade passa", analisa.  

A artista teve a adolescência conturbada e uma história de superação. Camilla nasceu no Complexo do Alemão, foi expulsa de casa aos 16 anos e chegou a morar na rua, na Central do Brasil."Graças ao meu passado criei uma personalidade muito melhor. Talvez, se não tivesse vivido isso, seria uma pessoa fútil cantando funk e gastando dinheiro com bobagens". 

SERVIÇO
MC Trans e DJs Gael e Alê
Quando: Sexta-feira (7), às 22h
Onde: Clube Metrópole (Rua das Ninfas, 125, Boa Vista)
Ingressos: R$ 25, R$ 10 (estudante) e R$ 30 (revertida em consumo)
Informações: 3423-0123

Entrevista // MC Trans

Como será o show no Recife? 
Vou levar o funk das favelas para as boates do Brasil inteiro. Quando viajo pelo Nordeste, as pessoas perguntam como são os bailes nas comunidades. Por isso, decidir criar o show, para mostrar ao público o que acontece de verdade. Começo com músicas minhas, canto alguns funks das antigas e faço a putaria mesmo, com bastante palavrão. Não vou cantar nada de funk da modinha.

O funk vem se adaptando para chegar na grande mídia. O ritmo está ficando careta?
O funk não tem tabu. O que ficou careta foi o funk comercial, e ele é só uma vertente. O funk da favela não muda. É a nossa forma de falar dos problemas, das dificuldades do país, de sexo, fazer apologia às drogas, cantar coisas chulas. Posso cantar que "Acordei, quero gozar e quero dez homens na cama comigo". Esse tipo de música tem em todas as favelas do Brasil e faz sucesso. Quando puxo o verso: "Hoje é festa da árvore, só vai quem trepa" (MC TH - Festa da árvore), todo mundo canta. O funk de raiz nunca vai tocar nas rádios. 

Seu show é destinado para o público gay? 
Faço show para todos os públicos. Fui apadrinhada pela Roda de funk (projeto de divulgação do ritmo em São Gonçalo, no Rio de Janeiro) onde, estão os melhores MCs cariocas. Lá, recebi o nome de MC Trans. O sonho de  todo MC é chegar na Roda de Funk. Tem que rimar muito, saber dar o papo bem dado. Nunca ninguém imaginou que uma transexual iria chegar lá. O funk é um ambiente machista. Até para a mulher é dificil. Você se sente acuada, mas tem que ter coragem para enfrentar. É como o The voice da favela. Você é desafiado a cantar e o público pode te rejeitar. Ou você é boa ou é boa. Foi lá onde ganhei o público hétero e deu o boom na minha carreira. 

Você ficou conhecida como cover de Anitta. Como foi a transição para a MC Trans?
Ela (Anitta) chegou para mim em uma boate e disse que via muito da minha personalidade no palco. Que eu reinava e tinha um brilho próprio. "Tá na hora de você tentar ser você", falou. Eu sai de lá chorando, arrasada. Só depois entendi que ela estava me mostrando o caminho. 

Como funciona o processo de composição das músicas? Qual será o próximo hit?
Geralmente sento para escrever quando acontece alguma coisa que me irrita e quero responder através do funk. Quando estou triste, não sai nada. Quando estou com ódio, sai tudo. Tenho uma letra pronta de uma música inspirada no Silas Malafaia. Vou falar sobre religiões. Ela deve ficar pronta até julho. Quero aproveitar o sucesso de Lacração, minha música que estourou mais rápido. 

Vários artistas da atualidade levantam o debate sobre a diversidade de gênero. Qual a importância de falar desta temática? 
Acho importante debater, mas já não acredito que debate resolva algo. Acho que as atitudes das pessoas não mudam. Temos que acreditar que a TV e a mídia podem ajudar a mudar essa realidade. Se os artistas grandes fizessem mais a favor da nossa classe, tudo ficaria mais fácil de encarar. 

Você fez a cirurgia de mudança de sexo?
Jamais. Amo usar meu pênis (risos). 

Assista ao clipe Lacração, de MC Trans:



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