Entrevista Criolo supera os próprios preconceitos em nova fase: 'A gente erra sem saber' Em entrevista ao Viver, rapper conta como relançou o primeiro álbum da carreira e fala sobre planos

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 07/04/2017 09:49 Atualizado em: 07/04/2017 10:04

Foto: Gil Inoue/Divulgação
Foto: Gil Inoue/Divulgação


Criolo acredita que o último passo de uma caminhada é tão importante quanto o primeiro. Atestou a afirmação no ano passado, quando revisitou o início da carreira com o relançamento do álbum Ainda há tempo, de 2006. Dez anos depois, muita coisa mudou: as 22 faixas se tornaram nove, Criolo deixou de lado o nome artístico de "Doido" e a experiência ao longo de quatro décadas de vida convergiram para um disco mais representativo em relação a quem o rapper paulista passou a ser.

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

Foto: Oloko Records/Divulgação
Foto: Oloko Records/Divulgação
Na leva de mudanças, em meio a vocais mais potentes e batidas elaboradas produzidas por nomes mais jovens da cena, como a dupla Tropkillaz e Renan Saman, uma em especial chamou a atenção da imprensa e do público: "traveco" deu lugar a "universo" na letra da música Vasilhame, em uma retratação pela expressão transfóbica. "Eu simplesmente, com o passar do tempo, fui entendo o que significavam algumas palavras. Tratei de mudar isso porque o que a gente quer levar pro mundo é algo especial. A gente quer dividir coisas boas, né?", conta, em entrevista ao Viver.

O novo trabalho foi bem recebido pelo público, que pôde testemunhar a roupagem mais recente do disco em apresentações em todo o Brasil, incluindo no Lollapalooza, em São Paulo, e na versão argentina do festival, de onde ele sai para se apresentar na capital pernambucana. "Tínhamos que estar aí. Ficar muito tempo longe do Recife não dá!", se declara o músico. O show que aporta no Clube Português nesta sexta-feira (7), a partir das 21h, com abertura das bandas Eddie e Discopédia, contará com cenografia especial, assinada por Alexandre Órion. O esmero na preparação do visual é inédito na carreira de Criolo: "Ele concebeu essa parte do espetáculo que só engrandeceu todo o lance. Somou demais, o cara é uma mente muito especial e trouxe muitas referências", diz.

Apesar de estar consolidado como um dos mais importantes do rap nacional, o músico já fez experimentações em outros ritmos: cantou Tim Maia com Ivete Sangalo, colaborou em projetos de axé e fez até incursões pelo samba. O que jamais fará, segundo ele, é ter preconceito: "Pode ser uma música típica do sul da Túrquia, da Patagônia, pode ser uma grande orquestra de Berlim ou de São Paulo, a música regional da Salvador ou até mesmo a música riquíssima e maravilhosa de Pernambuco. O rap te oferece esse leque de situações de pesquisa, então a gente acha isso tudo maravilhoso e deixa sempre essa porta aberta para que isso possa acontecer", promete. Ele, que parece seguir o ensinamento proposto no título do seu disco ("ainda há tempo"), segue a caminhada com uns passos mais largos que outros, porém - e é importante lembrar - todos com equivalente importância.

ENTREVISTA // Criolo

Foto: Gil Inoue/Divulgação
Foto: Gil Inoue/Divulgação
Ainda há tempo, seu primeiro álbum, foi lançado em 2006, quando você já cantava há 16 anos. Como a experiência da época influenciou na composição do disco e como sua experiência de agora agregou na elaboração dessa releitura que você lançou no ano passado?

A gente quis seguir a simplicidade de como as coisas acontecem. Há 16, 17 anos, imaginar esse disco Ainda há tempo, de 2006, dentro de uma inocência, de uma falta de experiência gigante que ao mesmo tempo te permite experimentar mais, ser mais livre com a junção de coisas. E agora, em 2016, pra fazer essa releitura, a gente procurou fazer do mesmo jeito, convidando jovens produtores, jovens beatmakers pra darem suas colaborações e a gente viver esse espírito coletivo do hip-hop, que é muito forte. Então a gente se permitiu viver isso mais uma vez.

E qual das "novas" músicas é a sua preferida?
Eu gosto de todas! Todas têm uma história especial. Gosto dessas e das que não foram pra releitura, todas têm um lugar especial.

Você costuma dizer que acredita muito na música como elemento de transformação social. De que forma tenta incorporar isso no seu trabalho?
Tá no texto. O que descreve esse texto que o rap oferece pro mundo já há 40 anos, eu acho que é uma colaboração muito grande, são textos fortes, que sugerem uma reflexão, que sugerem um olhar diferente pra algumas questões que nos visitam. Ele é muito forte, o texto do rap. Ele é universal, é transformador e libertador, no texto isso já na incorporado.

Você é um dos nomes mais requisitados do rap nacional, foi atração do Lollapalooza no Brasil e na Argentina e vive um bom momento na carreira. Como vê a posição que ocupa hoje em dia?
Acho que continuo no mesmo lugar, escrevendo o que o coração pede no decorrer do tempo. Então em todos os momentos, no final de uma caminhada, tudo começa no primeiro passo: ele tem a mesma importância que o último passo. Existem sim os momentos diferentes da vida, mas todos têm a mesma importância. É necessário o primeiro passo.

O que há na agenda do Criolo depois que terminar de divulgar o Ainda há tempo? Quais os novos projetos?
Estou pensando em algumas coisas e queremos sempre fazer melhor que podemos dentro das nossas limitações, mas tudo sempre dentro de um ambiente de muito respeito a música, respeito com as pessoas. Um ambiente de muito carinho com todo mundo. E quando é assim, as coisas acontecem.



SERVIÇO
Criolo, Eddie e Discopédia
Quando: sexta-feira (7), às 21h
Onde: Clube Português (Avenida Conselheiro Rosa e Silva, 172, Graças)
Quanto: R$ 50 (meia-entrada), R$ 60 (social) e R$ 110 (open bar promo), ingressos à venda na lojas Chilli Beans e Vitabrasilnet, Haus Bar (Galeria Joana Darc), Loja Avesso (Av Rui Barbosa, 806) e online no site Bilheteria Digital
Informações: 3231.5400

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