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Biografias Claudionor Germano e Maestro Formiga ganham biografias no Dia do Frevo Músicos são tema de livros assinados pelo jornalistas e pesquisadores José Teles e Carlos Eduardo Amaral, com lançamento no Paço do Frevo

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/02/2017 14:33 Atualizado em: 09/02/2017 16:42

Claudionor e Maestro Formiga têm as trajetórias artísticas cruzadas com a história do frevo no estado. Fotos: Alcione Ferreira/DP e Bernardo Dantas/DP
Claudionor e Maestro Formiga têm as trajetórias artísticas cruzadas com a história do frevo no estado. Fotos: Alcione Ferreira/DP e Bernardo Dantas/DP


Na abertura de sua biografia, assinada pelo crítico e escritor pernambucano Carlos Eduardo Amaral e lançada nesta quinta-feira (09), Ademir Araújo, o Maestro Formiga, faz uma ode aos festejos de Momo. "Carnaval não é só evento. Carnaval é até um aprimoramento da própria sociedade, na convivência", diz o biografado. Ele revela, nas frases, o fio condutor das duas obras publicadas neste Dia do Frevo pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), às 15h30, no Paço do Frevo. Maestro Formiga: Frevo na tempestade (Cepe, R$ 30) e Claudionor Germano: A voz do frevo (Cepe, R$ 80), este escrito pelo jornalista e pesquisador paraibano José Teles, documentam e revigoram as tradições carnavalescas do estado. Vão além dos personagens, ambos patrimônios vivos de Pernambuco, para celebrar - e resgatar - o ritmo centenário.

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Maestro Formiga, Claudionor Germano, suas biografias e o frevo pernambucano se cruzam, entre outros pontos de menores proporções, na Frevioca: o caminhão ocupado por orquestra de frevo regida por Ademir Araújo, projeto idealizado pelo jornalista e escritor Leonardo Dantas, saiu às ruas nos anos 1980 e reconfigurou o cenário local. Foi junto à Frevioca a primeira participação de Claudionor no carnaval de rua da cidade. Convidado pela Cepe a redigir o livro, Teles destrincha o episódio em capítulo à parte. "Claudionor Germano, um ano antes de participar da Frevioca, exatamente quando estava recebendo homenagens pelos seus 25 anos de frevo, concedeu uma entrevista ao Diario de Pernambuco, à repórter Graça Gouveia, em que se mostrava desiludido com a carreira artística, que dava por encerrada", narra o autor. "Prefiro cantar nos quintais dos amigos, que me dá muito mais alegria do que ser explorado pelos donos de casas noturnas", declarou o músico naquela época. Teles credita à Frevioca, onde o artista passou a atuar como crooner um ano após a entrevista, a recuperação de Claudionor Germano para as trincheiras do frevo.

"Além da importância para as trajetórias artísticas dos dois, a Frevioca teve papel fundamental na quebra de preconceito em relação aos trios elétricos. Havia muita resistência dos músicos locais, por se tratar de uma invenção baiana. Eles alegavam que os instrumentos do frevo eram potentes a ponto de dispensar amplificação sonora. Mas a Frevioca alimentou a dinâmica do carnaval, sendo deslocada para pontos que estivessem 'morgados' durante a folia", explica Carlos Eduardo Amaral, que construiu o livro a partir de entrevistas com Formiga e levantamentos bibliográficos acerca do personagem e do frevo.

Amaral assinará, ainda neste ano, as biografias - que ele prefere classificar como ensaios-reportagem - de Getúlio Cavalcanti e do Maestro Duda, títulos reunidos na Coleção Frevo Memória Viva, organizada pela Cepe e iniciada com Maestro Formiga: Frevo na tempestade. A ideia é dar protagonismo ao frevo, celebrando seus 110 anos, em paralelo à reconstrução das carreiras de expoentes do ritmo.

Para o músico Nonô Germano, filho de Claudionor, os lançamentos e a iniciativa do selo trazem à tona memórias pouco revisitadas pelos biografados e reconstroem os passos do frevo no carnaval do estado. "É questão de respeito, história. Não se faz o novo sem beber na fonte dos mais experientes", avalia. Segundo ele, a publicação abrirá as comemorações dos 70 anos de carreira de Claudionor, cuja apoteose ocorrerá em show previsto para outubro, no Recife.

SERVIÇO
Lançamento dos livros Maestro Formiga: Frevo na tempestade (164 páginas, Cepe, R$ 30) e Claudionor Germano: A voz do frevo (Cepe, R$ 80)
Quando: Quinta-feira (09), às 15h30
Onde: Paço do Frevo (Rua da Guia, S/N, Bairro do Recife)
Quanto: gratuito. No lançamento, os dois livros poderão ser adquiridos por R$ 100
Informações: 3355-9500

>> TRECHOS

"O professor [Maestro Edson Rodrigues] mandou um amigo tomar a primeira lição de mim, e eu passei um mês para poder aprender o dó, ré, mi, fá, sol, lá. Por conta disso, o mestre disse que era melhor eu seguir com a pintura, porque não ia dar na música". (Maestro Formiga em Maestro Formiga: Frevo na tempestade)

"A Frevioca reaproximou Claudionor Germano do público pernambucano. Seu auge como cantor popular aconteceu até os anos 1960, com os discos da Rozenblit tocando e vendendo bem, suas participações nos programas da Rádio e TV Jornal do Commercio. (...) Claudionor Germano foi o único da sua geração, além de Expedito Baracho, a ser revalorizado". (José Teles em Claudionor Germano: Avoz do frevo)

"Ademir sempre defende a iniciativa de formar projetos de educação musical, não por idealismo, mas por ser um fruto deles e rer conhecido ou ajudado a formar outro tanto desses frutos, emersos de cidades sem a mesma estrutura de ensino musical existente na capital". (Carlos Eduardo Amaral em Maestro Formiga: Frevo na tempestade)

"O músico pernambucano aprende a tocar ouvindo e tocando e une isso aí ao domínio do instrumento". (Maestro Formiga em Maestro Formiga: Frevo na tempestade)

"No final da carreira, Nelson foi esquecido e ele fez muito pela música de Pernambuco. Porém, tem uma coisa. Não quero negar o mérito de Nelson Ferreira, mas Capiba foi mais compositor. Teve mais inspiração, fazia um carnaval mais romântico. Ele descobria uma mulher imaginária e fazia música para ela. Sua música era triste como os frevos de Levino. Nelson fazia muito frevo de motivos populares, coisas do momento.” (Claudionor Germano em Claudionor Germano: A voz do frevo)

"Mil e duzentos cruzeiros... foi para comprar os três volumes do Grande tratado de instrumentação e orquestração de Hector Berlioz, em italiano, na Livraria Cruzeiro, na rua Nova. Perguntei quanto era: 300 cruzeiros. Quando fui pagar, eram 900. 300 em cada volume. Tomei aquele susto. Eu disse: 'eu quero, embrulhe', e ainda salvei da enchente de 1966". (Maestro Formiga em Maestro Formiga: Frevo na tempestade)

"O professor de desenho dizia: 'Ou você deixa a música ou vou te reprovar', e, um dia, eu disse: 'Mestre, a partir de hoje, deixo a pintura. Vou ser músico'. Mas fui músico forçado. Foi difícil". (Maestro Formiga em Maestro Formiga: Frevo na tempestade)

Carlos Eduardo Amaral assinará biografias de expoentes do frevo encartadas pela Cepe. Foto: Claudio Portela/Divulgação
Carlos Eduardo Amaral assinará biografias de expoentes do frevo encartadas pela Cepe. Foto: Claudio Portela/Divulgação
>> Duas perguntas: Carlos Eduardo Amaral, pesquisador, crítico e escritor

Em linhas gerais, como resumiria o papel do Maestro Formiga junto ao frevo pernambucano?

Ele é um dos compositores mais arrojados no que diz respeito à harmonização e orquestração do frevo. Peças que ele escreveu nos anos 1960 e 1970 são arrojadíssimas. Ele também é muito ligado ao maracatu, foi um dos músicos que mais valorizou a existência e a resitência do maracatu. Tem um estilo próprio de compor frevo. E compôs, ainda, peças para orquestras de câmara belissimas, teve um forte envolvimento com a música erudita.

Poderia antecipar um pouco da continuação do projeto Frevo Memória Viva?
Trata-se de uma série de livros idealizada pela Cepe, que eu classifico como ensaios-reportagem, pois, além de fatos da vida dos personagens, é possível, transversalmente, conhecer mais sobre a trajetória do frevo. Assim como em Maestro Formiga: Frevo na tempestade, cujo título é inspirado numa das composições mais marcantes dele, serão os próximos livros. O ensaio sobre Getúlio Cavalcanti, por exemplo, será intitulado Getúlio Cavalcanti: O último regresso. As obras serão lançadas ainda neste ano, em comemoração aos 110 anos do frevo. Cada uma delas requer, em média, dois meses de pesquisa e dois meses de redação. Sempre tive o desejo de resgatar a trajetória de Formiga e dos outros homenageados.

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