Música BaianaSystem se declara ao Recife e promete show 'diferente' Grupo aderiu à paralisação nacional e adiou show na capital pernambucana para o sábado. Confira a entrevista com Russo Passapusso

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 29/04/2017 16:03 Atualizado em: 29/04/2017 16:19

Russo Passapusso, de 37 anos, é o vocalista do BaianaSytem. Foto: Mauricio MFR/Divulgação
Russo Passapusso, de 37 anos, é o vocalista do BaianaSytem. Foto: Mauricio MFR/Divulgação

Talvez não seja possível definir o show de BaianaSystem. Primeiro, porque adjetivos como "vigoroso" e "energético" se encaixam, sim, na experiência testemunhada pelos fãs, mas é como se as palavras fossem apenas uma mera descrição, a parte de um todo. Depois, porque o show é mutável, deixa de ser o mesmo no entretempo de uma faixa e outra - não que os começos e fins sejam tão definidos assim, há sempre espaço para uma repetição ou incursão inesperada. O fato é que a apresentação se configura como uma espécie de quebra-cabeça cujas peças sempre mudam de formato - ou, no caso das músicas, duração, entonação, ritmo - mas se encaixam no final. 

Confira o roteiro de shows no Divirta-se 

É por isso que o show que o grupo apresenta no Recife neste sábado (29), no Baile Perfumado, não é o mesmo que trouxe em fevereiro, no festival Guaiamum Treloso, e muito menos parecido com o que executou no Coquetel Molotov, em outubro do ano passado. As mudanças que ocorreram de lá para cá, conta Russo Passapusso, o vocalista, foram resultado de um processo "cíclico" de observação de como o público recebia as canções: "A gente começa fazendo uma turnê baseada no disco, mas o show vai de acordo com as respostas que a gente recebe da plateia. Eles falam as coisas pra gente, gritam mais ou menos com uma música, e, assim, vamos fazendo". 

Grupo é formado por Roberto Barreto, SekoBass, Russo Passapusso e Filipe Cartaxo. Foto: RedBull/Divulgação
Grupo é formado por Roberto Barreto, SekoBass, Russo Passapusso e Filipe Cartaxo. Foto: RedBull/Divulgação

Inicialmente programada para ocorrer nesta sexta-feira (28), a apresentação foi adiada depois que a banda aderiu à paralisação nacional contra as reformas previdenciárias e trabalhistas, propostas pelo presidente Michel Temer, e decidiu se juntar a curitibana Karol Conka no aniversário da festa Golarrolê, no sábado (29). O engajamento político do grupo não é novidade: no último carnaval, em Salvador, BaianaSystem foi responsável por capitanear um coro de "Fora, Temer" que reverberou até mesmo fora da capital baiana, estampando manchetes e rendendo a eles uma denúncia no Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), entidade que participa da organização e fiscaliza a festa. 

O discurso sobre educação e saúde entoado por Russo em cima do Navio Pirata, como chamam o trio com o qual desfilam, encontra respaldo na discografia da formação, que conta também com os músicos Roberto Barreto, SekoBass e Filipe Cartaxo. O single Invisível, lançado fora do álbum mais recente, Duas cidades, é um exemplo. A letra investiga uma inivisibilização ("Você já passou por mim / E nem olhou pra mim / Acha que eu não chamo atenção / Engana o seu coração") que rapidamente foi associada aos cordeiros do carnaval baiano, responsáveis por manter a exclusividade dos blocos fechados e impedir a entrada de não pagantes.

O significado atribuído à faixa agradou a banda por ser uma perspectiva diferente da concebida no processo de produção. "Quando a gente começou a falar do Invisível, foi algo que estava presente lá nos bastidores do Baiana. Na nossa poética, dentro das nossas conversas conceituais, falávamos sobre o não-lugar, sobre o invisível dentro de todos nós, quebrar esses paradigmas do ego. Tem muito a ver com o interno, micro, mas começou a ser absorvido pela sociedade como coisas externas. Se você vive no trânsito, pensou nas crianças que fazem malabares nos sinais. Quem curte carnaval, viu na música os trabalhadores do mercado informal e assim por diante", pontua Russo. 

O BaianaSystem conta com do inspiração no sound system jamaicano e fortes elementos do rock 'n' roll, reggae, samba-reggae, música eletrônica e axé. Na miscelânea de ritmos, há espaço, ainda, para nomes conhecidos do público pernambucano, para o qual Russo se declara. "Estamos indo tocar no Recife, véi. Faz parte da nossa grande influência. Somos fãs demais da Nação Zumbi, do mangue-beat, da Mundo Livre S/A, dos Devotos. Tudo é uma valorização de um sotaque que a gente ama em um lugar em que há essa reação com uma música historicamente relacionada a etnias negras, ao maracatu. Uma música cheia de referências que caminha com um público com um entendimento mais profundo da nossa poesia", define ele. 

DUAS PERGUNTAS // Russo Passapusso, BaianaSystem 

Já fez mais de um ano desde que Duas cidades saiu. Há previsão para um novo álbum? 

Desde o álbum, já lançamos O invisível e Forasteiro. A gente nunca espera pra fazer música e depois apesentar no meio das outras. Tiramos um broto daquela árvore e vamos desenvolvendo outra, é uma forma que a gente tem de trabalhar. Previsão, não tem. Mas o novo álbum já está ocorrendo, começamos a criar algumas coisas. Isso já signific um novo momento. 

Vocês estiveram no Lollapalloza recentemente e têm presença marcada no Rock in Rio, em setembro. A experiência de tocar em grandes festivais é diferente? 

Não vou dizer que não é. A gente sempre tenta que não seja, tentamos ter uma referência única para fazer shows. Mas quando você toca antes ou depois de tantas bandas, quando você sabe que tem pessoas que ainda vão curtir ali o dia inteiro... É uma história diferente. Você não é mais o único expectador dessa história, precisa participar da banda que tocou antes. No Lollapalooza, a gente não esperava tanta compreensão, mas tinha muitas pessoas que não nos conheciam mas já estavam se comportando da forma como a música havia preenchido o espaço na movimentação do corpo. 

SERVIÇO:
Golarrolê 10 anos, Karol Conká e Baiana System, com Djs: Allana Marques + Lucio Morais, Original DjCopy, GoozGooz, Xande Medeiros, FuckYeahGuigs, Radiola Serra Alta e Pop Briseiro
Quando: 29 de abril, às 19h (abertura dos portões)
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)
Quanto: R$ 60 (1kg de alimento ou um livro em bom estado) e R (inteira), à venda no www.sympla.com/golarrole10anos
Informações: 3033-4747

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