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Literatura de cordel Cordel renovado: pernambucano Josué Limeira faz rima com Pokémon e série Game of thrones Produções visam dar um toque moderno à linguagem poética tradicional e conquistar um público jovem

Por: Bárbara Valdez

Publicado em: 08/03/2017 12:42 Atualizado em: 08/03/2017 13:57

Livretos remontam ao estilo tradicional do cordel. Foto: Josué Limeira/Arquivo pessoal/Divulgação
Livretos remontam ao estilo tradicional do cordel. Foto: Josué Limeira/Arquivo pessoal/Divulgação


A narrativa rimada do cordel, retrato típico dos causos nordestinos, ganha toques de modernidade com releituras de histórias clássicas e contemporâneas. Produções de Shakespeare, Lewis Carrolll e Victor Hugo já foram apresentadas com traços matutos. Aqui em Pernambuco, o cordelista Josué Limeira, trouxe para os leitores o livro O pequeno príncipe (Carpen Diem, 2015), indicado ao prêmio Jabuti ano passado. Com um estilo que valoriza produções que fogem do comum, o autor aposta em mais duas aventuras que fazem parte do cotidiano jovem, a franquia Pokémon e série Game of thrones.

Desenvolvidos em forma de livretos, estilo tradicional do cordel, os textos buscam atrair crianças e adolescentes, que podem ainda não estar familiarizados com esse gênero literário que preza pela poesia. "Quando falamos a linguagem atual, sutilmente trazemos o público jovem para o cordel e isso dá espaço para o uso das narrativas em escolas", explica Josué Limeira em entrevista ao Viver. Ele afirma que começou a explorar essas novas ideias porque percebia uma carência no mercado e  também acha importante trazer um ineditismo para a literatura.

O matuto e o Pokémon é uma história autoral, baseada no jogo da franquia japonês. "O objetivo é brincar com a tecnologia e relação que o público mais velho tem com ela", conta. No livreto, um matuto que não tem medo de chupa cabra fica espantado ao se deparar com vários bichinhos tecnológicos que saem do celular e aparecem no meio da plantação. Vendida por R$ 5, a obra tem ilustrações do filho de Josué, Guilherme Limeira. 

Seguindo o gosto pela contemporaneidade está o texto Game of thrones em cordel, que faz uma releitura até a quinta temporada da série sucesso da HBO. "Eu quis trazer uma brincadeira com essa história da qual sou fã e atingir o público um pouco mais velho, de adolescente a jovem", pontua Limeira. O exemplar pode ser adquirido diretamente com o cordelista, também pelo valor de R$ 5.

A literatura de cordel tem origem na época do Renascimento, no século XV, e é formada por versos que seguem uma organização métrica. No Brasil, o gênero ganhou força aqui no Nordeste, em estados como Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Por ter um formato específico, o ponto mais difícil das adaptações, de acordo com Limeira, é construir rimas utilizando palavras estrangeiras, mas também há a preocupação em não descaracterizar as narrativas originais. Quando escreveu o livro O pequeno príncipe em cordel, o autor afirma que releu a obra de Saint-Exupéry dezenas de vezes até apreender a essência da história.

Adaptações não são novidades entre cordelistas. Além de Limeira, João Gomes de Sá e Marco Haurélio, naturais de Alagoas e Bahia, respectivamente, também escreveram histórias inspiradas em clássicos. A dificuldade é nas produções que buscam inovar trazendo temas atuais para as composições poéticas. "Fora as proposições ligadas à saúde pública, como prevenção de dengue ou zika, os cordelistas são muito ligados as raízes", conta Josué.

Trecho de O matuto e o Pokémon

Anastácio de Zezé / Matuto de profissão / Caçador de chupa cabra / Sem medo de assombração / Ganhou um novo celular / Pra receber ligação / Era um celular bonito / Com 3G e com wifi / Atrás dele tinha escrito / Não se quebra quando cai/ Mas o homem não sabia/De um joguinho instalado/ Bola branca e vermelha/ Com um nome engraçado/Era o tal do Pokémon/Que jamais tinha escutado.

Entrevista com Josué Limeira

O cordel é um gênero literário marcante. Em sua opinião a que se deve essa força?
A literatura de cordel resiste na sociedade há muito tempo. Uma de suas principais marcas, além da sonoridade, é conseguir unir vários estilos literários num só. Os textos de cordéis têm romance, tragédia, anedota e comédia. Eles conseguem brincar com diferentes situações. É isso que conquista o público.

A literatura de cordel tem um estilo próprio, muitas vezes com um público cativo. O mesmo ocorre com as obras que foram adaptadas por você. Como é apostar nessas misturas, que, à primeira vista podem estar tão distantes?
Eu sempre gostei de mexer com modernidade, de poder inovar. Eu admiro muito o apego que os cordelistas, em geral, têm com suas raízes, mas também é importante trazer coisas novas, falar a língua do público de hoje.  As pessoas já trabalham com releituras de clássicos, agora precisamos também trazer narrativas contemporâneas, como Game of thrones. Isso facilita a inserção do cordel em salas de aula e pode ampliar o espaço que temos nas livrarias.

Quais as novidades que o público leitor pode esperar das produções de Josué Limeira?
Eu tenho um livro pronto, intitulado Dona boca e a revolta do corpo, que deve ser lançado em fevereiro, mas ainda não tem data definida. A produção é uma narrativa em prosa, sem ligação com cordel, que trata da alimentação saudável e é voltada para o público infantil. Ela tem ilustração do meu filho Guilherme Limeira e deve ser publicada pela Editora Cativa, um selo próprio que estou montado.

SERVIÇO
Os livros e livretos de Josué Limeira estão à venda no site www.emcordel.com.br ou pelo e-mail josue.limeira@gmail.com
Quanto: entre R$ 5 e R$ 30

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