Música MC Cego lança DVD e reforça tendência do arrocha-funk Mistura do brega-funk com arrocha tem dominado as produções de MCs pernambucanos

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/03/2017 19:30 Atualizado em: 09/03/2017 19:26

O trabalho soma mais de 60 mil visualizações e resgata sucessos do início da carreira de Cego Foto: Youtube/Reprodução
O trabalho soma mais de 60 mil visualizações e resgata sucessos do início da carreira de Cego Foto: Youtube/Reprodução
O arrocha, gênero musical originado na Bahia e influenciado pelo axé e pelo forró, é o novo elemento agregado por MCs pernambucanos ao brega-funk local. Troinha, Leozinho, Tocha, Dadá Boladão... todos querem incorporar o ritmo aos novos trabalhos, fundir batidas. O arrocha agrega sensualidade às músicas, eles acreditam, tornando os versos mais dançantes, aumentando seu poder de viralização. MC Cego Abusado, um dos primeiros expoentes da cena brega-funk recifense, aderiu à tendência lançando o DVD Poderoso chefão, em fevereiro.

Confira o roteiro de shows do Divirta-se

Disponível no canal de Thiago Gravações no YouTube, a principal vitrine do segmento, o trabalho soma mais de 60 mil visualizações e resgata sucessos do início da carreira de Cego (ainda na fase da dupla de MC’s Metal e Cego), além de apresentar novas letras, renovadas pelo que ele chama de arrocha-funk.

“Não é somente arrocha, é uma mistura com as batidas do funk. O resultado é mais dançante, mais popular, tem potencial para estourar em todos os lugares. O DJ Pernambuco, um recifense radicado no Sudeste do país e conhecido na noite paulistana, está tocando as músicas do meu novo DVD, elas já fazem sucesso naquela região. Sem o arrocha, isso não ocorreria”, explica Cego Abusado.

O drible à resistência de casas de shows das classes média e média alta nacionais seria, segundo os MCs, o principal motivo da fusão do arrocha com o bregafunk. Mesmo no cenário local, surgem barreiras: apesar de genuinamente recifense, criado nas periferias da cidade nos anos 2000, o brega-funk nem sempre é bem recebido na Zona Sul da capital pernambucana e dificilmente emplaca hits fora do estado. “Com o arrocha é diferente, entramos em todos os lugares”, compara Cego, cujas primeiras apostas para abraçar a associação de ritmos são Treinamento do bumbum, Peter Pan e Como as coisas mudam.

“Nomes como Dan Ventura e Rei da Cacimbinha foram os primeiros expoentes da fusão entre arrocha e brega-funk. Os MCs pernambucanos Troinha e Tocha deram continuidade à moda, que tem se revelado uma transformação definitiva do gênero musical. As classes A e B têm uma visão deturpada do brega-funk, acham que é música de qualidade inferior, mas aceitam o arrocha”, analisa o produtor Victor Ronã, diretor artístico da ProRec, principal produtora de videoclipes de brega e brega-funk no estado.

“Troia fez turnê de dez shows em São Paulo. Se ele tocasse apenas o brega-funk, não teria fechado contrato. O sucesso das batidas dele está diretamente ligado ao arrocha”, compara. Para Ronã, exemplos como Dan Ventura, em atuação no mercado há cerca de 20 anos, comprovam a durabilidade do fenômeno arrocha-funk e indicam que o novo híbrido não se esgotará tão cedo.

MC Cego discorda: para ele, novos ritmos derivados surgirão, mesclando brega, funk, arrocha, swingueira e outras variações sonoras e instrumentais. Com média de 40 shows mensais, o brega-funk - executado sobretudo em casas de festa distantes das classes A e B, nas periferias locais - continuam a ser a principal fonte de renda e de engajamento do público. “Tem uma nova batida vindo da Paraíba, é um ritmo que está estourado por lá e começa a ganhar espaço em Pernambuco. Não sei nem dizer o nome, porque é algo completamente novo. A música funciona assim. O que se cria nas periferias, pelas mãos do povo, funciona assim. É tudo feito de misturas, não podemos prever o que virá a seguir”, sentencia.

>> DUAS PERGUNTAS: MC Cego Abusado

O que o arrocha agregou ao seu trabalho no novo DVD?

Consegui mais espaço em boates para o público das classes mais altas, mais espaço em outros estados do país. Mas não adianta levantar uma bandeira que não é minha, o meu negócio é o brega-funk. Eu tenho um nome, uma história, um público. Tudo eu conquistei com o brega-funk. Pernambuco é do brega, não adianta negar. Temos seguidores por isso, e é isso que eles esperam de nós. O arrocha é somente uma forma de nos infiltrarmos em outros espaços, mas não podemos esquecer nosso carro-chefe.

Você tem resgatado hits da parceria com Metal. Pensa em retomar os trabalhos em dupla?
Nos meus shows, a galera sempre pede por músicas daquela fase. Principalmente quando toco em boates, o público quer hits meus e de Metal. Com isso, acabei fazendo o projeto Cego retrô. Eu levo Metal comigo e a gente toca juntos, subimos juntos ao palco. É legal, é algo nosso. Mas não pensamos em retomar a dupla. Nós temos nosso sucesso, construímos nosso caminho. Para onde estamos indo, está sempre lotado, fechamos os portões e centenas de pessoas ficam do lado de fora. Quando a gente se separou, cada um seguiu seu rumo, cada um deu duro demais para estar onde está hoje. Foi uma batalha. Da minha parte eu não ia querer voltar atrás, acho que ele também não.

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