Música

MC Troinha é nova sensação do brega recifense

Com média de 12 shows por semana e novo DVD no mercado, MC do Alto José do Pinho encontra sucesso na mistura entre brega-funk e arrocha

Publicado em: 18/01/2017 20:59 | Atualizado em: 08/01/2021 17:42

Troinha acompanha a elaboração das coreografias, assinadas pelo bailarino Jamerson, e escolhe o próprio figurino (Foto: YouTube/Reprodução)
Troinha acompanha a elaboração das coreografias, assinadas pelo bailarino Jamerson, e escolhe o próprio figurino (Foto: YouTube/Reprodução)


Pelas ruas do Alto José do Pinho, na Zona Norte do Recife, onde nasceu e vive, Troinha distribui autógrafos, posa para fotos, convida a vizinhança para os próximos shows. Não sobe ao palco menos do que 12 vezes por semana, emendando duas, três apresentações por noite das sextas aos domingos.

Meninos correm pelos arredores da casa dele usando gorros, copiam seu estilo, querem ver de perto o MC. A peça, vendida nas esquinas, virou moda na comunidade onde os hits de brega-funk e arrocha emplacados pelo pernambucano não param de tocar. O repertório do DVD Arrocha com Troinha, disponibilizado neste mês na internet, é o mais “estourado” das últimas semanas pelas ruas do bairro.

“Não tem receita. Primeiramente, é obra de Deus. Depois, fruto de muito trabalho. São mais de dez anos na ativa até pegar o pique que temos hoje”, avalia Troinha, que cumpre agenda acompanhado por cinco pessoas - quatro dançarinos e um DJ. As coreografias são criadas pelo bailarino Jamerson, e as batidas, pelo DJ Acioly. “São duas mulheres e dois homens executando os passos, Jamerson é responsável por afinar a dança entre eles”, explica o intérprete de 26 anos.

Foi no Alto José do Pinho que ele, registrado Arthur Felipe da Silva Alves, virou MC Troia há 13 anos, época em que decidiu fazer carreira sobre os palcos. Era adolescente, precisava de dinheiro e cobiçava popularidade: resolveu que a música lhe garantiria os dois. A primeira providência foi o nome artístico: escolheu Troia, codinome usado para assinar pichações pela cidade, inspirado no filme homônimo lançado em 2004. “Eu gostei de como soava o título do filme, achei interessante. Precisava de um nome fácil, com poucas letras. Da pichação, levei para a música. O diminutivo veio depois. Me apelidaram Troinha, uma forma carinhosa, e o apelido pegou”, lembra.

 (Foto: Facebook/Reprodução)
Foto: Facebook/Reprodução


Hoje, aos 26, Troinha é atração principal em festas no Clube Atlântico, em Olinda, Clube Português do Recife, na Zona Norte da cidade, e Ostreiro, na Zona Sul. Está “estourado” junto ao público de diferentes classes, faz questão de sublinhar isso. Das mais de 50 apresentações mensais, garante o sustento da família e reverte o lucro dos shows beneficentes para melhorias na comunidade onde vive com esposa e um filho. “Ela fica invocada, mas entende o carinho das fãs, sabe que esse é meu trabalho. O meu filho é pirado no que eu faço, já conhece as letras que eu ainda nem lancei”, conta. Aos oito anos, Bruno Riquelme colaborou com o pai em Senta no colinho do papai, um dos hits emplacados por Troinha no brega-funk - gênero pelo qual lançou os primeiros discos independentes, antes da migração para o arrocha.

“Minha raiz é o brega, e o brega é a música do Recife. Quem não gosta de brega é porque não conhece ou não é daqui. Não adianta lutarem contra, é isso que a gente é, é do brega que o recifense é feito. Quanto mais criticam, mais força a gente tem”, diz Troinha. O arrocha, porém, lhe pareceu mais popular nos últimos anos: pôs de lado o brega e o bregafunk para articular o CD Arrocha com Troinha, agora desdobrado em DVD. “Neste ano, pela primeira vez, não vou brincar o carnaval. É só trabalho. Quem está no poder nem sempre leva em conta o gosto do povo, mas a gente está fortalecido. Brega e arrocha tocam em todo lugar da cidade. O povo quer, tem muito show pra fazer", diz ele, em referência à exclusão dos dois ritmos de uma convocatória para o carnaval de 2017 feita pelo governo do estado - a gestão criou o tópico MPB e baniu dele os gêneros pagode estilizado, forró eletrônico e estilizado, arrocha, suingueira, funk e brega.

ENTREVISTA - Troinha, cantor de arrocha e brega-funk

Já sentiu algum tipo de resistência no meio musical por cantar brega, brega-funk e arrocha? Como lida com isso?

O preconceito existe, o brega sofre muito com isso. Muita gente se sente superior e não aceita o nosso som. Mas o brega é cultura, é do povo, é o que querem ouvir. A gente só precisa de uma oportunidade para mostrar quem a gente é. Eu fico triste, mas busco forças, fico mais instigado para lutar pelo meu espaço. Não somente eu, mas todos do brega. A gente quer trazer felicidade para o nosso povo. Queremos vencer o preconceito, mostrar o som da periferia em toda parte da cidade. Cabe à gente dar força ao movimento.

Como desenvolve as letras? A que você credita a popularidade delas?
As pessoas gostam porque elas se veem ali. Eu me inspiro no que acontece comigo, com meus amigos, vizinhos... Tem música que eu componho para o funk e estoura no brega. Tem música que está estourada em outros gêneros e eu trago para o arrocha, ela estoura mais. As músicas caem no gosto do povo por isso. Eu presto atenção no que está acontecendo com as pessoas, com o mundo. Eu vejo qual é a onda, o que está rolando, e me empenho em escrever sobre isso.

E seu estilo? Como define figurino, penteado, aparência?
Meu estilo é feito por mim mesmo. Faço tudo de última hora. Pego uma camisa, depois uma bermuda que eu ache que combina. Às vezes dou escova no cabelo, outras vezes eu jogo uma touca ou chapéu. Eu mesmo escolho e compro tudo. Eu fico ligado na moda, mas prefiro o que está fora de moda, porque é mais real. Porque ninguém usa, só eu, então a moda é minha. Meus gorros, por exemplo, os meninos no Alto usam, é moda minha. Tenho fãs que se vestem exatamente como eu. Eu sempre sonhei com isso. Sempre quis que viajassem no meu estilo, que me dessem moral. As pessoas me dão moral agora, sou muito feliz por isso.



>> Trechos

Balança
Esse passo é envolvente / Ninguém vai ficar parado
Esse é o hit novo / mais tocado do pedaço
Essa p**** pega mesmo / É o tal do balança, balança
E no toque do solo / meu corpo entrou na dança
Balança, balança, balança, balança

Sinto sua falta
É na madrugada / em que o silêncio grita teu nome
Em meus pensamentos
Eu chego a pensar que vou te perder / O que seria de mim sem ter você? Revejo as fotos dos nossos sorrisos / Os bons momentos felizes contigo

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