Televisão BBB 17: Permanência de Marcos é irresponsabilidade da Globo sob conivência do público Após omissão da emissora, Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro abriu investigação sobre o caso e vai interrogar o participante no Projac

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 10/04/2017 15:56 Atualizado em: 10/04/2017 18:34

Polícia já identificou violência psicológica e vai investigar se houve agressão física. Foto: TV Globo/Divulgação
Polícia já identificou violência psicológica e vai investigar se houve agressão física. Foto: TV Globo/Divulgação


O Big brother Brasil 17 não é mais um programa de entretenimento. O nível de angústia em confinados e público aumentou ainda mais com as cenas deprimentes vivenciadas pelos participantes Marcos e Emilly, namorados no reality show, cujas brigas se caracterizam como agressão física e psicológica contra a mulher. Só no último fim de semana, o médico Marcos Harter, de 38 anos, apontou o dedo no rosto, gritou, imobilizou contra a parede, beliscou e apertou o pulso da estudante Emilly, 20 anos - vale ressaltar que a postura agressiva já foi adotada em recorrentes momentos desta edição, incluindo com outras participantes. Inacreditavelmente, as circustâncias não foram suficientes para eliminá-lo no confronto com a paratleta Marinalva, que saiu com 77% dos votos, ou motivar a expulsão do médico por parte da direção da emissora.

O paredão do último domingo adotou um tom melancólico. A edição se concentrou na briga, mas a direção do programa não tomou a decisão mais sensata. "O comportamento do casal nos preocupa e preocupa vocês. O comportamento de Marcos, também. Emilly deve procurar a produção do programa a qualquer momento para denúncias e reclamações", disse o apresentador Tiago Leifert, ao anunciar os VTs com a cronologia do episódio.

Após inúmeras denúncias, a Delegacia da Mulher do Rio de Janeiro abriu investigação sobre o caso e vai interrogar o participante no Projac, o que só prova o quanto a emissora tem sido irresponsável em não intervir. A direção do programa se omitiu e colocou a responsabilidade para a gaúcha, de 20 anos, pouco após apoiar a campanha "Mexeu com uma, mexeu com todas", surgida depois da denúncia da figurinista Susllem Tonani, vítima de assédio sexual praticado por José Mayer.

"Não há margem para dúvidas. Foi agressão. Isso seria suficiente para que ela ou, qualquer outra pessoa, fizesse uma denúncia na Lei Maria da Pena", analisa a socióloga Ana Paula Portella, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Violência, Criminalidade e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para ela, o programa de TV e a emissora tinham obrigação de adotar uma outra postura. "A Globo filmou o crime. Como não se trata de um programa ficcional, a emissora tem o dever ético e jurídico de reportar crimes que aconteçam na casa. A violência contra a mulher é um crime e não precisa da representação da vítima para se prestar uma queixa", ressalta a socióloga.

Desde a primeira edição, o BBB é uma vitrine do comportamento humano e mazelas recorrentes da sociedade, como preconceito, assédio, machismo, estupro e agressão, que saem da esfera da televisão e pautam debates na vida real. Emilly representa um contingente de mulheres que não enxergam a gravidade dos atos do parceiro. Após o clima de tensão, a gaúcha continua com Marcos e ainda celebrou a permanência dele no confinamento.

A torcida dela tem um número maior de pessoas e o mais disposto para organizar mutirões de votação. Por visualizarem sob a ótica de jogo - Marcos é aliado da gaúcha na competição -, o público a favor dela reduziu e minimizou o comportamento do médico ao optar pela saída de Marinalva. O resultado demonstra um paradigma da maior parte da sociedade brasileira. "De uma maneira geral, o público reagiu como a maior parte da sociedade brasileira reage. É difícil as mulheres agredidas contarem com o apoio de pessoas próximas e com o apoio social. Basta a gente acompanhar os casos de denúncia nas redes sociais e os comentários que aparecem culpabilizando a vítima", pontua Ana Paula Portella.

Primeiro paredão
Marcos Harter foi o primeiro indicado desta edição sob a justificativa de ser machista por Mayara e Vivian, líderes da primeira semana que se queixaram do machismo e olhares do médico. A queixa foi ignorada. Ele permaneceu, e a eliminada foi a bailarina Gabriela Flor. Ao todo, o médico enfrentou cinco paredões, ou seja, os erros - além da postura agressiva, também chamou a paratleta de cavalo manco - foram constantemente apoiados pela torcida hipnotizada "Mally" - fã-clube do casal Marcos e Emilly.

Paredão Ilmar x Marcos
Na semana passada, Marcos e Emilly também tiveram uma briga pesada, na qual o médico apontou o dedo no rosto e a colocou contra a parede. Ilmar, que também havia apontado o dedo na cara dela e a chamado de verme, concorria com o médico na competição. Mesmo com o comportamento recorrente do namorado, a família e a torcida de Emilly fizeram campanha para a permanência de Marcos no programa. Mais uma vez, prevaleceu a ótica de jogo na disputa por R$ 1,5 milhão. Um dos maiores erros desta edição.

Edição
A 17ª edição do reality show ficou marcada pelo favorecimento em torno do casal. Nos embates com outros participantes, o programa exibia mais o posicionamento do médico e da gaúcha que dos oponentes. A formação de casais no confinamento é apontada como estratégia de permanência. A emissora também é beneficiada, pois romances, assim como conflitos, alavancam a audiência.

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