Debate Artistas analisam projeto de lei que reconhece brega como expressão cultural de Pernambuco Michelle Melo, Priscila Sena, Ayrton Montarroyos, Paulo André, Renato Phaelante e Paulo Perdigão opinam

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 27/04/2017 11:06 Atualizado em: 27/04/2017 11:49

Artistas do brega torcem para que o texto seja aprovado em uma segunda sessão. Fotos: Facebook/Reprodução, Perfexx/Divugação, Golarrole/Divulgação, Facebook/Reprodução e Nando Chiapetta/DP
Artistas do brega torcem para que o texto seja aprovado em uma segunda sessão. Fotos: Facebook/Reprodução, Perfexx/Divugação, Golarrole/Divulgação, Facebook/Reprodução e Nando Chiapetta/DP

Um projeto de Lei do deputado estadual Edilson Silva (PSOL), que promete reconhecer o brega como expressão artística genuinamente pernambucana, foi aprovado em primeira discussão na última terça-feira (25) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). A notícia foi comemorada por artistas, produtores e entusiastas do ritmo no estado, que viram na proposta uma oportunidade de maior viabilização de trabalhos e agora torcem para que o texto seja aprovado em uma segunda sessão e, assim, siga para sanção do governador Paulo Câmara.

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A iniciativa representa a inclusão do brega junto a ritmos como o maracatu, ciranda, coco, frevo, afoxé, forró, caboclinho, baião, mangue beat, cavalo marinho, bumba meu boi, pastoril, reisado, toré, capoeira, repente, urso e mazurca na lista da Fundação de Cultura do Estado de Pernambuco (FUNDARPE), que elenca expressões culturais do estado. Na prática, isso significa mais trabalhos para os artistas do gênero, já que a Lei nº 14.679, de 2012, institui que governos estadual e municipal devem prever a reserva de pelo meos 60% das vagas de eventos com apresentações artísticas nas áreas de música, teatro, dança e literatura para artistas e grupos citados na relação.

Artistas do brega na Alepe em comemoração ao Dia do Brega junto ao deputado estadual Edilson Silva. Foto PSOL/Divulgação
Artistas do brega na Alepe em comemoração ao Dia do Brega junto ao deputado estadual Edilson Silva. Foto PSOL/Divulgação


Para três nomes que ajudaram a alavancar o gênero no estado - Michelle Melo, Priscilla Sena e Carlinha Alves -, o projeto de lei representa avanços desejados há tempos pelas pessoas envolvidas na cena. "Tanto como cantora do movimento quanto como cidadã, acho pura hipocrisia não aceitar que o brega se tornou de verdade uma cultura muito forte de Pernambuco. Até quem não gosta do movimento poderia respeitar, tendo em vista que o brega é uma importante fonte de empregos diretos e indiretos do nosso estado. Hoje você anda pelas ruas do Recife e escuta vários bregas diferentes em casa esquina. Está presente na nossa vida 24h por dia", defende Michelle.

A cantora, cuja trajetória foi marcada pela participação na banda Metade, revela ter sofrido preconceitos por ser representar o ritmo e acredita que a discriminação se trata de uma questão elitista. "O que me deixa mais triste é que as pessoas que julgam são pessoas mais esclarecidas, que não fazem questão de procurar entender antes de tachar como ruim. Está todo mundo desinformado, o brega se trata de um movimento que surgiu na periferia, em que cidadãos precisavam se expressar com as palavras que usavam. Hoje, nossas músicas contam um dialeto que está presente nas classes A, B, C...", pontua.

Carlinha Alves, ex-vocalista do grupo Kitara, lembra da convocatória do Governo do Estado no último carnaval, que deixou de lado o brega. "O projeto de lei é muito importante para que tudo seja oficializado, tratado com o devido respeito. Se a lei for concretizada, espero que tudo seja posto em prática, já que o brega é excluído sim pelos grandes, pelas empresas que realizam essas festas. O público fala e não é ele que nos exclui", acredita ela. A cantora concorda com Michelle sobre o impacto econômico que o movimento exerce sobre o estado. "Em um final de semana, no show de brega, empregamos o pipoqueiro, o homem que vende cachorro quente, os técnicos de luz, de som, os cantores, produtores... Tudo isso graças à nossa música", aponta.

Para quem enxerga o movimento de fora, a visão é a mesma. O jovem Ayrton Montarroyos, de 21 anos, que ficou conhecido pela participação no The voice Brasil e já saiu em defesa de MC Troinha, acredita: "Quem somos nós para avaliar o que é menos valioso? Acho que qualquer material produzido pelo povo é cultura, logo acho absurdo que a gente precise de uma lei para isso. Falando como cidadão, é um ganho não só para o estado, mas para o Brasil. Reconhecer os nossos ritmos e meios de comunicação é muito importante".


Já o ator, radialista e pesquisador fonográfico Renato Phaelante, membro imortal da Academia Pernambucana de Música, discorda que o ritmo musical tenha origens completamente pernambucanas e guarda ressalvas em relação a nova geração do brega, elogiando o estilo representado por nomes como Reginaldo Rossi e Waldick Soriano. Apesar disso, diz-se a favor do projeto de Lei: "Eu respeito essa manifestação do brega no estado e concordo que deveria ter ficado de fora no carnaval. Mas apoio tudo que venha para defender a cultura e a arte".

O empresário e produtor cultural Paulo André não vê da mesma maneira: descaracteriza o brega como cultura, classificando-o apenas como forma de entretenimento. "Respeito talvez 20% do brega, aquele romântico. O atual é machista e sexista ao tratar adolescentes como 'novinhas'. Mesmo sendo ritmos seculares, demorou para que o Recife fosse reconhecida como a cidade do frevo e do maracatu, então não acho justo que elevem o brega ao mesmo nível. Sou da geração do mangue, mas não diria que o Recife é a cidade do mangue, porque foi um momento específico. O 'nosso' brega sequer é original, todo artista atual se inspirou na banda Calypso, que não fez sucesso a partir de Belém do Pará, fez sucesso a partir daqui e deixou essa herança maldita", aponta.

A preocupação com o teor sexual presente em parte das músicas de brega é preocupação compartilhada pelo sambista Paulo Perdigão. "Uma coisa é o que Rossi fazia, outra é tratar da exploração sexual da criança nas letras. Acho extremamente perigoso. Respeito o brega e, inclusive apoio a lei, mas me preocupo com a forma como vai ser feito. De qualquer forma, apoio o trabalho dessas pessoas que são guerreiras, trabalhadoras", diz.

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