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Televisão Nova série 24 Horas enfrenta o dilema das produções na Era Trump 24: Legacy, que estreia na televisão brasileira no próximo dia 9, precisou adaptar seus roteiros para refletir o cenário político dos EUA

Por: Eduarda Fernandes

Publicado em: 04/02/2017 13:49 Atualizado em: 04/02/2017 13:51

Spin-off é protagonizado por Corey Hawkins, intérprete de Eric Carter, um ex-soldado do Exército norte-americano que se junta à Unidade de Combate ao Terrorismo. Foto: FOX/Divulgação
Spin-off é protagonizado por Corey Hawkins, intérprete de Eric Carter, um ex-soldado do Exército norte-americano que se junta à Unidade de Combate ao Terrorismo. Foto: FOX/Divulgação


Após oito temporadas que narraram oito difíceis dias na vida do agente do FBI Jack Bauer, 24 horas está de volta - mas, desta vez, sem o personagem símbolo da série. 24: Legacy estreia com episódio duplo na próxima quinta-feira (9), às 23h (horário do Recife), no canal pago Fox. O spin-off acompanha o ex-soldado do Exército Eric Carter, interpretado por Corey Hawkins, enquanto ele tenta impedir um ataque terrorista nos Estados Unidos.

A premissa não difere muito da produção original e o formato - de o relógio correr em tempo real e cada episódio equivaler a uma hora na vida dos personagens - continua o mesmo, mas o produtor-executivo e roteirista Manny Coto garante que a intenção inicial não era reviver o sucesso de 24 horas. “Não estava nos nossos planos. Tivemos a ideia de uns soldados que matavam um terrorista e tinham que fugir porque alguém os delatou e eles estavam sendo mortos um por um. Originalmente, eu estava desenvolvendo isso para ser uma série separada, sem relação com 24 horas. Mas, quanto mais pensamos, mais acreditamos que o formato de tempo real parecia adequado”, ele revelou, em entrevista coletiva para veículos da América Latina da qual o Viver fez parte.

Apesar da ausência de Jack Bauer, 24: Legacy contará com um personagem querido dos fãs. Tony Almeida, o agente da Unidade de Combate ao Terrorismo interpretado por Carlos Bernard, volta para um dos 12 episódios da primeira temporada. O produtor-executivo, no entanto, alerta: isso não significa que o público deve esperar mais rostos conhecidos. “O plano sempre foi trazer Tony de volta, apenas ele, na próxima encarnação de 24 horas, se tivéssemos uma”, confessa. “É um pouco nostálgico, mas também é nossa oportunidade de casar o velho com o novo. Eric Carter (protagonista do spin-off) é uma pessoa completamente nova entrando em 24 horas e uma maneira de mostrar como o mundo da série mudou é colocar ele ao lado de alguém que fazia parte do universo original”, explica.

Para Manny Coto, 24 horas mudou porque o mundo real mudou. Quando a série original começou a ser exibida na televisão dos Estados Unidos, em março de 2002, o país ainda se recuperava do ataque às torres do World Trade Center, em setembro do ano anterior, que matou quase 3 mil pessoas e feriu 6 mil. Era inevitável, então, que a série dialogasse com os medos do povo norte-americano à época. “A influência para as histórias foi enorme - a série se concentrava em impedir grandes ataques terroristas, era realmente uma espécie de resposta ao 11 de Setembro”, diz o produtor. Já Legacy estreia pouco tempo depois de outro evento importante para a história dos EUA. “Agora vivemos no mundo de (Donald) Trump, então vamos abordar muitas das ideias dele, principalmente as que contrastam com as de Hillary. 24 horas sempre foi influenciada pela sua época e dessa vez não será diferente”, adianta.

A maneira como a série aborda o terrorismo também passou por mudanças. “O terrorismo ainda faz parte da sociedade, mas de uma forma diferente. Acredito que não temos mais tanto medo de ataques de grande escala. Hoje, o inimigo maior são os lobos solitários, pessoas que são influenciadas por ideologias radicais e pegam uma arma e atiram nas outras em shoppings e escolas”. De fato, o maior ataque em solo norte-americano desde o 11 de Setembro foi cometido por um simpatizante do Estado Islâmico. Em junho de 2016, Omar Mateen matou 49 pessoas e feriu 53 ao abrir fogo na boate LGBT Pulse, em Orlando, na Flórida.

>>> Diversidade: A escolha de Corey Hawkins para viver o protagonista da trama de 24 horas: Legacy, segundo Manny Coto, deu-se logo depois de a equipe vê-lo atuar no filme Straight outta Compton - A história do N.W.A. “Na hora, soubemos que tinha que ser ele, foi nossa primeira e única opção”. Sobre o fato de o ator ser negro, o roteirista afirma não ter sido um fator de peso na seleção. “Mas isso deu a oportunidade de formar um elenco mais diverso. Na série original, tivemos um presidente negro e muita gente diz que isso ajudou na eleição de Obama”.

>>> Por onde anda Jack Bauer: Após ter vivido Jack Bauer, o ator Kiefer Sutherland se tornou produtor da nova série. Atualmente, protagoniza o seriado Designated survivor, disponível na Netflix. Também é músico e está em turnê com o álbum Down in a hole, o primeiro de sua carreira.

 

E agora?
Com o início da “Era Trump”, outras séries lançaram mão de mudanças nos roteiros para refletir os novos tempos na política norte-americana:
Homeland
Na sexta temporada de Homeland, recém-estreada, uma senadora de Nova York é eleita presidente dos EUA e começa a redesenhar o tabuleiro do jogo político. A nova líder foi descrita por um dos criadores da série como uma combinação de Trump, Hillary Clinton e Bernie Sanders.
The good fight
O spin-off de The good wife, com estreia prevista para 19 de fevereiro, teve alterações significativas no roteiro. Realizadores classificaram a série original como uma produção sobre os anos do governo Obama e sublinharam que a nova trama será declaradamente “anti-Trump”.
Black-ish
A série de comédia lançou um capítulo cujo roteiro é todo costurado a partir de como os personagens da série, formado por negros de classe média dos Estados Unidos, encararam a eleição de Donald Trump.

>>> 2 perguntas para Manny Coto

Quais as principais diferenças entre o protagonista de Legacy, Eric Carter, e Jack Bauer?
Quando a série original começou, Jack já era um veterano, estava no comando da Unidade de Combate ao Terrorismo, ele já conhecia esse mundo. Eric vem de um universo completamente diferente. Ele é um soldado que está acostumado a estar no campo de guerra onde lhe dizem quem é o inimigo e o que fazer. Entrando no mundo de 24 horas, ele percebe que o inimigo pode ser um de nós e que a vida não é tão “preto no branco” como é na guerra. Muitas vezes, sua missão é descobrir quem é o inimigo. Ele tem que se acostumar com isso, com essa nova maneira de combate, e a série acompanha a evolução dele.

A marca registrada da série é o formato em tempo real. Quais as dificuldades de escrever roteiros desta maneira?
Cada episódio afeta o episódio que vem depois, então não dá para adiantar os roteiros, pois uma mudança em um significa uma mudança em todos. E, como a série original tem 200 horas, já abordamos tudo o que você pode imaginar. É um desafio enorme pensar em tramas novas ou pegar tramas antigas e colocá-las de maneira diferente. O que você pode fazer com a história é limitado também, para onde os personagens podem ir, a quantidade de coisas que podem acontecer em um episódio. Eu já escrevi para muitas séries, como Dexter e Star trek, mas essa é, sem dúvida, a mais difícil.

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