Televisão Nova temporada do Brasil Adentro retrata o cenário musical de Pernambuco 'Confesso que me senti fazendo doutorado em cultura brasileira durante as gravações', diz Charles Gavin, apresentador do programa

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/01/2017 19:26 Atualizado em: 30/01/2017 19:41

Alceu Valença é um dos entrevistados do programa. Foto: Canal Brasil/Divulgação
Alceu Valença é um dos entrevistados do programa. Foto: Canal Brasil/Divulgação
Luiz Gonzaga, manguebeat, frevo, maracatu. Há muito do que se falar sobre a a música de Pernambuco. O mosaico sonoro faz parte da segunda temporada do Brasil adentro, que estreia nesta segunda-feira, às 19h (horário local), no Canal Brasil. Depois do primeiro ano, voltado para a musicalidade paraense, o programa comandado pelo ex-Titãs Charles Gavin (O som do vinil) - que divide a direção com Geraldinho Magalhães, Paola Vieira e Lula Queiroga - entrevistou artistas do estado de diferentes gerações e gêneros. Uma imersão cultural, o primeiro dos cinco episódios destacará a importância do frevo.

A estreia reúne depoimentos de Spok, Maestro Forró, Zé da Flauta e Claudionor Germano. Ainda no episódio, o cantor e compositor Edu Lobo explica a nomenclatura do gênero musical a partir da origem. Em outros episódios, o programa ressalta a obra de Luiz Gonzaga, Jacinto Silva e Dominguinhos, além de Alceu Valença, Robertinho de Recife e Gerado Azevedo e do movimento manguebeat. Silvério Pessoa, Siba e DJ Dolores estão na lista extensa de entrevistados.

O apresentador acompanha a produção musical de Pernambuco desde cedo, quando ainda era estudante. Agora com uma bagagem mais profunda, ele exalta as fases principais no cenário nacional. "Luiz Gonzaga: a música popular brasileira não seria o que é sem ele. Alceu Valença e Edu Lobo: a MPB não seria o que é sem eles. Chico Science & Nação Zumbi: a música pop brasileira não seria o que é sem eles", crava Gavin, em entrevista ao Viver.

Ele destaca o relato de Geraldo Azevedo sobre a tortura sofrida no período militar e a visão de Maestro Forró sobre o ensino e estudo de música. "Temos que ter um método nosso e não reproduzir aquele que foi inventada na Europa", comenta. 

Entrevista // Charles Gavin - diretor

Você defende a descentralização de produções na televisão aberta e por assinatura. Brasil adentro tem influência disso?
Conheço bem o Brasil. Foram 25 anos na estrada com os Titãs, viajando e fazendo shows em todos os lugares possíveis. A extraordinária diversidade cultural de nosso país nos marcou e nos influenciou o álbum Õ blésq blom, de 1989, com a participação dos cantadores da praia de Boa Viagem, Mauro e Quitéria. Uma consequência disso. A minissérie Brasil adentro defende essa mentalidade: a de que precisamos conhecer e se relacionar com a exuberante produção cultural que acontece fora do eixo Rio-São Paulo. Nossa autossustentabilidade cultural passa por essa questão. Os núcleos que trabalham nas grades da programação de nossa televisão, aberta e por assinatura, precisam criar espaços para que esse Brasil seja mostrado e conhecido. É uma questão premente, não podemos mais protelar.

Com as mudanças trazidas pela Lei da TV Paga (12.485/2011), você enxerga algum tipo de efeito nesta questão?
 A Lei da TV Paga destacou questões importantíssimas. É preciso defender nosso mercado, criar condições para que a produção nacional se desenvolva, se torne mais competitiva, mas com uma cara própria, original. É o que outros países fizeram há muito tempo. E acho que os efeitos mais profundos dessa lei de 2011, no que diz respeito à produção fora do eixo Rio-São Paulo, ainda estão por vir.

Diante do cenário musical prolífico de Pernambuco, foi difícil catalogar os nomes de entrevistados de Brasil adentro?
Prolífico é um adjetivo que define bem o cenário musical pernambucano. Não é fácil acompanhar a produção que existe aí nos dias de hoje. Mas eu tento... São muitas bandas, cantores e compositores novos que se lançam todo mês, não são? Bem, fato é que eu venho ouvindo a música de Pernambuco desde meus tempos de colégio, nos anos 1970, já no primeiro LP de Alceu Valença, e seguindo depois, na faculdade, com os fantásticos discos do Quinteto Armorial. Nos anos que se seguiram, esse universo não parou de se expandir. Vieram ainda Ave Sangria, Quinteto Violado e Geraldo Azevedo, entre tantos outros. Nosso objetivo inicial era elaborar um painel básico da música de Pernambuco da década de 1950 até os dias de hoje.

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