Cinema A Vigilante do Amanhã impressiona no visual mas peca no roteiro Adaptação ocidental com atores reverencia material original e simplifica drama existencial da protagonista

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 30/03/2017 13:40 Atualizado em: 30/03/2017 15:41

Scarlett Johansson mostra talento para o papel de heroína. Foto: Paramount/Divulgação
Scarlett Johansson mostra talento para o papel de heroína. Foto: Paramount/Divulgação

O conflito entre homem e máquina é temática recorrente em obras de ficção científica e, com as relações da sociedade cada vez mais permeadas pela tecnologia, a questão mantém-se pertinente. A vigilante do amanhã: Ghost in the shell é mais um filme a abordar a questão, mas chega hoje aos cinemas já com a bagagem de uma franquia iniciada no fim dos anos 1980.

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A série surgiu na forma de mangás, publicados entre 1989 e 1990. A premissa da trama original se repete no filme: em um futuro não tão distante, os avanços tecnológicos tornaram comuns as melhorias em corpos humanos e boa parte da população conta com itens artificias, como próteses biônicas ou órgãos robóticos. A linha que separa a humanidade dos robôs torna-se tênue e as pessoas passar a ficar susceptíveis a ataques cibernéticos.

Esse tipo de ameaça é enfrentado por uma organização governamental chamada Setor 9 e uma das figuras centrais dessa divisão é Major, mulher que teve o cérebro transferido para um corpo humanóide artificial. A sensação de deslocamento/isolamento da personagem, questionando a todo o momento a própria humanidade, dá a tônica de Ghost in the shell, sobretudo na primeira adaptação para os cinemas, o anime lançado no ano de 1995, principal referência para o filme com atores.

Além da animação, a história foi transporta e ampliada para sequências em séries televisivas animadas, mangás e games. O criador da franquia, Shirow Masamune, em lugar do literal embate humanidades versus robôs, navega por um campo mais subjetivo e filosófico, sobre o que define um indivíduo como ser humano. Esse lado metafísico está explicitado já no título, cuja tradução literal é "fantasma no casco".

Enquanto o primeiro anime tem condução lenta e mais calcada no drama de Major, o filme acrescenta maior dose de ação à narrativa. A protagonista, interpretada Scarlett Johansson, encara os mesmos questionamentos que a sua contraparte dos desenhos e quadrinhos, mas encara também uma série de desafios físicos na busca pelas respostas sobre sua origem e entendimento a respeito de si mesma.

Tal qual Major torna-se um híbrido entre humano e máquina, o filme de Rupert Sanders parece dividido entre pura diversão e verniz filosófico. E se sai melhor no primeiro campo: os embates são bem executados, criativos e harmoniosamente coreografados. Experiente em papéis que exigem esse desempenho físico, Scarlett Johansson supera as performances vistas como Viúva Negra nos filmes da Marvel e reforça o potencial de heroína de ação.

Didático, o filme peca ao ser muito explicativo, ao ponto de a expressão ghost in the shell ser repetida um bom número de vezes, como que para lembrar o mote da obra. Sem o mesmo equilíbrio visto em títulos como Blade runner e Matrix, este último bastante influenciado pelo anime de 1995, os conceitos filosóficos em A vigilante do amanhã são apresentados de forma rasa e sem sutilezas, algo usual em releituras ocidentais para o cinema.

Visualmente impecável, o longa brilha no campo digital na construção de um Japão cyberpunk, cheio de tecnologia e luzes neon, mas também um tanto sujo e melancólico. O mais impressionante, no entanto, está nos efeitos práticos: robôs, armas e outros elementos não foram gerados por computador, mas manufaturados pela Weta Workshop (responsável pelos efeitos da trilogia O senhor dos anéis). Ao menos para os olhos, A vigilante... é um grande filme e pareceria melhor sem a inevitável comparação com o predecessor em desenho animado.

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