Cinema Um dos favoritos ao Oscar, La La Land resgata emoção dos musicais e merece ser visto Filme com Ryan Gosling e Emma Stone estreia nos cinemas nesta quinta-feira

Por: Mariana Peixoto - Estado de Minas

Publicado em: 18/01/2017 08:24 Atualizado em:

Filme foi rodado em CinemaScope, um formato utilizado pelo cinema de Hollywood até os anos 1950. Foto: Paris Filmes/Divulgação
Filme foi rodado em CinemaScope, um formato utilizado pelo cinema de Hollywood até os anos 1950. Foto: Paris Filmes/Divulgação

Uma semana e meia após ter arrebatado o Globo de Ouro - levando todos os sete prêmios a que havia sido indicado - La la land: Cantando estações, de Damien Chazelle, entra de vez em cartaz nos cinemas do Brasil (o filme está em pré-estreia diária) na quinta-feira. O filme vale. Não se deixe se envolver por um velho argumento ("Eu não gosto de musicais") repetido sempre que um filme do gênero ganha os holofotes. La la land não é um musical típico, mesmo que reverencie a Era de Ouro de Hollywood. É um filme romântico (com dose de comédia e drama) que tem números musicais. Impecáveis, por sinal.

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A história é de uma banalidade gritante. Rapaz encontra garota e, após desentendimentos, os dois se apaixonam. Quantas vezes você já viu essa mesma história sendo contada? La la land faz exatamente isso, de uma maneira muito própria. Mas nada, vale dizer, é original. As cores saturadas, por exemplo, são de clássicos como O mágico de Oz … E o vento levou. Aos 31 anos, o prodígio Chazelle foi lá atrás para filmar a história (tanto que há ecos de Cantando na chuva, Os guarda-chuvas do amor, entre outras produções). O filme foi rodado em CinemaScope, um formato utilizado pelo cinema de Hollywood até os anos 1950. A maneira como o cineasta costura as referências - sem jamais trai-las - é que faz com que o longa-metragem seja único. Chazelle trouxe consigo um elenco impecável - Emma Stone e Ryan Gosling são adoráveis juntos, mesmo longe de serem exímios cantores e dançarinos - e
cenários diferentes.

A Los Angeles dele passa ao largo dos lugares comuns. Entre as locações que chamam a atenção, estão aquelas que dialogam com o próprio cinema, como o Rialto (histórica sala criada em 1925 que fechou em 2007), o chamado The Lighthouse Cafe (um reduto jazzístico dos anos 1950 que recebeu nomes como Miles Davis e Chet Baker) e o mural You are the star, na Calçada da Fama, que destaca imagens de Marilyn Monroe e Shirley Temple, entre outros célebres.

A abertura do longa já tira o fôlego. Num engarrafamento de uma das freeways que marcam o Sul de Los Angeles, um grupo de pessoas deixa o carro para uma coreografia ao som de Another day of sun. A cena foi filmada em um coreografado (e aparente) plano-sequência. A referência mais imediata é a dos alunos de Fame, musical que marcou a década de 1980. Somente ao final da cena, Sebastian (Gosling) e Mia (Stone) se encontram. Ele é um pianista que sonha em ter um clube de jazz nos moldes tradicionais. Está num conversível antigo, tentando ouvir jazz numa fita cassete que não para de enrolar. Ela, aspirante a atriz que
paga as contas como atendente do café de um estúdio, está num carro comum, ao celular, tentando passar o texto de mais um dos testes que tem pela frente.

O encontro é rápido, nada promissor (um dedo médio marca a despedida) e ocorre durante o inverno. La la land, por sinal, se desenrola ao longo das quatro estações do ano (isto explica o infame subtítulo que o filme ganhou no Brasil). No período desses meses, os dois se encontram e se apaixonam. Querem, basicamente, a mesma coisa: viver da própria arte, sem nunca trair as convicções. Algo um tanto improvável para os dias atuais, um cético diria.

Mas é neste ponto que La la land se distingue. Brinca com o passado com respeito, sem nostalgia. No entanto, coloca-se como um filme do agora. Há uma fala de Sebastian que resume bem esse sentimento. "('Vocês', diz ele, referindo-se aos que vivem Los Angeles) Veneram tudo, mas não valorizam nada". La la land, de certa maneira, tenta mudar essa perspectiva.

Trama dá recados sutis

(por Silvana Arantes)

Depois de ser coberto por uma avalanche de elogios e prêmios e se tornar o filme incontornável da temporada, La la land começa a conhecer o outro lado da fama - a crítica impiedosa. Por ser despudorada declaração de amor a Hollywood, o longa vem sendo apontado por críticos como egocêntrico, alienado, autoelogioso, cabotino, trivial e uma série de adjetivos que traduzem desdém e um certo rancor. Injustiça.

La la land é, sim, um filme apaixonado pela máquina de sonhos que é a indústria cinematográfica norte-americana, a despeito de reconhecer que as engrenagens não raras vezes ferem (sem remorsos) os sentimentos de quem lida com a máquina pelo lado de dentro. Mas o longa de Damien Chazelle tem o mérito de amar Hollywood pelas razões certas, ou seja, pela ambição de transformar uma expressão pessoal em arte e não pelo cinismo caça-níquel de determinadas fórmulas.

O olhar do diretor está claro na homenagem que o filme faz a Casablanca (1942). Os sinais estão dados desde o início, quando se nota (seria impossível não notar) um pôster de Ingrid Bergman, a protagonista do clássico de Michael Curtiz, decorando o quarto da aspirante a atriz Mia (Emma). No início de seu enamoramento por Mia, Sebastian (Ryan) pergunta a ela "quem é o seu Bogart?".

Entre as frases que o longa de Curtiz inscreveu definitivamente na história do cinema - além de "Play it again, Sam" e "Sempre teremos Paris" - está "I'd bet they're asleep all over America" (algo como "Eu apostaria que, nos Estados Unidos, todos estão dormindo"). Trata-se de uma resposta de Rick a uma pergunta sobre o fuso horário, mas pode ser interpretada como uma crítica - sutil, elegante e subliminar - ao posicionamento dos norte-americanos em relação ao conflito e um recado de Curtiz de que, apenas insinuando, às vezes se diz muito.

La la land também manda recados sutis, como "um brinde aos tolos que sonham". E também é um filme sobre a renúncia, lançado na transição entre a Era Obama e a Era Trump. Defender essa virtude e afirmar a beleza do gesto de abrir mão de uma satisfação pessoal em nome do bem alheio não deveria soar fútil. Talvez seja a mensagem certa para a época.

Assista ao trailer do filme:



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