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Cinema Cineasta brasileira recupera memória da pornochanchada na ditadura Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava propõe diálogo com a cultura de massa para entendimento da história atual. Produção disputa prêmio de melhor documentário no Festival Cinelatino de Toulouse

Por: Portal Uai - Associados

Por: AFP - Agence France-Presse

Publicado em: 23/03/2017 20:54 Atualizado em: 23/03/2017 19:43

Filme traz recortes de pornochanchadas para discutir a presença política no cinema brasileiro durante o regime militar. Foto: Youtube/Reprodução
Filme traz recortes de pornochanchadas para discutir a presença política no cinema brasileiro durante o regime militar. Foto: Youtube/Reprodução


A cineasta brasileira Fernanda Pessoa disputa este ano o prêmio de melhor documentário no Festival Cinelatino de Toulouse, na França, com Histórias que nosso cinema (não) contava, uma imersão na pornochanchada, gênero popular durante a ditadura, que esconde traços da memória histórica. As populares comédias com forte teor sexual encheram os cinemas brasileiros na década de 1970, durante a ditadura, e, para Pessoa, podem ajudar a entender a história atual.

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O Festival Cinelatino explicou em sua programação que a pornochanchada é um neologismo que mistura o pornô com a "chanchada", termo com o qual ficou conhecida a comédia picaresca. Durante a ditadura no Brasil, este gênero se tornou uma forma de expressão da crítica ao regime. "Com meu filme, o que proponho é repensar a história do Brasil. Pois acredito que há coisas que, embora não concorde, devo conhecer", afirma a cineasta.

"Por meio das comédias eróticas que escapavam da censura, as cruéis relações empresariais, a misoginia forçada, o racismo e a violência política passavam pelo filtro como um humor obsceno", explicaram os organizadores do Cinelatino, que acontece em Toulouse de 17 a 26 de março.

Violência sexual como entretenimento
Para Fernanda Pessoa, de 30 anos, este filme permitiu que entrasse em um período da história que não viveu, já que nasceu depois da volta à democracia. "Há todos os tipos de filme que você possa imaginar. Velho Oeste, policiais e até filmes políticos categorizados como comédias", explica. "Cerca de 10% destes filmes são políticos, havia intelectuais que tentavam introduzir conteúdos escondidos", indica.

Ela conta que o mais difícil de encarar foi a violência sexual contra as mulheres, em que as mulheres que participavam dos filmes eram submetidas a assédios e estupros como parte de um produto de entretenimento: "Muitas dessas cenas não consegui ver depois da montagem. É muito duro". "Há uma coisa que eu gostaria muito que as pessoas entendessem: sempre há traços da história nos produtos culturais. Acredito que ninguém pense que produtos de massa como os 'blockbusters', como Transformers, possam nos ensinar alguma coisa. É político", explica a diretora, que acredita que no Brasil a memória histórica não é preservada.

"Como não se olha para a história, a história se repete. Cometemos os mesmos erros e isso é o que está acontecendo agora no Brasil", emenda. "É muito importante recordar esta história tão dura que vivemos para tentar compreender como isso aconteceu, para que não se repita nunca", conclui.

Assista ao trailer de Histórias que nosso cinema (não) contava:



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