Diversidade Grupo pernambucano de samba se diz o primeiro do mundo liderado por uma drag queen Em atividades há seis anos, banda possui duas dançarinas transexuais

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 16/02/2017 10:03 Atualizado em: 16/02/2017 16:33

Primeiro DVD foi gravado em setembro e grupo tá tem outro encaminhado. Foto: Trava Samba/Divulgação
Primeiro DVD foi gravado em setembro e grupo tá tem outro encaminhado. Foto: Trava Samba/Divulgação


É de salto alto, vestido (ou saia), peruca, cílios postiços, adereços na cabeça e maquiagem pesada que Gizelly Baygonn sobe ao palco, há seis anos, para cantar samba. O ritmo, historicamente popularizado no país por homens e nem tão numerosas representantes do sexo feminino, como Alcione e Mart’nália, ganha nova perspectiva com o trabalho do Trava Samba, o auto-intitulado primeiro grupo de samba do mundo liderado por uma drag queen. Além de Gizelly, personagem criada por Douglas, a banda é integrada pelas dançarinas transexuais Nayna Valentim e Bruna Melisse e por outros músicos.

Confira o roteiro de shows e prévias no Divirta-se

O visual extravagante e a personalidade cômica de Giselly nasceram em 2011, junto com o projeto. Douglas, o criador, fazia shows beneficentes com o intuito de levantar fundos para uma casa geriátrica e, junto a amigos, teve a ideia de se "montar" como drag para incrementar as apresentações. Daí, decidiu chamar Nayna e Bruna para compor a equipe. Juntas, Gizelly e as dançarinas gravaram o primeiro DVD, que começou a ser vendido de forma independente. O sucesso motivou as três artistas a dar prosseguimento ao projeto e procurar uma banda para acompanhá-las.

Foi aí, no entanto, que as dificuldades apareceram. "Eles olhavam a proposta e negavam. Duas bandas começaram a ensaiar conosco e desistiram. A gente levava a proposta com foto, vídeo, música gravada e mesmo assim as pessoas olhavam estranho, não aceitavam", conta Gizelly. A procura acabou quando o trio encontrou um grupo de Rio Doce, bairro de Olinda, que embarcou na ideia e começou a ensaiar. Com o trabalho encaminhado, era hora de começar a marcar os shows - outro problema.

Grupo é composto pela vocalista, Gizelly Baygonn e dançarinas Nayna Valentim e Bruna Melisse. Foto: Trava Samba/Divulgação
Grupo é composto pela vocalista, Gizelly Baygonn e dançarinas Nayna Valentim e Bruna Melisse. Foto: Trava Samba/Divulgação


"Quando a gente foi levar o nosso trabalho, algumas pessoas não quiseram nos dar espaço. Direcionavam e rotulavam o nosso trabalho a boates gays, não entendiam que a nossa proposta era apenas tocar samba. Tive que pagar para fazer shows em algumas casas por entender que era importante a divulgação", afirma a cantora. "Hoje, já conseguimos o respeito que merecemos e já tem sido melhor, recebemos convites", completa. O Trava Samba é uma das atrações confirmadas no sábado de carnaval no Pátio de São Pedro (no dia 25, às 14h), conhecido com o Polo da Diversidade, ao lado de outros ícones da cena LGBTT.

Confira a programação completa do carnaval recifense

Além de ser uma alternativa profissional para as integrantes, o Trava Samba também proporciona um canal de reafirmação e representatividade social. Bruna e Nayna dizem encontrar no grupo o espaço que lhes é negado nos demais setores da sociedade e vê a banda como uma oportunidade. "Sou formada em costura e quero abrir o meu próprio negócio, uma grife de moda. No entanto, encontro dificuldade por ser trans, não tenho as mesmas oportunidades. No Trava Samba, posso ser quem sou e ainda tenho o espaço para divulgar o meu trabalho", pontua Bruna.

Assista a uma das apresentações do grupo:



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