Cinema Eu Não Sou Seu Negro é um dos filmes mais urgentes e relevantes do Oscar 2017 Documentário estreia nesta quinta-feira no Cinema do Museu do Homem do Nordeste

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 16/02/2017 14:00 Atualizado em: 16/02/2017 14:31

Texto de James Baldwin (Centro) guia a narrativa do filme. Foto: Imovision/Divulgação
Texto de James Baldwin (Centro) guia a narrativa do filme. Foto: Imovision/Divulgação

Se parece inaceitável o surgimento do racismo em algum ponto da existência da humanidade, mais surpreendente ainda é a perpetuação dele até os tempos atuais. Ao lado de aparentes avanços para a redução da desigualdade racial, persistem preconceito, opressão e violência que vitimam um incontável número de pessoas. O quadro desolador é, direta ou indiretamente, tema de alguns dos filmes concorrentes ao Oscar deste ano, tendo na categoria dedicada aos documentários as produções mais incisivas, entre eles Eu não sou seu negro, que estreia hoje no Cinema do Museu do Homem do Nordeste (Avenida Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte).

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O filme dirigido por Raoul Peck é construído a partir de um manuscrito inacabado do romancista e ensaísta norte-americano James Baldwin. Com cerca de 30 páginas, Remember this house, aborda questões relacionadas ao sistema segregacionista nos EUA, tendo como ponto de partida memórias sobre os três líderes negros assassinados entre 1963 e 1968: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King.

Utilizando-se apenas o texto de Baldwin (narrado pela poderosa voz do ator Samuel L. Jackson), o filme recorre também a entrevistas dadas pelo autor nos anos 1960, além trechos de filmes, reportagens e fotografias. A atemporalidade das palavras de Baldwin fica visível sobretudo nos momentos em que o documentário mostra imagens de inúmeros conflitos recentes motivados por questões raciais.

O escritor soa atualíssimo ao falar da segregação institucionalizada e do racismo, velado ou não, do sistema político vigente à época, mostrando que pouco mudou desde o histórico movimento social Black Power ao contemporâneo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Em um momento do filme, Baldwin comenta uma previsão de Robert Kennedy, em 1968, sobre a possibilidade de os Estados Unidos terem, dentro de algumas décadas, um presidente negro (o que acabou se concretizando com Barack Obama).

O autor questiona o recorrente discurso de políticos pedindo paciência aos negros quando não parece justo esperar por direitos que sempre foram concedidos aos brancos como algo natural e inerente. Pacifista, ele condenava qualquer tipo de ódio contra os opressores ou ações violentas.

As questões abordadas por ele continuam fazendo parte da realidade de uma grande parcela da população, dentro e fora do território norte-americano. E não custa lembrar que, no Brasil, mais de 70% das vítimas de homicídios são negras, segundo dados do Mapa da Violência. Nos EUA, a ONU estima que a taxa de assassinato de negros é oito vezes maior que a de brancos.

Eu não sou seu negro mostra, através da sociedade norte-americana, como boa parte do mundo ainda não conseguiu superar a visão escravocrata que perpetuou por séculos e foi remodelada através de políticas de segregação ressonantes até hoje. Essencialmente, Baldwin frisa algo simples e óbvio, mas constantemente esquecido: ele - assim como todos os negros - é um cidadão como os demais, merecedor de direitos iguais. Um filme tristemente urgente e necessário.

Confira o trailer do documentário:



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