Cinema Filme que mostra Deus como mulher negra e mais três produções estreiam esta semana No longa-metragem A Cabana, divindade é interpretado por Octavia Spencer

Por: Ricardo Daehn - Correio Braziliense

Publicado em: 06/04/2017 19:38 Atualizado em: 06/04/2017 19:47

Trama de tons religiosos aborda temas como abandono e percepção da justiça divina. Foto: Netter Productions/Divulgação
Trama de tons religiosos aborda temas como abandono e percepção da justiça divina. Foto: Netter Productions/Divulgação


Querendo ou não, a atriz Octavia Spencer está integrada a grupos seletos. Ela é, por exemplo, uma das únicas 11 intérpretes a vencer, pelo mesmo papel, o Oscar, o Globo de Ouro e o troféu dado pelo Sindicato dos Atores, além do Bafta (da indústria cinematográfica britânica), à frente da despachada empregada doméstica retratada em Histórias cruzadas (2011). Spencer é uma das sete atrizes negras a levar a estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Na mais nova façanha, a atriz de 44 anos desponta no circuito nacional de filmes, com quatro outros protagonistas, em um longa que, de tão esperado, garantiu a reserva, no país, de mais de 600 salas: A cabana.

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O que posso dizer é que adoro minha profissão e gosto muito da possibilidade de me comunicar com tanta gente”, conta ela, quase prevendo o sucesso do longa-metragem, baseado em livro com mais de 25 milhões de cópias, escrito por William P. Young. A cabana aborda o caso da ação de um serial killer que mata uma criança, mas o enredo, na verdade, se concentra na figura de Mack (Sam Worthington), o pai da menina. Octavia Spencer, que teve preparação com um pastor, além de ter lido um punhado de livros sobre cristianismo, aparece nas telas como uma figura reconfortante: nada menos do que Deus (na trama, chamada de Papai).

Numa passagem pelo Rio de Janeiro, para divulgar o longa-metragem, estrelado ainda pela asiática Sumire Matsubara, pela brasileira Alice Braga e pelo israelense Avraham Aviv Alush, a atriz exorta a felicidade irrestrita, celebrando a fusão de culturas do filme e destacando a disposição para a alegria. Nascida em família humilde, é catedrática na receita para o equilíbrio emocional interno. “Lá em casa, fomos extremamente amados e era isso que assegurava nossa confiança”, arremata Octavia Spencer.

Fenômeno editorial
Antes de ganhar o mundo, pela ótica e adaptação em obra do cineasta Stuart Hazeldine, o livro A cabana se afirmou como best-seller, nos Estados Unidos, quando foi lançado há 10 anos. Da editora Sextante no Brasil, há nove anos, o livro do canadense William P. Young trata de temas como abandono, percepção do que seria injustiça divina e imensa saudades de um pai, que perde a filha Missy, num caso que envolve pedofilia e assassinato. Fenômeno editorial, o livro vendeu mais de 25 milhões de cópias mundo afora. Inicialmente criado apenas como um manuscrito a ser dado de presente a um estreito círculo de amigos do autor, a obra é cultuada como oração por parte dos leitores.

Entrevista - Octavia Spencer  //  Atriz

“Percebi que tudo seria tocante. Sou uma pessoa de fé”

Você percebe a condição de ser uma das atuais queridinhas da América? As pessoas abordam você nas ruas?
Não é nada que de fato eu já tenha levado em conta. Isso, na verdade, se trata de um grande elogio. Não sei se eu mesma me posicionaria neste nível, em termos de preferência: existe uma infinidade de pessoas que admiro. O que posso dizer é que adoro minha profissão e gosto muito da possibilidade de me comunicar com tanta gente. Faço tão somente meu trabalho.

Como uma atriz assustada até mesmo com os palcos teve coragem de interpretar Deus?
Foi uma experiência muito particular interpretar, nos palcos, uma peça de Del Shores (reconhecido produtor de séries como Queer as folk e Dharma & Greg), e estar, frente a frente, com tanto público. Mas sempre tive este sentimento de pânico no palco. Interpretar Deus, em A cabana, foi realmente das maiores incumbências e não das tarefas menos árduas. É verdade que nunca havia visto Deus interpretado desta maneira (por uma mulher negra). Foi decisivo para a minha participação o modo pelo qual as conversas com a santa trindade se sustentam. Quando percebi que tudo seria muito tocante, quis fazer parte do projeto. Sou uma pessoa de fé.

A casa mostrada no filme A cabana parece tão acolhedora... Como alcançaram o resultado?
Na verdade, isso teve pouco a ver comigo. É algo mais da alçada do diretor, do design de produção e do produtor. Adoro sets que sejam bastante gráficos, e tenho a mesma percepção que você. Com toda a mobília, a madeira, tudo fica disposto de modo convidativo e aconchegante. Adorei os elementos usados. Combinam muito com a proposta. E, além disso, estávamos cercados de natureza, com o lago e todas as árvores. O clima teve muito a ver com o fato de filmarmos em reservas florestais canadenses, com a equipe cercada de verde. As praias brasileiras, aliás, foram um dos meus entusiasmos, ao poder visitar o Rio de Janeiro. É realmente um dos lugares mais bacanas que conheci.

Salvo engano, sua mãe foi empregada doméstica. Como, partindo de uma condição menos favorecida, você pavimentou carreira tão brilhante?
Essa é uma das coisas erradas que dizem a meu respeito e que, até hoje, não dei conta de esclarecer; mesmo depois de tantas tentativas. Minha mãe teve infindáveis trabalhos, por isso não consigo destacar apenas um. Quanto ao dinheiro: as pessoas podem ter vivências monetariamente limitadas, mas, ainda assim, levam uma vida muito bela. Eu mesma carrego este histórico, e não mudaria nada. O passado me faz valorizar cada uma das minhas conquistas e desfrutar do produto dos meus esforços. Ser pobre não veta o alcance de uma vida opulenta. Podemos não ter tido muito dinheiro, não termos sidos ricos, mas fomos extremamente amados e era isso que assegurava nossa confiança.

Constantemente, você interpreta mulheres atentas a demover preconceitos, como no caso de Estrelas além do tempo. Como vê o incremento da correção política no mundo atual?
Correção política tem um sentido muito diverso na América. Independentemente de contemplar política, eu sempre tento ser a melhor pessoa possível, servir como espécie de exemplo. Escolho papéis que possam alertar as visões dos espectadores, expandir as escolhas que eles fazem, e opto por papéis que sejam capazes de afetar os outros ao meu redor. Não sei se isso encerra uma vontade política, mas, seguramente, um desejo pessoal.

Além de A cabana, mais três longas estream no estado.
Confira:

Despedida em grande estilo
A relação entre os idosos e o sistema financeiro é o pano de fundo da comédia Despedida em grande estilo, com os medalhões Morgan Freeman (Willie), Michael Caine (Joe) e Alan Arkin (Albert). Indignados com o tratamento recebido dos bancos e em meio à dificuldade com as próprias finanças, os três decidem assaltar uma agência bancária e elaboram um plano tão arriscado quanto engraçado. O filme é dirigido pelo ator e produtor Zach Braff, nomeado a três Globos de Ouro.

Dolores
A luta por melhores condições de trabalho no campo nos Estados Unidos dos anos 1950 ambienta a atuação de Dolores Huerta, cofundadora da primeira entidade de assistência sindical aos trabalhadores rurais. Cuidadora de 11 crianças, após passar por três casamentos, ela evolui a batalha laboral para o enfrentamento por igualdade de gênero, classe e raça, até ser morta pela polícia de San Francisco em um confronto. O longa-metragem, nomeado para o Festival de Sundance, é dirigido por Peter Bratt.

Os Smurfs e a vila perdida
As criaturinhas azuis estão de volta na animação Os Smurfs e a vila perdida para descobrir se há seres vivos semelhantes em um lugar até então inexplorado. Filme infantil trabalha temas existenciais, como o questionamento do papel de cada um no mundo, e debate o valor das diferenças e da individualidade. A história parte do descontentamento de Smurfette (no original com a voz de Demi Lovato) em relação à vida em comunidade e da descoberta feita por ela de uma floresta encantada. Gargamel, mais uma vez, é o vilão na trama dos Smurfs. 

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