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Televisão Grace & Frankie escancara preconceito contra mulheres mais velhas Enquanto Hollywood esconde atrizes acima dos 50 anos, a televisão oferece refúgio para as veteranas

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 01/04/2017 15:01 Atualizado em: 01/04/2017 00:07

Na terceira temporada de Grace & Frankie, protagonistas querem criam um vibrador para mulheres pós-menopausa. Foto: Netflix/Divulgação
Na terceira temporada de Grace & Frankie, protagonistas querem criam um vibrador para mulheres pós-menopausa. Foto: Netflix/Divulgação


Em uma época em que Hollywood parece ignorar a existência de mulheres acima dos 50 anos, a televisão abre cada vez mais espaço para elas. Em House of cards, da Netflix, Robin Wright brilha como Claire Underwood, a primeira-dama dos Estados Unidos. Por seu trabalho em Veep, da HBO, Julia Louis-Dreyfus ganhou o Emmy de Melhor Atriz em Série de Comédia cinco vezes seguidas. Também contemplada com um Emmy foi Viola Davis, pela advogada Annalise Keating em How to get away with murder. Spin-off de The good wife, The good fight traz Diane Lockhart, personagem de Christine Baranski, como o centro das atenções. E em Grace & Frankie, as protagonistas são as atrizes Jane Fonda e Lily Tomlin, ambas com mais de 70 anos.

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A terceira temporada da comédia, que estreou no dia 24 de março na Netflix, explora mais a fundo um tema que introduziu nos episódios anteriores - a sexualidade da mulher mais velha. Criada por Marta Kauffman, responsável pelo sitcom Friends, Grace & Frankie narra a história de duas mulheres que são forçadas a viver juntas após serem abandonadas pelos maridos, que assumem um relacionamento homossexual. Depois de lidar com o divórcio e reconstruir a vida pessoal, elas decidem embarcar em uma nova jornada: criar um vibrador especialmente desenhado para mulheres pós-menopausa.

A ideia do produto surgiu durante uma conversa sobre masturbação, assunto frequente na série. Mas mais do que falar apenas de sexo, Grace & Frankie o faz sem querer mascarar a idade das suas protagonistas - em uma das cenas mais divertidas da temporada, as duas machucam as costas ao se abaixarem e não conseguem levantar do chão durante um dia inteiro. Perguntas sobre quantos orgasmos uma delas conseguiu ter com o namorado em uma noite são seguidas por observações sobre a artrite e a falta de lubrificante natural. Ao mesmo tempo em que Grace e Frankie comportam-se como típicas "vovós", reclamando de doenças e rugas, as senhoras fumam maconha, se masturbam, embriagam-se e namoram.

Grace & Frankie,
ao contrário de Hollywood, não esconde as mulheres mais velhas - as celebra. "Sou parada por garotas jovens na rua que me dizem que, depois de ver a série, sentem-se mais esperançosas em relação ao futuro e a envelhecer", disse Fonda durante evento da Netflix em Nova York. A série, no entanto, não romantiza a idade de suas personagens. Buscando capital para abrir o negócio, as duas encontram bancos que não acreditam no produto ("ninguém quer ver idosas com nada sensual", comenta um possível investidor. "Nem mesmo as próprias idosas") e temem que elas não vivam o suficiente para pagar um empréstimo. As atrizes também não hesitam em falar sobre o assunto. Em entrevista ao site IndieWire, as protagonistas afirmaram que gostariam que os episódios fossem mais frequentes. "Queria que não tivéssemos que esperar um ano por temporada. Quero dizer, leve nossa idade em consideração, podemos morrer a qualquer momento", brincou Tomlin.

>>> Cinema
Uma pesquisa recente divulgada pela University of Southern California analisou 1.256 personagens de todos os filmes indicados ao Oscar nos últimos três anos. Apenas 148 personagens (12%) tem 60 anos ou mais - destes, 78% são homens e 22%, mulheres. De acordo com Katherine Pieper, autora do estudo, o problema não é apenas a quantidade de personagens, mas também a maneira como os idosos são retratados. "Todos nós conhecemos indivíduos nessa faixa etária e eles são vibrantes, diversos, muitos são ativos. Mas o que vemos no cinema contradiz o que vemos na realidade - existem poucos idosos em posições de prestígio, eles são quase que exclusivamente homens brancos no fim da vida e geralmente a morte, e não a vida, é que é o foco", observou ela.

Quando se trata de relacionamentos na tela, os números não melhoram. Um estudo do site Vulture analisou os principais longas da carreira de galãs como Richard Gere, Harrison Ford, George Clooney e Liam Neeson e concluiu que os atores envelhecem - mas seus pares românticos, não. Em A negociação (2012), Richard Gere, então com 63 anos, atuou ao lado de Laetitia Casta, 34. Em Seis dias e sete noites (1998), Ford tinha 55, e sua parceira, Anne Heche, 29. Com 61 anos, Liam Neeson namorou Olivia Wilde, 29, em Terceira pessoa (2013).

Ganhadora de um prêmio Oscar e com créditos em mais de 80 filmes, a atriz Susan Sarandon também foi uma das que buscou refúgio na televisão. Ela é uma das protagonistas de Feud - série que aborda a rivalidade entre as atrizes Bette Davis e Joan Crawford (interpretada por Jessica Lange), mas que mostra também como a indústria cinematográfica lida com o envelhecimento de suas atrizes. "Existe uma falta de diversidade em relação às mulheres mais velhas em Hollywood. É uma indústria dominada por homens brancos que contam histórias protagonizadas por personagens como eles. E eles querem estar com mulheres mais jovens, então não existem papéis para mulheres com 50 ou 60 anos que sejam românticos. Quando você chega aos 60, os papéis que lhe oferecem são de mulheres que estão morrendo ou ficando loucas", disse ela, em evento da série da FOX em Nova York.

Confira o trailer da terceira temporada de Grace & Frankie, disponível na Netflix:



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